RETRATOS, IMAGENS, SÍNTESE DOS EFEITOS DA CRISE DA ZONA EURO SOBRE CADA PAÍS

Selecção, tradução, montagem e nota introdutória por Júlio Marques Mota

Sobre os burros e os palhaços na política portuguesa, sobre estes enganos

Há por aí umas pessoas a difamarem a qualidade dos nossos políticos, sejam estes Cavaco ou Passos Coelho, por exemplo. De palhaço, um deles, de burro, um outro mas aqui vos damos um exemplo do contrário, de que eles até dão conselhos à Europa. Todos se lembram da zona de conforto em que sugeria aos jovens deste país que se fossem embora, lembram-se do mesmo apelo dado por Passos Coelho. Pois bem a França, do socialista François Hollande decidiu seguir o conselho dos nossos políticos e eis que numa festa  sob o lema Façam a Europa, o equivalente do nosso Instituto de Emprego e Formação Profissional se abrigou no pavilhão da Europa para ajudar os jovens   franceses  a encontrarem emprego na Europa, quando fugirem das  políticas de austeridade que a Troika no silêncio dos gabinetes irá a este país impondo. Simples, àqueles que caluniam os nossos políticos, que lhes chamam de burros ou palhaços, lembrem-se, estes dão lições ao mundo e até aos socialistas!

Júlio Marques Mota

 

Amigos desempregados, façam outra Europa

Eu olhei para este cartaz em que se convida toda a gente a satisfazer-se com a realidade Europa

outraeuropa - I

Eu não tinha dado mais atenção do que a normal ao cartaz até porque se trata de propaganda habitual sobre a União que nos torna mais fortes. Estas repetidas declarações sobre o fazer a Europa, enquanto toda a gente sabe do que foi feito da opinião dos franceses em 2005, por exemplo, tem mais a ver com a propaganda rotineira do que outra coisa.

Mas Gilles, leitor regular, assinala-me um elemento particularmente cínico, que é a participação de Pôle Emploi (o equivalente ao Instituto de Emprego e Formação Profissional) nestas festividades.

Basta procurar um qualquer texto de qualidade sobre a crise para compreender que a União Europeia é muito directamente responsável pela actual crise económica – como por exemplo nesta síntese.

Vejamos a síntese a justificar, de forma rápida, esta afirmação.

  1. Evolução das balanças comerciais

Valor acumulado do saldo das balanças comerciais sobre dois períodos : 1989-1999, um período de  antes do euro, e um segundo período,  este já com o euro, 2000-2010. Isto para a França, Itália, Alemanha, Grécia e Espanha.

outraeuropa - II

No interior de uma área onde se desenrolam as trocas comerciais, a fixidez das taxas de câmbio é, portanto, directamente responsável pela deterioração da balança comercial. A sobrevalorização do euro adiciona-se a este problema de base. Além disso, o financiamento destes défices é o principal responsável pela dívida.

Portanto, não há nenhuma crise da dívida, há uma crise de balanças comerciais . Não há pois nenhum problema grego que seria isolável dos problemas económicos dos outros membros da zona euro.

Dois pontos permitem então concluir definitivamente que o euro é intrinsecamente prejudicial aos Estados que o adoptaram -com excepção da Alemanha, para quem é uma verdadeira martingale. Trata-se de responder aos defensores da actual União que poderiam sugerir que seria suficiente então harmonizar a taxa de inflação para acabar com as crises dentro da área.

Consequentemente os défices da balança comercial (ou dos défices de pagamentos correntes que incluem os serviços) que se acumulam anos após ano , é portanto dívida a financiar.

Para a França, um gráfico pessoal mostra a ligação entre a balança comercial e a dívida da França desde 1980 :

outraeuropa - III

Depois desta pequeníssima síntese voltemos aos festejos.

Que assim seja, Pôle Emploi também convida toda a gente a “festejar a Europa”. E isto, portanto, no contexto das festividades europeias planeadas pela cidade de Paris:

“Conselheiros de Pôle emploi International/EURES estarão presentes sob o pavilhão da Comissão Europeia. Eles irão informar os presentes das ofertas de emprego disponíveis em todos os países membros. Pode-se ter informações sobre os mercados de trabalho, as condições de vida e de trabalho nos países membros e beneficiar de aconselhamento e acompanhamento para a mobilidade.

Aproveite este evento festivo para agarrar uma oportunidade profissional no exterior.”

Surreal: a Europa arruína-nos, é assim mesmo, sob o grande pavilhão Europa somos então convidados a irmo-nos enforcar em qualquer outro lado , mas na alegria e no bom humor : (“haverá um concerto a 10 de Maio de 17h às 22h, com uma programação ecléctica (soul, rock, hip-hop, guitarra acústica, techno) vinda de toda a Europa.”)

O programa termina com o circo Europeu, eis, finalmente, a única tarefa que hoje releva da decência. Desfaçam pois esta Europa, é tudo o que ela merece.

Amis chômeurs, Faites l’Europe!, 5 Maio de 2013, texto disponível em :

http://www.lalettrevolee.net/article-amis-chomeurs-faites-l-europe-117596565.html

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