«Commedia dell’arte» – por Carlos Loures

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Com muito sucesso, celebrámos ontem o Dia do Teatro. Num eco dessa celebração, vou falar sobre Commedia dell’arte.

A commedia dell’arte foi uma forma de teatro popular que surgiu no século XV em Itália e nos séculos seguintes se estendeu a França, a Inglaterra, a Espanha. Os enredos das peças giravam sempre em torno de uma trama de encontros e desencontros amorosos, de equívocos que só se desfaziam no fim – um final feliz. As histórias eram fixas, os diálogos eram improvisados pelo actores que representavam papéis que à partida determinavam os seus caracteres – Pierrot, Polichinelo, Arlequim, aldrabão, mas desembaraçado e simpático, Pantaleão, o fidalgo, velho, avarento e vítima das endróminas tecidas em seu redor… Colombina, Isabella, Flaminia e Silvia eram as figuras femininas. A commedia dell’arte dava grande margem de manobra à criatividade do ator, que improvisava o diálogo… mas tinha de respeitar o enredo previamente estabelecido. Este tipo de comédia muito popular veio a influenciar o circo, o bailado, muito do teatro moderno. E não só…

Nos palcos onde decorre a comédia da nossa política, os actores improvisam as falas de uma peça cujo enredo é sempre o mesmo – os arlequins, pierrots, polichinelos e pantaleões que as secções juvenis dos partidos neo-liberais produzem em série, vão actuando para um público que paga bem caro o bilhete de ingresso num espectáculo tão pobre. António José Seguro, de forma inábil, tímida, desajeitada e, sobretudo, pobre de conteúdo, lá vai atacando um Passos Coelho, ridículo na sua pose de sábio que tresanda a ignorância. Os magotes de populares que se juntavam em torno da carroça dos actores, aplaudiam, vaiavam, as  tiradas dos actores, mas sabiam que não podiam mudar o enredo. Nós parecemos não ter consciência de que a comédia que nos é apresentada tem um entrecho imutável – o do «bloco central»; 0o «bloco central» ou «pacto de regime» instalou-se no dia em que Sá Carneiro morreu. Dois partidos cujas siglas nada têm a ver com os conteúdos programáticos e muito menos com a praxis de cada um – um partido “social-democrata”, herdeiro da União Nacional e da Accão Nacional Popular; e um partido “socialista”, com bases programáticas social-democratas e uma prática neo-liberal – uma confusão, uma mixórdia, uma pantomima (mais uma pantomina…) a que chamam «democracia»-

Não podemos alterar o enredo da commedia dell’arte. Mas podemos optar por outro tipo de comédia. Uma, cujo enredo seja escrito por nós e tenha um final feliz. Para nós.

 

 

1 Comment

  1. Voltando à commedia dell’arte, caro Loures, acho que o vaudeville de Feydeau e até mesmo o teatro de Sacha Guitry foram influenciados por ela,
    Mas é preciso dizer também que no Brasil a comédia dos nossos políticos não é muito diferente da dos vossos.
    abraço solidário da
    Rachel Gutiérrez

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