Selecção, introdução, montagem e tradução por Júlio Marques Mota
(conclusão)
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2.1.1 RENDIMENTOS: TAXAS DE AUMENTO RELATIVAMENTE ELEVADAS MAS DE VALORES QUE CONTINUAM MUITO FRACOS
2.1.1.1 Há cada vez mais pessoas sem recursos
Antes de olhar para a evolução dos rendimentos, é necessário olharmos com alguma atenção para um ponto muito marcado em 2014: o forte aumento da parte das pessoas sem nenhum rendimento, que passou de 14,8% em 2010 (valor mínimo desde os anos 2000) para 17,0% em 2013, seguidamente para 18,1% em 2014, sinal de um agravamento sensível durante o período recente.
A ausência total de recursos é devida em especial a duas coisas:
A ausência de direitos sociais, que é a situação dos estrangeiros recentemente chegados a França ou sem estatuto. Vimos antes que a sua proporção entre as famílias encontradas pelo Socorro Católico aumentou fortemente e isso explica a maior parte desta evolução. Contudo, ainda que não se leve em conta estes estrangeiros sem estatuto, a parte das pessoas sem recursos no momento do seu encontro com o Socorro Católico aumenta, numa menor numa proporção, contudo, passando de 9,2% em 2013 a 9,8% em 2014.
A questão dos prazos de pagamento: o tratamento dos processos de pedido de uma prestação social ou do pagamento de um trabalho, uma formação, uma bolsa, uma reforma, etc., podem levar um certo tempo, deixando as pessoas em privação na expectativa de um pagamento efectivo. A estes prazos podem acrescentar-se outros devidos à erros administrativos. Ora o nosso indicador de prazos ou anomalias de percepção diminui regularmente: em 2000, 15,5% das pessoas encontradas conheciam este problema, em 2014 são mais apenas 8,7%, quase metade menos, o que testemunha dos esforços consentidos pelas diversas administrações para acelerar os pagamentos.
Contudo, os prazos de constituição dos processos não são levados em conta neste indicador. Se qualquer pessoa em situação regular na França tiver hoje direitos a reivindicar, pode ser muito difícil conhecer estes direitos e saber como se pode fazer para os pôr em prática, de tal modo que há gente que a estes direitos renuncia.
2.1.1.2 Um rendimento mediano em fraco aumento
Se tivermos em conta as famílias sem recursos, o rendimento mediano em 2014 é de 762 €, inferior ao de 2013 (770 €). O peso dos rendimentos nulos aumentou claramente em 2014 e este aumento mascara a evolução dos rendimentos certamente recebidos. Se considerarmos apenas as famílias que têm um rendimento não nulo no momento do seu encontro com o Socorro Católico, o rendimento mediano é sensivelmente superior. O quadro 9 mostra a evolução deste rendimento mediano desde há cinco anos, em euros correntes e em euros 2014, ou seja em poder de compra 2014.

O ganho de poder de compra das pessoas encontradas é de 3% entre 2010 e 2014. Duas observações sobre esta taxa:
Este aumento de 3% corresponde um aumento do rendimento mediano de 27 € em quatro anos, o que não é de natureza a mudar a situação das famílias. Sobre este período, para o conjunto da população francesa, o poder de compra do rendimento disponível bruto por família diminuiu de 1,7%. Para explicar este dado, o INSEE constata que os rendimentos de actividade se reduziram e que são as prestações sociais que têm contribuído para o crescimento do rendimento disponível. As pessoas em dificuldade obtendo no conjunto mais prestações sociais que rendimentos de actividade, o seu poder de compra aumentou mais que o da população geral. Esta redução de desvio seria sim positivo se não fosse ele o resultado relativo de um empobrecimento geral: a situação das pessoas em mais dificuldade não se melhorou de maneira significativa, mas pessoas até aí mais favorecidos do que elas juntaram-se-lhes devido à uma degradação da sua situação.
2.1.2 UM NÍVEL DE VIDA MENSAL MUITO FRACO
O nível de vida é medido pelo rendimento por unidade de consumo: para ter conta as economias de escala dentro de uma família, não se divide o rendimento pelo número de pessoas que constituem a família mas sim pelo número de unidades de consumo (UC) que correspondem a este agregado de pessoas: o primeiro adulto conta para 1 UC, os outros adultos e crianças de 14 anos ou mais contam como sendo 0,5 UC do primeiro adulto, as crianças com menos de 14 anos contam com 0,3 UC. [Somam-se assim as unidades de consumo do agregado familiar e depois divide-se o rendimento familiar pelo número de unidades de consumo e temos o rendimento por unidade de consumo.]
2.1.2.1 o nível de vida mensal aumentou de 35 € em quatro anos para o conjunto das famílias encontradas (incluídas os que estão sem recursos), o nível de vida mediano aumentou entre 2010 e 2014 de 7,0% em euros correntes e de 1,3% em poder de compra. O forte aumento em 2014 do número de pessoas sem recursos pesa fortemente sobre o nível de vida do conjunto, e assim indicamos igualmente no quadro 11 os níveis de vida das famílias que têm recursos não nulos.

Entre 2010 e 2014, os 7% de aumento do rendimento mediano do conjunto das pessoas encontradas correspondem com efeito à 35 €, e os 10% de aumento do rendimento mediano das pessoas que têm recursos equivalente a 58 €. As taxas de aumento relativamente elevadas são aplicadas a montantes fracos e as famílias pobres não observam sem dúvida nenhuma diferença na sua situação, tendo em conta o aumento dos preços. Em euros 2014, ou seja em poder de compra, o aumento é ainda mais fraco.
Para as famílias que têm rendimentos, o aumento relativo do nível de vida em euros 2014 foi mais marcado no último ano (+ 1,9%): isto é menos devido à progressão do rendimento do que à redução do número de pessoas por família, como se mostrou noutra parte deste documento.
2.1.2.2 os três quartos das famílias encontrados fazem parte dos 3,5% mais pobres da população geral.
O último limiar de pobreza publicado pelo INSEE no momento da redacção deste relatório é datado de 2013: em 60% da mediana dos níveis de vida, é de 1.000 €. A este limiar, 14,0% dos indivíduos vivem numa família pobre (o nível de vida com efeito é calculado para uma família e afectado à cada membro da família).

Para manter uma coerência com esta definição, calculamos o número de pessoas a viverem nas famílias encontradas pelo Socorro Católico em 2013 e comparámos o seu nível de vida ao limiar de pobreza (quadro 12), incluindo as famílias sem recursos.
A taxa de pobreza no limiar de 40% do nível de vida mediano aumenta desde os anos 2000, onde era de aproximadamente 2,5%. Reduziu-se em 2013 ao passar de 4,0% em 2012 para 3,5%. As pessoas que vivem em famílias muito pobres continuam a ser muito numerosas: eram aproximadamente 2,1 milhões em 2013, pode-se considerar que o Socorro Católico encontra aproximadamente 1 milhão destas pessoas muito pobres.(1).
2.1.2.3 a pobreza das famílias encontradas é particularmente intensa
“A intensidade da pobreza é um indicador que permite apreciar a que ponto o nível de vida da população pobre esta afastado do limiar de pobreza. O INSEE mede este indicador como sendo o desvio relativo (a diferença relativa) entre o nível de vida mediano da população pobre e o limiar da pobreza (2). ”
O nível de vida mediano do conjunto das pessoas encontradas no Socorro Católico, incluindo as pessoas sem recursos, era em 2013 de 531 €, ou seja uma intensidade da pobreza de 46,9%, comparada com a da população geral, que é de 19,8% para o mesmo ano.

A proporção das famílias sem recursos é evidentemente um factor desta intensidade de pobreza.
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O número de pessoas encontradas pelo Socorro Católico em 2014 é estimado em 1,4 milhão. Os três quartos de entre elas têm um nível de vida inferior ao limiar de pobreza a 40% do nível de vida mediano.
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O INSEE, definição da intensidade de pobreza. No caso presente é igual a (1 000 -531) / 1 000 = 46,9 %.
http://www.secours-catholique.org/actualites/la-pauvrete-en-france-notre-etat-des-lieux-2014
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Ver:
http://www.secours-catholique.org/actualites/la-pauvrete-en-france-notre-etat-des-lieux-2014
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