BREXIT: UM EXEMPLO DA ENORME NUVEM DE FUMO A PAIRAR SOBRE A REALIDADE EUROPEIA – 2. BREXIT – A CAMINHO DO BREXIT? por JACQUES SAPIR

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Selecção e tradução de Júlio Marques Mota

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Brexit- A caminho do Brexit?

A esperança começa a levantar-se para os partidário da saída da UE

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Jacques SapirVers le Brexit? L’espoir se lève pour les partisans de la sortie de l’UE

Revista Causeur.fr, 15 de Junho de 2016

A uma semana do referendo sobre a permanência ou não do Reino Unido na União Europeia, as sondagens anunciam uma vitória decisiva para os separatistas. O jornal The Sun e um número crescente de intelectuais apoiam o campo da saída e assim todas as esperanças são permitidas.

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Sipa. Numéro de reportage : AP21908929_000001.

 

Três factos marcantes vieram nas ultimas horas fortalecer as esperanças dos eurocépticos britânicos, enquanto que nos aproximamos da data para o referendo, agendado para 23 de Junho. Em primeiro lugar, uma nova sondagem (YouGov) dá uma vantagem substancial à votação de saída da União Europeia. O ponto importante aqui não é tanto o resultado absoluto mas sim o aumento da margem deste resultado. Claro, o número de pessoas que ainda não decidiram onde votar é importante, e essa sondagem deve ser entendida como uma tendência, nada mais que isso.

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Sondagens relevantes

Pode-se pensar que, no momento de votar, os eleitores indecisos se vão pronunciar geralmente pela manutenção da Grã-Bretanha na União Europeia. Mas, o adiantamento da posição dos que defendem a posição de saída está a aumentar. Deste ponto de vista, é possível que as opiniões que dão – de momento – a manutenção da Grã-Bretanha na União como vencedora sejam influenciadas pelo facto de que esta posição é visivelmente maioritária na zona de Londres. O referendo será também um voto do povo contra as elites financeirizadas, um voto também dos campos contra a grande metrópole.

The Sun contra a UE

O segundo facto notável é a posição muito nítida e muito clara do diário popular The Sun (1) a favor da saída da zona euro. Naturalmente, as posições deste diário eram previsíveis. Aquilo a que se chama na Grã-Bretanha “a imprensa de goteira” é conhecida pelas suas posições facilmente escandalosas. Mas, é necessário também saber que por detrás do jornal há todo o império de imprensa de Murdoch. O compromisso do Sun vale realmente um compromisso deste grupo de imprensa.

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O terceiro facto é o artigo publicado em The Telegraph (2) por Ambroise-Evans Pritchard.. Conhecem-se as posições críticas deste autor. Mas os argumentos que avança são importantes e poderiam convencer uma fracção da opinião pública. Ambrose Evans-Pritchard identifica efectivamente o problema principal do Brexit como o da democracia.
Neste artigo escreve:

“Devemos decidir se queremos ser governados por uma Comissão de poderes quase executivos que funciona mais como o clero do papado do século XIII do que como uma função pública moderna; e se queremos submetermo-nos a um Tribunal europeu de justiça (CEJ) que afirma a supremacia jurídica mais completa, sem nenhum direito de recurso.

A questão é a de saber se pensamos que os Estados-nação da Europa são as únicas instâncias autênticas da democracia, seja neste país, na Suécia, nos Países Baixos ou na França “. Reencontra-se também expressões que estão próximas das que empreguei nas minhas últimas obras: “… a UE como está construída é não somente corrosiva mas é, finalmente, perigosa, e (…) na fase que agora estamos a atingir, a autoridade governamental desagrega-se através da Europa. O projecto provoca uma hemorragia das instituições nacionais, mas não consegue substitui-las seja pelo que for que seja legítimo ao nível europeu”.

O Presidente do Tribunal Europeu face ao “perigo” europeu

É interessante ver que a sua opinião coincide com a do Presidente do Supremo Tribunal do Reino, Lorde Sumption: “Elas (instituições) têm estar de forma gradual a serem esvaziadas de tudo aquilo que as tornou democráticas, através de um processo gradual de deterioração interna e de indiferença, até que de repente percebemos que estas se tornaram algo diferente, como as Constituições republicanas das cidades de Atenas ou de Roma ou das cidades italianas do Renascimento.»

Esses três factos podem corresponder a um tempo de mudança na campanha do referendo britânico. O campo adverso caracteriza-se, por enquanto, por ser escandalosamente alarmista, prevendo uma “catástrofe” para o Reino Unido em caso de sucesso da opção de saída. Isto não tem nenhuma credibilidade. Os países que não são membros da União Europeia fazem comércio livremente com esta última e até pela existência de regras da OMC, que se aplicariam imediatamente para as relações comerciais entre a Grã-Bretanha e a UE.

O que está claro é que os defensores da manutenção, os Remainers, da Grã-Bretanha na União Europeia têm sido incapazes de desenvolver argumentos ‘positivos’ para apoiarem a sua posição. É este provavelmente o ponto mais interessante. Hoje, o medo do desconhecido é o mais recente, talvez o único argumento que resta aos partidários da União Europeia. Isto diz muito sobre a decadência do projecto europeu.

Retrouvez cet article sur le blog de Jacques Sapir.

 

JACQUES SAPIR, Brexit?. Texto disponível em:

https://russeurope.hypotheses.org/5022

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[1] http://www.bloomberg.com/news/articles/2016-06-13/four-polls-put-u-k-on-course-to-leave-eu-as-sun-backs-brexit

[2] http://www.telegraph.co.uk/business/2016/06/12/brexit-vote-is-about-the-supremacy-of-parliament-and-nothing-els/

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Ler também em:

http://www.causeur.fr/brexit-royaume-uni-europe-sun-38737.html

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