CRACIAS – por Magalhães dos Santos

Num dicionário apropriado, procurei em –cracia e deparou-se-me uma lista de 32 (trinta e duas) –cracias.

Analisando-as (sem grande rigor…) ficou-me a impressão de que esse elenco poderia ser reduzido, uma vez que algumas dela podem muito bem acolher-se debaixo do mesmo teto.

Mas vamos ver algumas que serão, porventura, menos conhecidas.

Eu, por exemplo, nunca tinha ouvido falar de oclocracia, que é o exercício do poder ou do governo pela multidão, pela plebe. Interpreto estes multidão e plebe, como populaça, ralé, escumalha, e assusto-me só à ideia.

Dulocracia – de que só tomei conhecimento por esta consulta, é poder ou governo dos escravos. Por razões muito semelhantes às anteriores, também não estou interessado

Escravocracia, é um hibridismo – a primeira parte é de origem latina, a segunda é de origem grega –  que, ao menos a mim, me induziu em erro. Porque pensei – pelos vistos erradamente – que seria o mesmo que a anterior: poder dos escravos. Mas não! Escravocrata é [Q1] o que é partidário da escravidão.

Este odor já não me é desconhecido… Mas desagrada-me francamente. A propósito: são preferíveis as formas escravismo e escravista às afrancesadas (galicismos) esclavagismo e esclavagista. Parecem conceitos passados, “que já não se usam; arcaicos, ultrapassados”, mas… olhem que não! Olhem que não!

Acracia parece fácil de deduzir. Mas traz alguma surpresa. É também termo médico, significando: debilidade, falta de forças, o que se compreende, uma vez que krátos, além de significar autoridade, também significa poder. E poder é entendível também como força física. Mas é mais geralmente entendido como o poder político, exercido – bem ou, mais normalmente e desgraçadamente, mal – por gentinha que ou chegou lá por meios desonestíssimos, ou por gentinha que se apoderou dele – do poder – por meios também desonestos mas com uma capinha ilusória de honestidade. Isto que estou a dizer baseia-se apenas no que vou vendo-sentindo neste país em que nasci. Pelos países africanos, islamitas, americanos, outros assim modelares…não sei…

Acracia é palavra constituída por elementos gregos: o já nosso conhecido cracia, poder, governo, e o prefixo a- negativo, indicativo de privação (por isso chamado alfa privativo),  de falta de.

Acracia é, pois, “sistema político que nega obediência a qualquer autoridade; anarquia”. Julgo que, se alguma vez esteve em vigor, foi por muito pouco tempo. Quando Aristóteles disse que “o homem é um animal social”, queria significar que “o homem é por natureza um animal político”. E o Prof. Doutor José Adelino Maltês ensina-nos: “A razão da distinção do homem face aos outros animais está no facto de que, ontologicamente, o homem é único animal que possui a palavra”. “O único animal que razoa, que é um animal racional, como dirão os romanos. O único animal comunicacional, como hoje diríamos”. “Graças a ela o homem exprime não só o útil e o prejudicial, como também o justo e o injusto”.. “É com base nestes pressupostos que Aristóteles proclama: o homem é o único dos animais que possui a palavra”.”É especificidade do homem, relativamente aos outros animais, ser o único que tem o sentimento do bem e do mal, do justo e do injusto e doutras noções morais e é a comunidade destes sentimentos que gera a família e polis”.

 (Estas palavras levam-me a pensar se estamos a ser governados por seres humanos, ou por simiescas imitações…)

Já cheguei quase ao limite aconselhável de espaço/carateres e ainda me falta tanto para dizer a respeito de –cracias!

Ginecocracia… “governo feminino; predomínio feminino em administração pública”. Estou em crer que, muitas vezes, as mulheres não governam

ostensivamente, muito visivelmente. Mandam os filhos para o governo e… antes lá estivessem elas próprias. Mesmo assim, são muito invocadas.

 

Canalhocracia, “poder ou preponderância da canalha”. No Norte do País, esta palavra tem, também, o significado não ultrajante de miudagem, criançada. Dessa não viria mal ao mundo. O pior é que a canalha que toma conta do poder é graúda, adulta, é, por ordem alfabética, canalhada, cáfila, choldra, cambada, corja, joldra, malta, matilha, pandilha, quadrilha, récua,  súcia. Já agora, que se gasta, é gentalha vil, reles, infame, abjeta; velhaca, infame, desprezível. Não vai por ordem alfabética, mas ninguém se importa.

Burocracia – Do piorio! Mas, atenção! Não estou a meter-me com o Funcionalismo Público, que tão injustamente e estupidamente tem sido agredido nestes últimos tempos! Não! Refiro-me a outra definição – pejorativa – que transcrevo do Houaiss: tal sistema ou tal corpo de funcionários enquanto estrutura ineficiente, inoperante, morosa na solução de questões, falta de iniciativa e de flexibilidade, indiferente às necessidades das pessoas e à opinião pública, tendente a complicar trâmites e a ampliar sua área de influência e seu poder, com consequente emperramento ou asfixia das funções organizacionais que são a sua razão mesma de ser”.

Estes é que são os autores da frase célebre (se ainda não é, passa a ser…): “Para que havemos de simplificar, se podemos complicar?!”

Não tenho à mão os elementos que me permitam confirmar, mas quase posso garantir que buro(crata) e burro (nome do quadrúpede) são da mesma família. Pelo que me é dado ver (mais sentir, no dia-a-dia), nada de espantar!

(Há uma outra –cracia que diz praticamente o mesmo, mas julgo menos conhecida (embora igualmente perniciosa) é papelocracia: sistema, prática burocrática que exige muitos papéis e documentos).

Uma –cracia que muito me desiludiu foi aristocracia! Porque o elemento áristos significa excelente, o melhor. E eu logo a imaginar um governo dos melhores, dos excelentes, coisa que desconheço por completo! Olha eu, olha nós a sermos governados, dirigidos por gente séria, por gente capaz, por gente competente! Tchhhhhhh! Era bom de mais para ser verdade e o pobre quando vê muita esmola, de tão pouco – ou de tão mal – habituado… desconfia.

O HOUAISS dá-me cada desgosto. Olhem só para estas definições:

“organização sociopolítica baseada em privilégios de uma classe social formada por nobres que detém, geralmente por herança, o monopólio do poder;

“grupo de privilegiados que, nem sempre por merecimento, exerce supremacia em diversos domínios da vida social, intelectual, cultural etc.”

Senhores Passageiros, Caros Companheiros da Tripulação, não se sentem frustradecos, como eu estou?

Gerontocracia, dá-me o dicionário duas informações: gestão ou administração exercida por anciães; grupo social dominante constituído por indivíduos senis ou de autoridade ultrapassada.

De governos de anciães (ou ansiões ou ansiãos) já tivemos a nossa conta, mas estamos a chegar à deplorável conclusão  de que o defeito não estava só na ancianidade, nos muitos anos de vida dos desgovernantes. Ao que se vê, podem ter menos ou pouco mais de cinquenta anos de idade e agirem e legislarem cabeçudamente, casmurramente, obstinadamente como se a senilidade já lhes tivesse tomado conta da cabeça e, pior, do coração.

Não, a coisa não está na idade, demasiada ou curta!

Plutocracia e milionocracia… Doprimeiroantepositivo, do gr. ploûtos,ou ‘riqueza’; ocorre já em vocábulos originalmente gregos, como pluto (ploûtos) e plutocracia (ploutokratía)”. Se lhes  cheira a dinheiro, lamento muito a pestina,  mas… é assim! Ainda estranham? Quem-que é que há anos – desde sempre -, sem estar no Governo (gastei uma maiúscula mal gasta…), está nele, em cada pelo da alcatifa, em cada azulejo  do quarto de banho, em cada pingente das salas de reuniões… sem se comprometer?… Milionocracia – outra palavra híbrida! Mas como eles se reproduzem! Também há timocracia – sistema de governo em que preponderam os ricos. Os Amorins, os Soeiros dos Enjos,  os Belmidas, os Espíritos Malignos, livram-se de lá estarem, de lá entrarem. Pra quê? Têm os lacaios que lhe fazem o joguinho todo! Já têm muito onde sujarem as mãos, pra quê emporcalharem-nas mais?…

Pornocracia, sem ofensa para as mulheres dignas desse nome, remeto para a ginecocracia. Muito presente está o prostituedo, não no elenco governamental mas na governação, predominantemente masculina (não digo macha).

De trinta e duas –cracias, falei, brevissimamente e sem as aprofundar como elas justificam,  de treze.

Os Senhores Passageiros e os Prezados Companheiros de Tripulação já deram conta de que, das várias que faltam, avulta a tão falada, tão badalada, tão abandalhada democracia (com d minúsculo, que a que temos e a maioria das que sabemos existirem não merecem letra grande).

Acredito e desejo que em alguma parte do Mundo esteja em vigor um sistema político que mereça o nome de Democracia. De quase duzentos países que há, algum haverá, cos diabos, onde ela esteja em vigor! Onde ela não seja apenas o etimológico Poder do Povo, mas seja essencialmente o Poder exercido a favor do Povo. Onde o estribilho atirado à cara não seja simplesmente “um homem – um voto”. Com esse princípio tão redutor e simplista… estamos como estamos, está-se como se está!

Vou dizer (mais) uma barbaridade que mais do que provavelmente me alienará leitores e possíveis simpatias:

Em certos clubes de futebol, quando há eleições, os sócios mais antigos, com quarenta, cinquenta, sessenta anos de filiação, têm direito a mais votos do que os muito mais recentes.

Será crime impensável e liminarmente condenável fazer uma espécie de “transferência” desse espírito para as eleições políticas, autárquicas, legislativas, presidenciais? Um analfabeto relapso deverá ter tantos votos como um doutorado, como um cientista, um investigador? Um Miguel Ervas deverá ter tanto peso nas urnas como um Eduardo Lourenço?

Que essa “distinção”, essa diferença não tenha NUNCA por base a fortuna, o número de euros (ou  de qualquer outra moeda que venha substituir esta moribunda)! Os Soares dos Anjos, os Belmidas, os Espíritos malignos que vagueiam pelo mundo para perdição das almas, não  devem ter qualquer peso suplementar na hora de escolher quem nos vai governar! Disso estamos nós fartos, refartos, mais do que fartos!

Esta minha modesta, incipiente ideia não merecerá uma reflexão positiva? Que lhes parece, Senhores Passageiros, Caros Companheiros de Tripulação?

  1. 1.    acracia,
  2. 2.    antiaristocracia,
  3. 3.    antidemocracia,
  4. 4.    aristocracia,
  5. 5.    aristodemocracia,
  6. 6.    autocracia,
  7. 7.    burocracia,
  8. 8.    cafeocracia,
  9. 9.    canalhocracia,
  10. democracia,
  11. 11.  dulocracia,poder ou governo dos escravos
  12. 12.  escravocracia,
  13. 13.  estratocracia,militarismo da vida política; governo militar; 2    preponderância, hegemonia do militarismo
  1. etocracia, sistema ou forma teórica de governo fundada sobre os usos e regras de conduta considerados válidos pelo grupo social
  2. fisiocracia, doutrina econômica e filosófica do sXVIII que se baseia no conhecimento e no respeito às leis naturais, considera a terra como única fonte de riqueza e defende o liberalismo econômico
  3. 16.  gerontocracia,
  4. 17.  ginecocracia,
  5. 18.  mediocracia,
  6. 19.  mesocracia,governo exercido pela classe média; mediocracia
  7. milionocracia,a importância ou o poder do dinheiro; 2           o predomínio dos ricos ou do dinheiro na sociedade ou no governo

 21.  oclocracia,exercício do poder ou do governo pela multidão, pela plebe

 22.  oligocracia,aristocracia pouco numerosa

  1. 23.  papelocracia,sistema, prática burocrática que exige muitos papéis e documentos
  2. pedantocracia, dominação dos pedantes; influência do pedantismo
  3. plutocracia,1      a influência ou o poder do dinheiro; argentarismo; 2           Rubrica: sociologia. exercício do poder ou do governo pelas classes mais abastadas da sociedade; 3     Rubrica: sociologia.
    1. a.    a influência dos ricos ou do dinheiro na sociedade ou no governo
  4. pornocracia,n substantivo feminino governo executado com influência de cortesãs

 27.  sociocracia,forma de governo em que a soberania é exercida pela sociedade como um todo

  1. 28.  talassocracia,poderio, império de uma nação sobre o mar
  2. 29.  tecnocracia,sistema de organização política e social fundado na supremacia dos técnicos
  3. 30.  teocracia,            sistema de governo em que o poder político se encontra fundamentado no poder religioso, pela encarnação da divindade no governante, como no Egito dos faraós, ou por sua escolha direta,                                                                  como nas monarquias absolutas; 2   Derivação: por metonímia. o Estado que tem essa forma de governo

 timocracia, sistema de governo em que preponderam os ricos

  1. vulgocracia; 1      governo em que o povo exerce a soberania; democracia; 2 predomínio da classe popular sobre outras  Ex.: com a revolução, instaurou-se uma v.

a maioria desses comp., originados a partir do sXIX e e cujo surgimento intensificou-se no sXX, é de palavras ad hoc e não raro pejorativas

Pensenologia: o holopensene pessoal da conviviologia; os morbopensenes; a morbopensenidade; os nosopensenes; a nosopensenidade; os patopensenes; a patopensenidade.

Fatologia: a demagogia; as autocorrupções bolorentas e fossilizantes; as lavagens subcerebrais; as irracionalidades humanas; a demagogia social; a demagogia belicista; a demagogia assistencialista; a demagogia publicitária profissional; a demagogia pedagógica; o embotamento consciencial; a análise tendenciosa; a disfuncionalidade política; a antidemagogia explícita; a demagogia marxista fossilizadora; a demagogia nazista patológica; a demagogia clerical pedófila; o caudilhismo populista; o furor populista do chavismo na Venezuela; a milonga populista; a plataforma populista disfarçando a corrupção do lulismo no Brasil; as manipulações interconscienciais; os fascínios de grupo; a procura paroxística da fama a qualquer preço; o vinho da ovação; as interprisões grupocármicas seculares.

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