Selecção e tradução de Júlio Marques Mota
Matt O’Brien, The 3 big questions about what happens next in Greece’s debt crisis
Washington Post, 6 de Julho de 2015
(continuação)
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2. Será que a Grécia irá começar a imprimir o seu próprio dinheiro?
Não se pode ter uma economia sem bancos ou dinheiro, e a Grécia não tem agora correctamente nem uma coisa nem outra. Os seus bancos estão fechados, as suas empresas não podem obter crédito e o seu governo ficou sem dinheiro. E isso só pode ter uma sequência: ir piorando cada vez mais. Isso porque as empresas que ganharam dinheiro estão agora perdê-lo, uma vez que não se podem abastecer no estrangeiro e os empréstimos que os bancos fizeram que teriam sido bons empréstimos estão assim a degradar-se a transformaram em crédito de cobrança duvidosa. Então são de esperar mais despedimentos num país que já tem 25,6 por cento de desemprego.
Se o BCE não der aos bancos da Grécia os euros que necessitam, a única saída seria para o governo da Grécia começar a criar a sua própria moeda. Agora, esta nova moeda não seria inicialmente um novo dracma mas também não seria um euro, seria uma moeda IOU[1]. Isso é o que a Califórnia fez quando ficou sem dinheiro durante a Grande Recessão (de 2008 até recentemente), e é o que agora o ex-ministro das Finanças da Grécia Yanis Varoufakis diz que vai também fazer. O governo poderia começar a pagar aos seus empregados com este equivalente de “papel-moeda”, e dizendo às pessoas que podiam com ele pagar os seus impostos. Isso seria o suficiente para os bancos e empresas o aceitarem com um desconto para o euro, é claro, e para que a economia começasse a funcionar com, pelo menos, um fac-símile de normalidade. As empresas podem também criar os seu próprios IOUs.
A beleza de um IOU é que este existe na zona cinzenta legal entre dinheiro e dívida [porque dinheiro é simplesmente uma dívida da sociedade que circula livremente]. Se a Grécia de alguma forma conseguir manter-se no euro, poderia sempre dizer que não tinha impresso nenhum novo dinheiro, uma vez que os IOUs são apenas novas dívidas. Mas se a Grécia abandona a moeda comum, então os IOUs seriam uma ponte entre o euro e o dracma, enquanto Atenas vai a caminho do problema mais difícil do que parece que é o de conseguir arranjar as máquinas de impressão da nova moeda, do novo dracma. A Grécia pode não ter escolha, no entanto, se os seus bancos falirem.
Então, o governo só poderia tapar o buraco que aparece no balanço dos bancos, quer apropriando-se dos depósitos das pessoas- a Europa preparava um plano para taxar em 30% os depósitos gregos de mais € 8000 em pelo menos 30 por cento – ou em vez disso imprimir dinheiro[2]. Se escolhe esta segunda opção, no entanto, não pode ter nenhuma pretensão de que não se trata de uma nova moeda. O dracma seria isto.
(continua)
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