DIA DO PORTO, COMEÇA ESTA NOITE

diadoporto

Está a chegar o DIA DO PORTO. O José Magalhães já está nos exercícios de aquecimento, pois durante 24 horas vai dirigir a Argos «por ruelas e calçadas,d a Ribeira até à Foz»… Fomos ao arquivo buscar este expressivo texto de Adão Cruz:

Perdoa lá, ó meu querido Porto – por Adão Cruz

Eu gosto muito do meu Porto e penso que seria capaz de escrever lindos textos sobre o Porto. Mas não me apetece. Apetece-me escrever um texto feio. Como me apetece escrever só textos feios sobre este miserável e corrupto país. Este país, vítima da maior bandalheira da sua história. Este país que tem como Presidente da República o seu coveiro, e como portadores do caixão, os seus incorruptíveis boys.E o pior é que todos se preparam para a exumação do cadáver.

Estive há dias em Londres, mas não vou dizer nada sobre Londres, cidade que toda a gente conhece. Gostaria apenas de dizer que Londres me surpreendeu por muitas coisas, algumas delas positivas. A limpeza, a ordem, a organização, a energia, a sensação de segurança, a actividade cultural, a ausência de pobreza e marginalidade visíveis. Uma das coisas que me deram especialmente nas vistas foi a reduzida percentagem de gente obesa. Não há dúvida que a quantidade de gordos e obesos me pareceu muito reduzida, principalmente se a compararmos com o que se passa neste nosso Porto disforme. E a amostragem era muito grande, dado que a minha observação incidiu sobretudo nas horas de ponta, sobre aquelas torrentes impetuosas de gente, a que eles chamam “rush hour”, à saída e entrada das grandes estações de comboio e de metro. Entre os poucos obesos que se viam, predominavam os que tinham ar e aspecto de imigrantes.

O Porto, sobretudo este maravilhoso Porto visto da Serra do Pilar, sobre o qual eu gostaria de fazer os mais lindos poemas, só me desperta lágrimas de amargura. Está gordo, sujo, andrajoso, apodrecido, descaracterizado, descalibrado, desacautelado, desleixado, despovoado, desculturado, deserdado. E tudo isto decorre, fundamentalmente, da tramada doença imunológica anti-cultural de uma autarquia para quem a cultura é uma ameaça e um mal a erradicar. Esta é, sem margem para dúvida, a causa principal da sujidade física e psíquica do Porto.

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