Que esconde a nomeação de Vittorio Grilli pelo Presidente do Conselho italiano Mario Monti ? Por François Asselineau.
Selecção, tradução e nota de leitura, por Júlio Marques Mota
Parte II
(continuação)
O GOLPE DE ESTADO DISFARÇADO DE NOVEMBRO DE 2011
Em poucos dias, e enquanto se passavam ao mesmo tempo manobras semelhantes na Grécia para expulsar o primeiro-ministro Papandreou, Mario Monti foi “nomeado senador vitalício” pelo Presidente da República Italiana Giorgio Napolitano.
(Este tipo de nomeação por “decisão do Príncipe”, sem eleições e para a vida, é uma das disposições estranhas, previstas na constituição da República Italiana).
Na sequência desta nomeação, Mario Monti foi “abordado” (belo eufemismo para dizer: “imposto”) para suceder a Silvio Berlusconi no cargo de Presidente do Conselho de Ministros e para formar um “governo de técnicos”.
De imediato, todos os media que vivem na babugem dos ultra-europeistas e que escapavam ao controle de Silvio Berlusconi, juraram fidelidade a este homem providencial, que 99,9999% dos italianos não conheciam nem de Eva nem de Adão.
O golpe de estado sob aparências legalistas foi realizado sem problemas.
A 12 de Novembro de 2011, Berlusconi cedeu aos meios de comunicação e às “combinações “ politiqueiras urdidas no Parlamento italiano: finalmente apresentou o seu pedido de demissão . No dia seguinte, o chefe do Estado confiou a Mario Monti a tarefa de formar um governo. E este teve o fabuloso desplante de só aceitar “sob reservas” e assumindo ares de ter aceite a contra-gosto.
A ascensão do triste Senhor GRILLI
A situação de desconfiança dos mercados para com a Itália era tal, quando entrou no Palazzo Chiggi em meados de Novembro passado, que Mario Monti decidiu acumular o cargo de chefe de governo (“Presidente do Conselho”) com o de ministro das Finanças.
No entanto, é este último posto que ele agora, de repente, decide deixar, neste este 11 de Julho de 2012 e já passados 8 meses no cargo, e nomeia-o vice-ministro das Finanças Vittorio Grilli em seu lugar.
A ascensão deste último não pode ser explicada pelos seus feitos de armas eleitorais já que também ele nunca se apresentou aos eleitores.
Elte facto também não pode ser explicado por um carisma de fazer cair para trás de encanto pela sua pessoa porque Grilli é um homem que não dá ares de mostrar verdadeiramente a alegria de viver (apresentamos acima uma fotografia sua..).
Por outro lado, a sua ascensão é compreensível desde que se dê uma olhadela para o seu excelente pedigree.
Vittorio Grilli foi sucessivamente :
– Professor de economia na Universidade de Yale (Estados Unidos ) durante 4 anos universitários (de 1986 à 1990),
– Professor de economia au Birkbeck College da Universidade de Londres durante 4 anos universitários (de 1990 à 1994),
– Chefe do departamento de privatizações e análise financeira no Ministério italiano das Finanças, de 1994 a 2000,
– Director-geral do banco de investimento suíço-americano “Crédit Suisse First Boston” de 2001 a 2002,
– Contabilista-geral do Estado italiano de 2002 a 2005,
– Director do Tesouro de 2005 a 2011,
– antes de ser nomeado vice-ministro das Finanças no passado mês de Novembro por Mario Monti.
GRILLI, quintessência do apparatchik europeista
Nas suas últimas funções de director do Tesouro, Vittorio Grilli foi o mais próximo colaborador do “lembrado ” Tomaso Padoa-Schioppa, ministro das Finanças italiano (2006-2008), hoje falecido.
Os auditores das minhas aulas certamente se lembram dele até porque eu cito Padoa-Schioppa em muitas delas, pois ele é autor imortal de um artigo sensacional, intitulado “Les enseignements de l’aventure européenne”,, publicado na revista francesa “Comentaire” nº 87, publicado no Outono de 1999.
Neste texto de antologia do pensamento europeísta, o falecido chefe do novo ministro italiano das Finanças tinha realmente explicado sem rodeios o que é a chamada construção europeia:
“a construção da Europa é uma revolução, mesmo que os revolucionários não são conspiradores pálidos e magros , mas empregados, funcionários, banqueiros e professores. A Europa não é o resultado de um movimento democrático. Ela é feita seguindo um método que poderia ser definido pelo termo de despotismo esclarecido” …
O seu sucessor e émulo, Vittorio Grilli, prova que esta descrição é muito correcta mas não é completamente exacta . Porque se Grilli é um “déspota esclarecido”, que de facto conseguiu este prodígio de ser simultaneamente “empregado, funcionário público, banqueiro e professor”, não deixou contudo de “ ser pálido e magro”.
Quanto ao lado “conspirador”, sei muito bem o que se entende por este termo, mas parece interessante sublinhar que Vittorio Grilli é :
1°)- Membro do conselho de administração do FEEF
Trata-se, como se sabe, do famoso « fundo de apoio do euro » ao qual deverá suceder depois o MEE.
O senhor Grilli está pois muito ligado ao alemão Klaus Regling, director do FEEF que desde há tempos tenho vindo a afirmar que este será possivelmente o futuro presidente do MEE , o que se veio a confirmar ontem .
Presidente do Comité Económico e financeiro da União Europeia (CEF)
Esta Comissão, que não deve ser confundida nem com o sistema europeu de bancos centrais (SEBC), nem com o Eurosistema nem com o Conselho de Ministros “ECOFIN”, nem sequer com o grupo do euro que é um órgão consultivo previsto no artigo 114 do Tratado de Roma (TCE), agora o artigo 134 do Tratado sobre o funcionamento da União Europeia (TFUE).
Composto por representantes dos Estados-Membros, da Comissão Europeia e do BCE, o CEF deve acompanhar a situação económica e financeira da União Europeia, os movimentos de capitais e os pagamentos, prestar aconselhamento às instituições da UE e facilitar a coordenação entre os Estados-Membros e as instituições europeias.
Com os resultados bem brilhantes que se tem estado a ver !
Em qualquer caso, devemos saber que Vittorio Grilli foi Presidente do CEF, na mesma altura em que a Alemanha foi representada por… Klaus Regling. Prova-se pois que entre os eurocratas, tomam-se sempre os mesmos e começa-se de novo.
3°)- Membro do Conselho de Administração do “think tank” de Bruegel
Sr. Grilli pertence ao “think tank” ultra-europeista Bruegel, criado em 2004, e cujo Presidente, de 2005 a 2008, foi nada mais nada menos que … Mario Monti. Que é ainda hoje, de resto, o presidente honorário.