Parte III
(CONTINUAÇÃO)
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Olhemos agora para os dois quadros abaixo:
“A tabela 1 mostra que para as economias seleccionadas da zona euro, a dívida do sector privado no final de 2013 está abaixo do seu valor de pico, mas tipicamente apenas com uma diferença de pequenos valores, portanto insignificante. Como uma indicação da taxa de desalavancagem ou de desendividamento, calculámos um rácio de reversão da dívida para cada país baseada na queda da dívida/PIB a partir do seu valor de pico até 2013Q4 como uma percentagem do aumento da dívida/PIB que levou a este valor de pico a partir de 1999Q1. Por exemplo, como proporção do PIB actual, o sector empresarial privado espanhol reduziu o seu rácio da dívida em um quarto do aumento que ocorreu entre a introdução do euro e a data em que se verificou o valor de pico. As famílias espanholas, entretanto, têm-se esforçado para reduzir em menos de um quarto o aumento do rácio da dívida que se verificou desde 1999 até à data de pico. Utilizando esta mesma medida o sector privado da Irlanda também foi capaz de reduzir a sua dívida mais do que os seus pares na periferia, embora a partir de um nível muito mais elevado do que a maioria. Em Portugal, onde os rácios de dívida do sector privado também permanecem elevados, houve muito menos progressos, especialmente no sector empresarial, com um rácio de reversão do endividamento extremamente baixo, de 6.7.
Não é por acaso que até agora só a Espanha e a Irlanda foram os únicos soberanos da periferia cujos ratings foram melhorados pela Standard & Poor (para além da Grécia e de Chipre depois dos seus incumprimentos (defaults)), mesmo se os seus ratings respectivas permanecem com duas categorias (ou seis níveis) abaixo dos seus valores de pico da situação de pré-crise. Na mesma linha nós igualmente tomamos acções de avaliação positiva em diversos bancos espanhóis.
Não obstante, uma vez que a dívida do sector público continuou a crescer nos países da periferia e permaneceu a níveis máximos apesar dos esforços fiscais inauditos de alguns governos, podemos ser levados a afirmar que os esforços para a redução da dívida, também ditos efeitos de desalavancagem ou de desendividamento parecem terem começado bem mal.”
Muito delicada a expressão da Standard and Poor’s: parece ter começado mal, quando estamos já, e devido às políticas de austeridade impostas, com países completamente destruídos e por décadas, tornados claramente falidos face às brutais dívidas, face à fragilidade dos seus recursos agora que tudo foi posto em saldo para satisfazer a voragem dos ladrões internacionais que tudo nos levam.
Avancemos um pouco mais e mesmo no quadro do mesmo modelo, o neoliberal, vejamos o que os analistas de Standard and Poor’s nos dizem sobre o futuro:
“O quadro 2 simula a trajectória potencial, no futuro, do processo de desalavancagem do sector privado (famílias e empresas). Nesta simulação, assumimos que a partir de 2014Q1 em diante a variação trimestral na relação dívida / PIB do sector privado varia linearmente e a taxa constante, (em pontos de percentagem do valor absoluto do PIB) como a variação média trimestral entre 2012Q4 e 2013Q4.
Sob esta extrapolação o rácio da média não ponderada da dívida do sector privado dos seis países da periferia até 2020 desceria para cerca de 134% do PIB, um nível observado em 2005, desde o pico de 187% do PIB em 2011 (ver última coluna). Nesta simulação, a desalavancagem em Espanha seria a que mais avança: o rácio da dívida do sector privado atingiria os níveis de 2001, enquanto Portugal, Irlanda, e Eslovénia regressariam para os rácios de dívida observados de 2004 para 2005. Na Grécia, a desalavancagem realizar-se-ia a taxa ainda mais lenta com um rácio de dívida quase inalterado. Por volta de 2020, Portugal e Irlanda ainda teriam os rácios de alavancagem privada mais altos, enquanto o sector privado da Itália e a Eslovénia continuariam a ser os menos endividados em relação ao PIB.
Salientamos que este é apenas um resultado possível. Dependendo dos dados e da metodologia utilizada para assumir um novo ponto de equilíbrio, a trajectória projectada e o seu ritmo assim como o fim do processo de desalavancagem poderiam ser muito diferentes.
As decisões tomadas pelos agentes económicos sobre o desejado ritmo de reduzir de forma sustentada a dívida , assim como as possíveis mudanças na taxa de crescimento médio do PIB nominal irão influenciar a velocidade de desalavancagem. Uma retoma na actividade económica assim como o crescimento do deflator do PIB podem levar a uma redução mais rápida da carga da dívida das famílias e empresas em toda a periferia, do que o que se assinalou.”
(continua)
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