Selecção e tradução de Júlio Marques Mota
É tempo de eleições na Grécia. É tempo de os povos europeus dizerem não à corda que a todos aperta o pescoço e os asfixia. É tempo de gritarem: Liberdade.
Uma viagem por diversos países é o que aqui vos propomos. Estação de destino, hoje: Londres- Victoria Station.
Reino Unido – O fardo da dívida
Tejvan Pettinger, UK Debt Burden
Economics.help, 14 de Janeiro de 2015
O que é o fardo da dívida
Em primeiro lugar, há diferentes tipos de dívida a considerar
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Dívida do governo, frequentemente referida como a dívida pública)
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Dívida do sector privado – dívida das famílias, do sector financeiro e de empresas não-financeiras.
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Dívida externa – o valor da dívida do país como um todo (dívida pública e privada) que se deve a outros países
Além disso, deve-se ter em conta – as responsabilidades futuras, por exemplo compromissos dos fundos de pensões. Também, igualmente importante, são o crescimento económico futuro, as receitas fiscais e a capacidade de satisfazer o c fardo da dívida actual.
O fardo da dívida como % do rendimento
A maneira mais útil para analisar o fardo da dívida é considerar:
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A dívida como % do rendimento .
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Também como percentagem do rendimento : rendimento/despesa feita com os juros da dívida
Dívida pública
Fonte: Reinhart, Camen M. and Kenneth S. Rogoff, “From Financial Crash to Debt Crisis,” NBER Working Paper 15795, March 2010. and OBR from 2010.
Os empréstimos contraídos pelo governo BRITÂNICO desceram para níveis recorde no começo dos 90, mas desde a crise financeira, a dívida pública como percentagem do PIB aumentou para 78% do PIB (2015).
Relacionado com o conceito da dívida pública total temos um outro conceito, o de défice orçamental. O défice orçamental é a dívida pública contraída pelo governo em cada ano de exercício. .
Pagamentos de juros da dívida em percentagem do PIB.
Uma outra consideração importante é o fardo anual da dívida, ou seja o montante de juros pagos como serviço da dívida.
Com juros baixos, o custo do serviço da dívida pública do Reino Unido é menor do que o que poderíamos esperar. Muitos economistas sugerem que quando as taxas de juros são baixas, o governo deveria aproveitar e contrair empréstimos para financiar os investimentos públicos.
O montante gasto em pagamentos de juros da dívida é importante para a compreensão do fardo da dívida’ ‘, se você tirar uma hipoteca, o mais importante não é a quantidade total pendente, mas a porcentagem de sua renda que é gasto em pagamentos mensais de hipoteca.
A quem é devido o fardo da dívida no Reino Unido?
Uma outra consideração importante é a de sabermos a quem é que a Inglaterra pediu emprestado? A maioria da dívida do sector público no Reino Unido está na posse do sector privado UK / Banco da Inglaterra.
O montante gasto em pagamentos de juros da dívida é importante para se compreender o que significa fardo da dívida. Se comprarmos uma casa por crédito hipotecário, o mais importante não é a quantidade total a pagar, mas a percentagem do rendimento que é gasto em pagamentos mensais da hipoteca contraída.
Dívida do sector privado
Além da dívida pública também é importante olharmos para a dívida do sector privado. Em particular a dívida das famílias e a dívidas das empresas financeiras e não financeiras. Por exemplo, no início da recessão, a dívida das famílias caiu porque os seus detentores procuraram aumentar a poupança e pagar as suas dívidas, devido à baixa da confiança na evolução da economia. Neste caso, os empréstimos contraídos pelo governo são parcialmente compensados pelo aumento da poupança do sector privado.
A dívida financeira é mais complicada. O Reino Unido tende a ter uma grande parte da dívida financeira em termos de percentagem do PIB, porque tem um largo sector financeiro. Mas, estas grandes responsabilidades são compensadas por activos elevados do mesmo sector financeiro. A dívida do sector financeiro torna-se um problema se o valor dos activos estiver em queda (por exemplo, durante a crise de crédito).
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Dívida total do Reino Unido
Durante a recessão a dívida publica aumenta claramente e em contrapartida cai o endividamento das famílias (efeito dito de desalavancagem).
Segundo dados oficiais publicados por Michael Saunders, Citigroup.
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A dívida das famílias caiu de 111% do PIB no início de 2009 para 99% do PIB no final de 2012.
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Para as empresas privadas, com exclusão dos bancos, a dívida caiu de 121pc do PIB para 108% do PIB .(Telegraph).
Embora no futuro, as dívida dos agregado familiares são estimadas em alta. Também o aumento das taxas de juros aumentarão a carga da dívida.
Outros tipos de “carga da dívida”
O nível excepcional da dívida estudantil situa-se em cerca de £46 mil milhões de libras e estima-se que vá subir para £200 mil milhões por volta de 2042 (com uma estimativa que £70 mil milhões serão créditos a estudantes que nunca serão cobráveis. (Guardian).
Dívida externa
Outro tipo de fardo da dívida a considerar é a dívida externa – o montante que os os cidadãos ingleses devem às pessoas de outros países.
O Reino Unido tem uma elevada dívida externa (dívida externa do Reino Unido é de 406% do PIB, valor de 2012) por causa do seu muito grande sector financeiro grande.
Será que a dívida corresponde a padrões de vida mais baixos?
Comentário de leitores:
Sobre a dívida nacional: o que nos parece trágico nisto tudo é que a história cultural da Grã-Bretanha pode ser lida a partir do quadro dos encargos de dívida desde 1900 – 2000 PSBR de acordo com os dados do Ban co de Inglaterra.
Os picos do gráfico de PSBR acima de 100% do PIB espelham exactamente os períodos históricos da miséria social que George Orwell documentou durante as décadas de 1920, 1930 e 1940, com a Grã-Bretanha a caracterizar-se como uma terra de vagabundos sem raízes e desempregados, todos dependentes da caridade dispersa, empregos de muito baixos salários e credores, uma nação que nem mesmo Orwell poderia prever que alguma vez teria um Estado Providência universal. As nossas memórias colectivas desta pobreza finalmente começam a aparecer em torno de 1965 e a Beatlemania, um tempo exactamente coincidente com PSBR finalmente a cair abaixo dos 100% do PIB.
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Nota: PSBR significa as necessidades financeiras anuais do Estado ( public sector borrowing requirement). Este gráfico mostra o endividamento público total, também referido como Dívida Nacional.
A resposta à pergunta acima: Tudo depende de como é que lêem estes dados .
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Causa ou efeito. Por exemplo, o aumento do nível de empréstimos nos anos 30 era devido à Grande Depressão. De facto, os esforços para reduzir o nível de empréstimos públicos em 1931 (cortes nos subsídios e aumento dos impostos ) só tornaram a recessão muito pior. É mais justo dizer que contrair empréstimos é um efeito do mal-estar da economia e não a sua causa . Ao mesmo tempo, o longo período da expansão económica torna mais fácil a redução dos empréstimos públicos como nos anos 60.
Também se poderia igualmente dizer: olhemos para o valor da dívida que o Reino Unido teve em 1945, contudo, mais do que nos centrarmos nos cortes das despesas públicas devemos salientar o facto de que o governo estabelece um Estado Providência muito ambicioso e com um Serviço Nacional de Saúde.
Apesar do nível da dívida do sector público que atinge mais de 200% em 1950, isto não prejudicou a economia nas décadas seguintes. O nível relativamente enorme de dívida pública não mostrou ser nenhum impedimento a que se tenha verificado um dos períodos mais longos de expansão económica de que haja registo no Reino Unido.
Edição autorizada pelo autor.
Tejvan Pettinger, UK Debt Burden, 14 de Janeiro de 2015. Texto disponível em:
http://www.economicshelp.org/blog/1870/economics/uk-debt-burden/