RETRATOS, IMAGENS, SÍNTESE DOS EFEITOS DA CRISE DA ZONA EURO SOBRE CADA PAÍS

Selecção, tradução e nota introdutória por Júlio Marques Mota

UMA HISTÓRIA SOBRE LONDRES, SOBRE A GENTE NORMAL, SOBRE A GENTE BEM ESPECIAL

Nicholas Shaxson

Vanity Fair

Abril de 2013

Disponível em http://www.vanityfair.com/society/2013/04/mysterious-residents-one-hyde-park-london

PARTE II
(continuação)

De facto, a ênfase em toda parte está no secretismo e na segurança, desde a existência de salas a responderem à situações de pânico e que são feitas com a mais avançada-tecnologia, equipadas de vidro à prova de bala e equipadas com guardas reformados que foram treinados por forças especiais britânicas. O correio dos habitantes é radiografado antes de ser entregue.

O sigilo estende-se aos meios de comunicação, e muitos dos seus membros, incluindo eu e o London Sunday Times, assim como AA Gill de Vanity Fair, já tentámos chegar á entrada do edifício mas sem o conseguirmos. “O clima é o de um jovem ditador das Arábias “, diz Peter York, co-autor de The Official Sloane Rangers Handbook, obra que as gentes desenfreadas do início dos anos 80 denominam como o guia que documenta os rituais de compra e de acasalamento de uma certa classe de britânicos a esforçarem-se e a reivindicarem a área de compras da parte alta de Knightsbridge, que vai desde o Harrods a Sloane Square, como o seu coração urbano.

One Hyde Park foi construída por dois irmãos britânicos Nick e Christian Candy, juntamente com Waterknights, a empresa internacional de desenvolvimento de propriedade detida pelo primeiro-ministro do Quatar, xeque Hamad bin Jassim al-Thani.

Christian, de 38 anos, um esguio antigo trader sobre matérias-primas, é verdadeiramente a máquina de calcular discreta deste duo enquanto que o seu irmão mais reservado e bem mais cauteloso, Nick, 40 anos, é o homem das relações publicas, homem encantador e que gosta da celebridade. Os Candys não vivem de pequenos gestos. Em Outubro, Nick casou-se com a actriz australiana Holly Valance em Beverly Hills, depois que ela ter anunciado o seu noivado ao expor no twitter uma foto de Nick com um joelho por terra, a propor-lhe casamento, numa praia nas Maldivas. Com tochas por detrás do casal feliz, estava escrita a pergunta QUERES CASAR-TE COMIGO, mas sem o habitual ponto de interrogação.

Desenhado pelo arquitecto Lord Richard Rogers, que também projectou o icónico edifício do Lloyd em Londres, One Hyde Park tem dividido a Grã-Bretanha. Gary Hersham, director da agência imobiliária de topo de gama Beauchamp Estates, diz que é “o melhor e mais fino edifício na Inglaterra, quer se goste do estilo ou não” enquanto o banqueiro de investimentos David Yates, que trabalha em Mayfair, diz, “One Hyde Park é um símbolo dos tempos, um símbolo de desconexão. Há quase uma sensação de que “os marcianos desembarcaram aqui”. Quem são eles? De onde é que eles são? O que fazem eles?” O professor Gavin Stamp, da Universidade de Cambridge, um historiador de arquitectura, chamou-lhe “um símbolo vulgar da hegemonia da riqueza excessiva, um condomínio sobre-dimensionado para pessoas com mais dinheiro do que senso, arrogantemente enfiada na parte baixa do centro da cidade de Londres.”

Uma imagem de um apartamento

onehydepark - IIILegenda: Panoramic: The spacious living areas of this £65million flat in the same block have views across Hyde Park on one side and across Knightsbridge on the other

O aspecto realmente curioso do One Hyde Park pode ser apreciado somente à noite. Caminhe ao longo do complexo e reparará que cada janela é quase escura. Como John Arlidge escreveu no The Sunday Times, “Está escuro. Não é só um pouco  escuro —mais escuro, dizem, que nos prédios que o circundam — mas preto. Só a luz de presença está ligada…. Parece que ninguém está em casa.”

Isso não é assim por os apartamentos estarem ainda por vender. Os registos de propriedades de Londres dizem que eram 76 em Janeiro de 2013, para um total de US $2.7 mil milhões — mas, destes, apenas 12 foram registados nos nomes de seres humanos de sangue quente, incluindo Christian Candy, num apartamento do sexto andar. Os restantes 64 venderam-se em nome de empresas desconhecidas: três com sede em Londres; uma, chamado One Unique L.L.C., na Califórnia; e uma, Smooth E Co., na Tailândia. Os outros 59 — com nomes como Giant Bloom International Limited, Rose of Sharon 7 limitado e Stag Holdings Limited — pertencem a empresas registadas em conhecidos paraísos offshore, tais como as Ilhas Cayman, Ilhas Virgens Britânicas, Liechtenstein e a ilha de Man.

A partir disto podemos concluir pelo menos duas coisas com uma certa certeza sobre os moradores do One Hyde Park: eles são extremamente ricos, e a maioria deles não quer que se saiba quem eles são nem que se saiba como é que eles conseguiram o dinheiro.

onehydepark - IV(continua) 

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Para ler a Parte I deste texto de Nicholas Shaxson, publicada ontem em A Viagem dos Argonautas, vá a:

RETRATOS, IMAGENS, SÍNTESE DOS EFEITOS DA CRISE DA ZONA EURO SOBRE CADA PAÍS

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