RETRATOS COM HISTÓRIAS – GILBERT BÉCAUD – POR EDUARDO GAGEIRO

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Gilbert Bécaud, 1966 “Ele não tocava nada! É uma fotografia nos bastidores por brincadeira”

A “resistência antifascista” para além da luta clandestina organizada partidariamente, para muitos portugueses fazia-se em “reuniões culturais” onde se ouvia música, se projectavam filmes (O Couraçado Potenkine, por exemplo). Entre um biscoito e um cálice de uísque de Sacavém, recebia-se discretamente um panfleto. Nesses anos 60/70: os “serões na província” eram preenchidos com discos e bobinas com repertórios que se repetiam de Norte a Sul – canções da Guerra Civil  de Espanha, José Afonso, Luís Cília, María Casarés, Jacques Brel, Jean Ferrat, Yves Montand… e por vezes, uma «concessão» a uma ou outra melodia mais comercial. Gilbert Bécaud era escutado nessas reuniões “clandestinas”, não com Et maintenant, mas sim com a romântica guia turística Nathalie. Uma letra politicamente inócua, mas que nos levava a passear pela Praça Vermelha, visitando o Túmulo de Lenine,, .a beber chocolate no Café Puchkine. Em 1964, visitar Moscovo era para um português quase tão complicado como ir à Lua.  Num destes «serões», em 1967, alguém trouxe um discurso de Mikis Theodorakis que passara à clandestinidade. Era um discurso vibrante. Alguns dos presentes tinham estudado grego clássico, mas não compreendiam nada do que Mikis clamava. A sua voz revelava uma tal emoção que aos poucos fomos compreendendo – só podia ser um apelo aos gregos e às gregas para que pegassem em armas e restituíssem a democracia ao solo onde ela nascera. Quando a bobina chegou ao fim, havia lágrimas em muitos olhos. Então, alguém pôs a Nathalie… (CL/MS)

Nota: O texto mais pequeno e em corpo maior, é da autoria de Eduardo Gageiro. O texto mais extenso é da responsabilidade de Carlos Loures e Manuel Simões.

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