ENDIVIDAMENTO DO ESTADO E DAS EMPRESAS AO ESTRANGEIRO CONTINUA A AUMENTAR – por EUGÉNIO ROSA

A VENDA A SALDO DE EMPRESAS PORTUGUESAS E O GARROTE DA DIVIDA EXTERNA CONTINUA A AUMENTAR: em Jun.2014 a divida ao estrangeiro atingiu 322.176 milhões €

Com a implosão do grupo BES, era de prever que aparecessem os “abutres” com o objetivo de comprar as melhores empresas a preços de saldo. E isso aconteceu e vai ter a ajuda deste governo. Paulo Macedo, em declarações aos órgãos de comunicação social, já afirmou que o governo não levantaria qualquer obstáculo à venda da Esprito Sando Saúde a um grupo mexicano, embora esta empresa tenha uma importância grande na área da saúde em Portugal, sendo mesmo responsável pela gestão do hospital público de Loures. O mesmo sucede com a seguradora Tranquilidade, objeto também da cobiça de vários grupos estrangeiros que a querem comprar por apenas 50 milhões €, certamente um preço de saldo. Pela mão deste governo já foram entregues a grupos estrangeiros o controlo de empresas estratégicas, como aconteceu com a CIMPOR, a EDP, a REN, a ANA, os CTT, a Fidelidade, o grupo de saúde HPP da CGD, e agora até a saúde, um bem público. E depois será o “Novo Banco”. Tudo isto com a justificação falsa de que é bom para Portugal e para o seu desenvolvimento pois, segundo ele, atrai investimento. No entanto, “esqueceu-se” de dizer que esse investimento não cria mais riqueza, mas limita-se a apropriar-se da existente. Por isso interessa analisar os efeitos desta política de subserviência ao estrangeiro.

O ENDIVIDAMENTO TOTAL AO ESTRANGEIRO DA ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA, DAS EMPRESAS PÚBLICAS E PRIVADAS CONTINUA A AUMENTAR EM PORTUGAL

O quadro 1, com dados do Banco de Portugal, mostra a dimensão do endividamento das Administrações Públicas (Estado), das empresas (públicas e privadas), dos particulares e da banca ao estrangeiro, e como ela evoluiu durante o governo PSD/CDS.

Quadro 1 – Endividamento das Administrações Públicas, das empresas, dos particulares e da banca em Portugal no período 2010 – Junho de 2014

endividamento - I

Em Junho de 2014, a divida das Administrações Públicas, mais a das empresas (públicas e privadas) e a dos particulares atingia 767.226 milhões €, o que correspondia a 4,6 vezes o valor do PIB previsto para 2014. Para além deste colossal endividamento que cresceu significativamente com o governo PSD/CDS (entre 2010 e 2014, subiu de 414,3% do PIB para 460,4% do PIB), a gravidade é ainda maior se se tiver presente que parte importante desta divida resulta de financiamento exterior. Entre 2010 e 2014, o financiamento estrangeiro aumentou de 168.789 milhões € para 223.441 milhões €. Se juntarmos a esta divida ao exterior o financiamento da banca a operar em Portugal por grupos estrangeiros – 98.732 milhões € – conclui-se que, em Junho de 2014, a divida ao estrangeiro atingia 322.176 milhões €, o que correspondia a 193,3% do PIB previsto para este ano. Isto significa que depois de tantos sacrifícios impostos ao país, o garrote da divida externa não diminuiu. Entre 2010 -Jun2014, a divida das Administrações Públicas ao exterior aumentou de 185.844 milhões € para 262.142 milhões€, o que é extremamente preocupante pois, para além de ser enorme, gera dependências que são utilizadas para justificar mais e maiores sacrifícios.

A SITUAÇÃO DE DEPENDÊNCIA DE PORTUGAL EM RELAÇÃO AO ESTRANGEIRO AGRAVOU-SE COM A “TROIKA” E COM O GOVERNO PSD/CDS

Como consequência da politica de destruição da economia e do aumento do endividamento, a posição internacional de Portugal, traduzida na “Posição do Investimento internacional, em sentido lato”, agravou-se ainda mais com a “troika” e com o governo PSD/CDS de acordo com os dados do Banco de Portugal constantes do quadro 2.

Quadro 2- Posição do Investimento Internacional e rendimentos transferidos para o estrangeiro

endividamento - II

Entre 2010 e Junho de 2014, a chamada “Posição do Investimento Internacional”, ou seja, a diferença entre aquilo que Portugal (os portugueses) têm no estrangeiro ou têm a haver do estrangeiro menos aquilo que os estrangeiros possuem em Portugal e têm a receber dos portugueses, agravou-se pois passou de um saldo negativo de 185.221 milhões €  para um saldo também negativo de 205.040 milhões €. Por exemplo, em Junho de 2014, o ATIVO do nosso país no estrangeiro era apenas de 280.224 milhões€, enquanto o PASSIVO atingia 485.264 milhões €. É uma diferença enorme, que significa, por um lado, que muitas empresas portuguesas já pertencem a estrangeiros e, por outro lado, que o país deve cada vez mais dinheiro a estrangeiros. É esta situação que a “troika” e este governo conduziram o país e, quando forem definitivamente corridos, deixarão uma pesada herança por muitos anos.

Mas as consequências deste crescente domínio de Portugal por grupos financeiros e económicos estrangeiros não ficam por aqui. Como mostram também os dados do Banco de Portugal do quadro 2 (ver três colunas da direita), este domínio determina a transferência de elevados rendimentos (riqueza) produzidos em Portugal para o estrangeiro. Entre 2010 e Maio de 2014, os rendimentos transferidos para o estrangeiro somaram 70.309 milhões €, enquanto os recebidos do estrangeiro somaram apenas 38.278 milhões €. Isto significa que Portugal transferiu mais 32.031 milhões € para o estrangeiro do que recebeu, o que correspondente a 19,2% do PIB (igual ao défice orçamental de 4 anos) causado precisamente pelo domínio e dependência criada relativamente aos grupos económicos e financeiros estrangeiros. Em Portugal, o Rendimento Nacional Bruto, ou seja, a riqueza que fica anualmente no nosso país, é inferior ao PIB, ou seja, a riqueza que é produzida anualmente em Portugal, o que significa que uma parcela da riqueza produzida todos os anos pelos portugueses é transferida para os outros países contribuindo para uma melhor vida nesses países à custa dos sacrifícios dos portugueses. Para além de tudo, há ainda a não esquecer que a elevada divida externa é também utilizada pelos chamados “credores” para impor a Portugal, com a colaboração deste governo, uma politica de sacrifícios e de redução das condições de vida dos trabalhadores e reformados para assim satisfazer os interesses dos grupos económicos credores como ficou claro nestes últimos anos.

E apesar de tudo isto ser nefasto para o país e para os portugueses, este governo ainda tem a desfaçatez de vir dizer, através de Paulo Macedo (já antes Vitor Gaspar e todo o governo já tinham escrito o mesmo no documento de estratégia orçamental) que é bom para o país os grupos estrangeiros adquirirem, a preço de saldo, as melhores empresas portuguesas.

 

Eugénio Rosa

Economista

edr2@netcabo.pt

 23.8.2014

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