GIRO DO HORIZONTE – QUO VADIS AMERICA? – por Pedro de Pezaral Correia

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            Perfilam-se nuvens negras no horizonte da cena política internacional. E que sugerem tempestade…

       No Brasil consumou-se o golpe. Golpe rasteiro, sujo, traiçoeiro, praticado por uma clique engravatada e de colarinhos engomados. A cena no Parlamento, quando foi desencadeado o processo, indiciara já o que se ia seguir. O processo na câmara de deputados havia sido incentivado e foi depois dirigido por um presidente, Eduardo Cunha, que logo a seguir era afastado pelo Supremo Tribunal por motivos éticos. Isto é, o Supremo tinha razões para destituir o presidente do Parlamento, mas decidiu aguardar que ele desencadeasse o processo de impeachment contra a presidente da República, carregado de equívocos, para só depois o afastar. Lamentavelmente o Supremo, último guardião da justiça do país, colaborou no golpe.

           Tive acesso, pela Internet – muitos dos leitores certamente o tiveram também –, a um vídeo do depoimento da defesa da presidente Dilma, proferido no Senado pelo Advogado-Geral da União, José Eduardo Cardozo, uma peça jurídica notável numa oratória consistente, ainda que emotiva, que pôs tudo a nu. Mas que não impediu a consumação do golpe, que já estava montado e não se comovia com problemas legais e argumentos consistentes. Golpe é golpe. É, por definição, contra a legalidade. E, assim, temos um Brasil presidido interinamente por uma personalidade sinistra, não eleita e indiciada de corrupção, que traiu a presidente com quem fazia equipa, que constituiu um governo que é uma mescla de sinais de reacionarismo, de nepotismo e corrupção, de racismo, segregacionismo e machismo, um governo que grande parte da população brasileira considera ferido de ilegitimidade política. E é este presidente, Michel Temer, que no seu ato de posse se propôs “resgatar a credibilidade do Brasil”…

             O Brasil, ainda há dois anos uma referência no quadro global, como potência regional, como Estado decisivo no Mercosul, como parceiro influente nos BRICS, como membro saliente nos PALOP, está hoje gravemente ferido na sua dignidade. Isto não é bom para o instável quadro político global e é particularmente mau para nós, portugueses.

               Na outra latitude do continente americano, no hemisfério norte, as perspetivas não são mais favoráveis. E sobem de nível dada a importância dos EUA como hiperpotência global.

            Para as eleições presidenciais do final do ano posicionam-se duas candidaturas, do Partido Democrata e do Partido Republicano, nenhuma delas tranquilizadora. Ainda que em graus distintos.

              Hillary Clinton, ainda não nomeada, não tardará a sê-lo. Bernie Sanders, a esperançosa surpresa, não conseguirá sobrepor-se ao establishment, mas só o facto de ter aparecido, dos apoios que suscitou e da dinâmica que desencadeou, mostra que algo pode estar a mudar na consciência política da paradoxal sociedade norte-americana. Hillary Clinton, pelas posições que evidenciou como senadora e como secretária de estado do primeiro governo de Obama, pelo apoio que já havia dado à guerra de agressão ao Iraque por George W. Bush & C.ª, pelos seus compromissos com lobbies poderosos como o judaico, será, quando muito, um mal menor, que poderá beneficiar da imagem catastrófica do seu opositor, Donald Trump.

            Este, já nomeado pelo Partido Republicano, é dificilmente classificável enquanto político e candidato à presidência da hiperpotência liderante do sistema global. Diria mesmo que é inclassificável. A imprensa, os media dos EUA, dividem-se, porque há uma parte que gosta da personagem, porque é influente no meio, porque é controverso e porque vende. A imprensa no exterior detesta-o, ridiculariza-o, obviamente. Primário e boçal, agressivo, arruaceiro e raivoso, narcisista, incompetente e ignorante, racista, populista e machista, xenófobo e chauvinista, o pior problema não é ser acusado de tudo isto, é que ele próprio assume estas imagens de marca como virtudes que gosta de ostentar. É visto, com razão, como uma ameaça.

        E nós interrogamo-nos: como é possível, um povo como o norte-americano, uma percentagem importante desse povo, identificar-se com tal personagem. Depois de Reagan, depois de Bush (filho), ainda faltava Trump. Para nós, na Europa, depois da dupla Reagan-Teatcher e da dupla Bush-Blair, o que nos espera, uma dupla Trump-Le Pen?

14 maio 2016

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