ALGUMAS REFLEXÕES SOBRE UMA CONFERÊNCIA A QUE ASSISTI NA CULTURGEST, de JÚLIO MARQUES MOTA

Parte II
(continuação)

Mas tem razão em propor a subida de salários bem mais elevada para países como a Alemanha, de altos e vergonhosos excedentes comerciais, a par de uma profunda desigualdade salarial interna.  Um gráfico ilustra a dinâmica do capitalismo europeu e precisamente no pais tomado como o país modelo, a Alemanha.

O excelente gráfico de Olivier Berruyer sobre o modelo alemão : -15% de descida nos salários  para o   1/3 da população mais pobre!

4 Dezembro de 2013

Gráfico cedido gentilmente por Ph. Murer

culturgest - II

Aqui para esta hipótese de Ramaux de forte aumento salarial ser viável deveria ser necessário descrever dentro da política comercial o que haveria a fazer para que a Europa não perca competitividade à escala mundial e que se pare de uma vez por todas com a deslocalização de empregos, nos seus múltiplos sentidos, industrial ou mesmo nos serviços, que de outra maneira se iriam ainda acelerar. Eis pois, uma parte de um capítulo que aqui faltaria. Mas o autor acrescenta que a Alemanha e não só, assim como os neoliberais de todas as matizes gritariam aqui del-Rei e portanto é uma hipótese, no plano dos factos, a excluir. Os alemães não gostariam. Resta então, para Ramaux, uma saída para a Europa: acabar com o Euro. Colectiva ou individual, dissolução ou fragmentação. Supõe-se dissolução, pura e simples. Sendo assim, restaria saber como é que Ramaux encara a saída do euro e seria então o segundo acrescento que aqui falta.

Dos comentários de Ventura Leite sublinho dois: um inegavelmente muito bem colocado, o segundo não tanto, a lembrar o “nosso bêbado da gare” com a sua raiva aos eurocratas. O primeiro argumento parte da hipótese, de que primeiro teríamos de definir o que queremos como Europa e depois, mas só depois, nos deveríamos preocupar com o Euro. Correctíssimo, é um espaço económico que valida e é suporte de uma moeda e nunca é uma moeda que serve de suporte e de validação para um espaço político e económico. Por outras palavras, a criação da moeda é o coroar da integração num espaço político e económico que lhe vai dar suporte, e não é a criação de uma moeda que nos deve levar à criação de um espaço político e económico integrado. E exactamente uma proposta ao invés do que foi feito e que nos levou a este desastre. E por aqui por esta metodologia passava o conceito de  Estado Social defendido por Ramaux. Bela ideia, portanto, boa síntese, melhor ainda. A segunda ideia menos feliz, a lembrar o nosso bêbado do cais da estação dos caminhos-de-ferro, representaria a necessidade de uma grande coligação capaz de dizer à Troika o que pensa o povo português, ou inversamente, o desenvolvimento de forças paralelas aos partidos que se apresentassem em Bruxelas ou em Berlim, para dizer o que pensámos do projecto a seguir. E assim porque os Partidos eram incapazes de se entender e de unir face a Bruxelas. Aqui, o perigo é bem maior, é o de poder constituir uma luta contra os partidos, e é uma esperança em que Bruxelas ouça os discursos dos parceiros sociais. Mas Bruxelas está surda e desde há muito tempo. Eles próprios o dizem; se ouvíssemos os protestos das ruas da Europa, aqui em Bruxelas não se poderia viver, o barulho seria ensurdecedor. Mas ouviriam seguramente se o povo estivesse na rua e se o Estado fascizante imposto por Bruxelas deixasse de funcionar por força dos movimentos sociais, nas ruas, nas fábricas, nos campos nas Universidades, etc. Aí sim, mas disso ele não falou. Mas mesmo assim não seria paralelamente aos partidos pois que alguns deles, os mais significativos para o que aqui nos interessa, estão prisioneiros do mesmo sistema, e terão é que ser arrancados a essa prisão, como é o caso do próprio Partido Socialista e seguirem depois os movimentos da população. Algumas purgas, algumas eliminações de Leopardos que tresandam por aqueles lados, no Rato.

(continua)

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Para ler a Parte I desta crónica de Júlio Marques Mota, publicada ontem em A Viagem dos Argonautas, vá a:

http://aviagemdosargonautas.net/2013/12/19/algumas-reflexoes-sobre-uma-conferencia-a-que-assisti-na-culturgest-de-julio-marques-mota/?preview=true

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