A Grécia tem estado no centro das atenções de todo o mundo, e dele não vai conseguir afastar-se. Sobretudo porque vai continuar sem encontrar meios para ultrapassar os seus problemas. A vitória da Nova Democracia não vai proporcionar a via para esses meios. Para falar claro, o que está a asfixiar a Grécia, melhor dito, a asfixiar o povo grego, é a pressão da UE e da zona euro. Quem tiver dúvidas leia a crónica do correspondente do El País em Atenas, Enric González, Europa pone una presión abrumadora a un país condenado a sufrir, enviada na noite de 16 para 17, portanto ainda antes das eleições. Agora que se conhecem os resultados das eleições, é claro que os gregos (uma parte deles, os suficientes para dar a vitória a Samaras) cederam à pressão. É óbvio que venceram os principais responsáveis pelo estado em que o país se encontra, e não será difícil prever que não vão alterar os seus procedimentos.
O grande erro ao nível europeu foi deixar a Alemanha tomar uma preponderância tão grande na sua economia e na política. Para os chamados países periféricos, com economias mais débeis, que negociaram mal a adesão à UE, com grandes clivagens sociais, a situação é desastrosa. Mesmo a Itália e a Espanha não conseguem resistir. A Alemanha e os serviços da União Europeia e da zona euro agarram-se às políticas de austeridade que impedem o crescimento económico, quando o facto é que a Alemanha só conseguiu atingir o actual grau de prosperidade graças a não cumprir regras que hoje quer impor aos outros, a ter evitado a política de desindustrialização derivada das fantasias dos promotores da globalização (onde param eles?), ao peso que tem nos mecanismos da EU e à imagem que consegue difundir sobre si própria. A Alemanha é que é o grande problema da Europa, e não a Grécia ou Portugal. Os grandes problemas destes derivam das classes dominantes, que os governam tão mal, e defendem a todo o transe, e usando todos os pretextos, a concentração da riqueza e as diferenciações sociais.
A Grécia vai continuar cheia de problemas. Não vai conseguir ter um governo estável. Talvez o conseguisse com o Syriza, mas este não quer nem pode aceitar formar governo com os governos que levaram o país ao abismo. Se aceitasse uma coligação com a Nova Democracia e o partido Socialista, acabaria enrolada nas políticas de austeridade. A Europa tem a chave para a saída, que é acabar com a austeridade, mas não a quer usar, porque obedece à alta finança que quer a austeridade, mais para manter privilégios do que por qualquer outro motivo. Só quando a crise bater à porta da Alemanha, é que talvez as coisas mudem. Mas nessa altura a chamada ideia da Europa, onde estará?
Os países periféricos pertencem à Europa por imposições da geografia e da história. É na procura da solidariedade das classes trabalhadoras e dos desfavorecidos em geral, em todo o continente, na exigência de reformas reais (nacionalização da banca, serviços públicos para todos) que poderão encontrar o caminho para sair da presente crise. E na prevenção dos nacionalismos de direita, e na abolição das discriminações, essenciais para os povos não se sentirem enganados.