Selecção e tradução por Júlio Marques Mota
A desigualdade, a questão que caracteriza o nosso tempo
Barack Obama
PARTE V
(CONTINUAÇÃO)
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Quarto ponto, como já aludi anteriormente, ainda temos necessidade de programas orientados para as comunidades e para os trabalhadores que foram mais duramente atingidos pela mudança económica e pela grande recessão. Estas comunidades deixaram de estar limitadas aos centros das cidades. Eles também se encontram em bairros fortemente atingidos pela crise da habitação, as cidades atingidas pelos duros anos das deslocalizações de fábricas, as áreas rurais relativamente bloqueadas, zonas onde as pessoas mais novas, sentem que muitas vezes, o que têm de fazer, é migrar à procura de um posto de trabalho. Existem comunidades que já não estão a gerar empregos suficientes.
Assim, colocamos novos planos futuros de modo a poder ajudar essas comunidades e os seus moradores, porque olhamos para cidades como Pittsburgh ou para a minha cidade natal, Chicago, a renovarem-se.
Se alargarmos o leque de cidades para lhe concedermos as ferramentas necessárias para o fazerem — não umas meras esmolas, mas uma mão firme — cidades como Detroit podem fazê-lo, também. Então em algumas semanas, iremos anunciar a primeira dessas Promise Zones, comunidades urbanas e rurais, onde vamos apoiar os esforços locais centrados num objectivo nacional — e isto é, analogamente é o mesmo que considera-lo como o trajecto de vida pessoal de uma criança, pois não deve ser determinado pelo código postal da zona em que nasceu mas pela força da sua ética de trabalho e do alcance dos seus sonhos.
Iremos também ter de fazer mais para apoiar os desempregados de longa duração. Para as pessoas que têm estado sem trabalho há mais de seis meses, muitas vezes não por culpa própria, muitas vezes a vida é como um Catch-22, [ como um beco sem saída]. Sabemo-lo, que as empresas não vão olhar para o currículo de alguém, neste cenário, de forma séria porque eles já foram despedidos há tanto tempo — simplesmente eles foram demitidos há já tanto tempo porque as empresas não olham com honestidade para o seu currículo. É por isso que no início deste ano, eu desafiei os CEOs de algumas das melhores empresas americanas para darem a esses americanos uma oportunidade justa. Já no próximo mês, muitos deles juntar-se-ão a nós na Casa Branca para um anúncio sobre esta grave questão.
Em quinto lugar, temos de renovar o sistema de reformas para proteger os americanos nos seus anos dourados e ficarem garantidos de que um outro colapso da habitação não lhes roube as economias feitas para a aquisição das suas casas.
Teremos também que fortalecer a nossa rede de segurança para uma nova era, de modo que não apenas queiramos proteger as pessoas que foram atingidas por uma maré de azar e caíram na pobreza, mas também para os ajudar a saírem desse mesmo buraco.
Hoje, quase metade dos trabalhadores a tempo inteiro e 80% dos trabalhadores a tempo parcial não têm uma pensão ou sistema de reforma. Cerca de metade de todas as famílias não têm poupanças de reforma. Então nós vamos ter que fazer mais para encorajar a poupança privada e reforçar a promessa de que a Segurança Social é sólida e real para as gerações futuras. Lembre-se, estas são promessas que fazemos cara a cara. Não o fazemos para substituir o mercado livre, mas fazemo-lo para reduzir o risco na nossa sociedade, dando às pessoas simultaneamente uma oportunidade e auxilio. Um estudo mostra que mais de metade dos norte-americanos vão ser vítimas de pobreza num determinado momento da fase de vida adulta. Reflictam sobre isto. Não é uma situação isolada. Mais de metade dos norte-americanos vão ser vítimas de pobreza num determinado momento da fase de vida adulta.
É por tudo isto que temos um programa de assistência em desenvolvimento, conhecido como SNAP, porque ele faz a diferença para uma mãe que está a trabalhar, mas que está a passar por um momento difícil para colocar a comida na mesa para os seus filhos.
E é por isto que temos seguro de desemprego, porque este faz a diferença para um pai que perdeu o emprego e anda por aí à procura de um emprego, para que consiga alcançar um telhado para abrigar os seus filhos. A propósito, o período de Natal não é uma boa altura para o Congresso nos dizer o que é o que vai acontecer é mais de 1 milhão destes americanos que perderam o seu seguro de desemprego, se o Congresso não agir antes de saírem para gozar o seu período de férias.
A grande questão é que esses programas não são tipicamente redes de segurança para que as pessoas neles se possam apoiar e relaxar. Estes programas são quase sempre temporários e significam para as pessoas que trabalham duramente que estas irão permanecer à tona enquanto tentam encontrar um novo emprego ou vão para a escola para fazer uma formação e prepararem-se para diversos tipos de empregos que poderão encontrar fora do programa, ou às vezes apenas para aprenderem a lidar contra uma forte dose de má sorte.
Agora, os progressistas devem estar abertos para reformas que realmente fortaleçam esses programas e os tornem mais operacionais para uma economia do século XXI. Por exemplo, devemos estar dispostos a olhar para novas ideias quanto á possibilidade de renovar os programas de desemprego e de reinserção dos deficientes para proporcionar taxas de re-emprego mais rápidas e mais altas e, sem cortes nos subsídios. Nós não devemos enfraquecer as protecções fundamentais construídas ao longo de gerações, porque a constante rotatividade na economia de hoje e as deficiências com que muitos dos nossos amigos e vizinhos vivem estão em constante movimento. Portanto, elas são agora mais necessárias do que nunca. Devemos fortalecê-las e adaptá-las às novas circunstâncias de modo a torná-las ainda mais eficientes. Devemos perceber e ter consciência de que estes programas de seguros sociais beneficiam-nos a todos nós, porque nunca sabemos se futuramente caímos numa situação similar.
(continua)
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Ver a Parte IV deste discurso de Obama, com tradução de Júlio Marques Mota, publicada ontem em A Viagem dos Argonautas em:
A DESIGUALDADE, A QUESTÃO QUE CARACTERIZA O NOSSO TEMPO, por BARACK OBAMA
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