EDITORIAL – O fim do jornalismo

Imagem2Uma previsão de que aqui falámos há tempos, fixava em 2041 o limiar a partir do qual os jornais, tal como hoje os concebemos, deixam de existir. Demos conta da preocupação de Miguel Sousa Tavares perante esta sentença ditada pela futurologia. No entanto, e também o dissemos, parece-nos uma previsão optimista, pois, sob muitos aspectos, o jornalismo já não existe.

A extinção dos jornais impressos sobre papel não nos parece ser facto temível, pois todos sabemos que nada existe de eterno e é natural que as novas tecnologias encontrem um suporte material diferente, menos lesivo do ambiente, mais cómodo de manusear. Nada disso assusta, até porque a transição já começou – computadores portáteis, tablets, telemóveis, estão já a dispensar o uso de toneladas de papel, que significam florestas, embora muitas delas plantadas para satisfazer as necessidades da insdústria papeleira. O que assusta é algo de mais profundo que vai numa fase muito adiantada do processo de extinção – o que assusta é o fim de uma espécie de gente que faz falta na luta pela dignidade humana e pelo triunfo dos valores que distinguem o homo sapiens de qualquer outro animal – o que assusta é a extinção dos jornalistas.

Os jornalistas portugueses regem-se por um Código Deontológico que aprovaram em 1993, numa consulta que abrangeu todos os profissionais detentores de Carteira Profissional. Os  três primeiros dos dez pontos que constituem o código dizem que o jornalista deve relatar os factos com rigor e exactidão e interpretá-los com honestidade. Os factos devem ser comprovados, ouvindo as partes com interesses atendíveis no caso. A distinção entre notícia e opinião deve ficar bem clara aos olhos do público. […] deve combater a censura e o sensacionalismo e considerar a acusação sem provas […] deve lutar contra as restrições no acesso às fontes de informação e as tentativas de limitar a liberdade de expressão e o direito de informar. É obrigação do jornalista divulgar as ofensas a estes direitos.

Como tem sido amplamente divulgado, a jornalista Ana Leal, da TVI, foi despedida, não por ter violado o Código Deontológico, mas por lhe ter sido fiel. Uma reportagem sobre o escândalo dos colégios privados, um negócio realizado numa área sensível do tecido social como é o do Ensino, levou a que a direcção da estação dispensasse os seus serviços. Em post autónomo, falaremos do tema. Um caso que não é único e que configura a morte do jornalismo antes de que os jornais desapareçam. As empresas ligadas à Comunicação Social, não querem ter jornalistas ao seu serviço. Preferem ter gente que faça recados. Como se as clínicas de Saúde dispensassem os médicos e contratassem cangalheiros…

 

 

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