Selecção e tradução de Júlio Marques Mota
Depois do « Não » grego Berlim não cederá
Além-Reno, Tsipras faz a unanimidade contra si-mesmo
Luc Rosenzweig, Après le «non» grec, Berlin ne fera pas de quartier – Outre-Rhin, Tsipras fait l’unanimité contre lui
Revista Causeur.fr, 6 de Julho de 2015
O primeiro dirigente alemão que se exprimiu, quanto aos resultados do referendo grego não deixava nenhum lugar para dúvidas, foi Sigmar Gabriel, Vice-Chanceler, ministro da economia e presidente do Partido social-democrata (SPD). As suas palavras foram inequívocas: para ele, Alexis Tsipras “quebrou as últimas pontes que o ligavam à Europa”. Considera, além disso, que “a continuação das negociações com Atenas é dificilmente imaginável”. Esta intervenção, e a que vai no mesmo sentido, apenas uns minutos mais tarde do seu camarada de partido Martin Schulz, o presidente do Parlamento europeu, dispensava “os falcões” conservadores alemães, como a chanceler alemã Angela Merkel e sobretudo o seu inflexível ministro das Finanças Wolfgang Schäuble de subirem à primeira linha para tocar o sinal de alarme contra os rebeldes atenienses. As únicas vozes que se levantaram além-Reno para reclamar indulgência para com a Grécia situam-se na extrema esquerda, no partido Die Linke, duravelmente fechado no gueto dos nostálgicos da ex-RDA. Às críticas mais vivas relativas à acção da chanceler na confrontação no seio da zona euro entre Tsipras e “as instituições” (UE, BCE, FMI) provêm da direita, como o diário conservador Die Welt, que considera que o “ Não” grego é uma derrota para uma chanceler e que tem esperado ingenuamente que um sobressalto da razão, o da carteira, viesse permitir ao “sim” ganhar.
Nos corredores do Parlamento europeu, onde os deputados alemães do CDU e do SPD “”, fala-se apenas da organização “de um Grexit” ordenado, que seja o menos prejudicial possível para os outros membros da zona euro. Se acrescentarmos a isto a cólera dos Holandeses, os Bálticos, os Eslovenos, Eslovacos e mesmo os Portugueses, os Malteses e Espanhóis contra um governo de Atenas que pretende um tratamento de favor, não se vê bem que presente Angela Merkel poderia trazer nas suas malas para jantar na segunda-feira à noite no Eliseu e na cimeira da zona euro, terça-feira, em Bruxelas. Certos comentadores franceses, como Laurent Neumann de BFMTV queriam ver no facto de Angela Merkel se deslocar a Paris para reatar os fios do diálogo franco-alemão à beira da ruptura um verdadeiro sinal de flexibilidade da posição germânica. Mas não, paquete! Angela Merkel, pragmática e pouco sensível aos chichis da precedência, prefere que o seu “nein” a novas concessões a Tspiras seja publicado em Paris em vez de Berlim! Encontrar-se-ão efectivamente algumas cláusulas de estilo para dar a impressão que François Hollande não comeu o seu chapéu, mas a determinação de Angela Merkel, levada por uma opinião pública alemã levada ao rubro , é inabalável.
O scalp de Varoufakis (metáfora, seguramente!) oferecido por Tsipras a Angela Merkel e aos seus amigos aparece, neste contexto, como uma nova esperteza destinado a semear a confusão nas filas europeias. Os elementos de linguagem que emergem agora na Alemanha anunciam uma mudança de paradigma: a questão grega, para muitos responsáveis alemães, sai do campo político para entrar agora no da ajuda humanitária. A Europa deve agora ajudar aos Gregos mais pobres a alimentarem-se e tratarem-se, e deixar os seus líderes irresponsáveis com as suas quimeras ideológicas. “É necessário que os Gregos compreendam que nós nunca aceitaremos uma Europa socialista!” trovejava, domingo à noite, um jornalista conservador aquando da emissão principal de ARD, a primeira cadeia pública alemã de televisão. Isso, , mesmo os social-democratas alemães compreenderam.
Luc Rosenzweig, Causeur.fr, Après le «non» grec, Berlin ne fera pas de quartier-Outre-Rhin, Tsipras fait l’unanimité contre lui. Texto disponível em :
http://www.causeur.fr/grece-referendum-allemagne-merkel-gabriel-33665.html
*Photo : Michael Sohn/AP/SIPA. AP21711161_000030