Selecção, tradução e montagem de Júlio Marques Mota
(Uma montagem feita por Júlio Marques Mota mantendo na íntegra o texto de Elio Lannutti)
Euro, rapina do século

ELIO LANNUTTI, LA RAPINA DEL SECOLO
Voce delle voci, 4 de Janeiro de 2017
Euro: a rapina do século. Com esta rapina foram até agora 15 anos de inferno para as famílias, roubadas e empobrecidas de 14.995 euros per capita e por família e um paraíso para os especuladores e cleptocratas, tudo isto à custa da pele dos trabalhadores e consumidores. Perdidos assim 358 mil milhões e 900 mil euros, ao ritmo de 997 euros em média por ano e por família
Em 15 anos de mudança lira-euro (1.1.2002), foi introduzida na Itália a moeda única por homens de Estado autoproclamados governantes, mas na verdade modestos mordomos da cleptocracia europeia, que a propagandearam como o novo Eldorado para os italianos; ratificada pela força (e sem qualquer referência popular), esta tornou-se no maior roubo de todos os tempos contra as famílias, um inferno, uma ruína para os trabalhadores e para a classe média empobrecida e tornou-se num paraíso para os especuladores, banqueiros, seguradoras, monopolistas de portagens, do gás e da eletricidade e de todos aqueles que têm a capacidade de ficar preços e tarifas, ao abrigo dos controlos das sucessivas autoridades reguladoras que em vez de verificar a adequação dos aumentos dos preços andavam de mãos dadas com os ladrões..
O efeito de arrasto da mudança lira-euro entrou em vigor desde 1.1.2002 , com a desgraçada taxa de câmbio fixada em 1.936,27 liras por euro (em vez de uma taxa justa de no máximo 1.300 liras por 1 euro), esvaziou os bolsos das famílias italianas, ao ritmo de 997 euros por ano a favor dos lucros especulativos, o que se traduz num custo final de 14.955 euros per capita nos últimos 15 anos. Desde a entrada no euro, de facto, houve uma perda de poder de compra, que até as estatísticas oficiais são forçadas a reconhecer, de 14.955 euros por família (24 milhões), com uma transferência de riqueza estimada em 358, 9 mil milhões dos bolsos dos consumidores para os bolsos daqueles que têm a oportunidade de fixar os preços e as tarifas, abrigados dos inúteis controles o que talvez seja devido às estreitas relações entre reguladores e especuladores.
A “cleptocracia Europeia”, tendo à sua frente os alemães, apropriou-se até mesmo da esperança do futuro, a essas massas invisíveis de pessoas desesperadas, que em 2001 pertenciam à classe média e 15 anos depois são forçados fazer parte da multidão que vai as mesas da Caritas para poder ter uma refeição quente.
A queda do consumo e do sofrimento económico dos italianos, que também atingiu a classe média e as receitas que podiam ser considerados de “bem-estar”, em 2001, está irrefutavelmente demonstrada pelo estudo Adusbef [1]sobre a capacidade de poder de compra (CPC, ou mais corretamente de estudo sobre consumo à paridade do poder compra), Dito de forma diferente, trata-se de um indicador mais importantes publicados por Eurostat, e que nos dá a relação do poder de compra médio por família de um dado país relativamente ao consumo médio por família no conjunto da Europa a 28, expressos os consumos na mesma unidade, ou seja no mesmo cabaz de compras, a que se chama Paridade do Poder de Compra. O importante neste caso é a evolução da relação. Exemplo: no ano de 2001, último ano que funcionou a lira, o consumo médio por família italiana era relativamente ao consumo médio da Europa dos mesmos 28 países de 119 pontos (não mostrado na tabela abaixo) , ou seja, o consumo médio por família em Itália era de 19 pontos acima do consumo média das famílias na Europa a 28, enquanto que em 2015 o mesmo índice é agora de 99 pontos, ou seja, está agora um por cento abaixo do consumo médio por família a nível dos 28 países em 2015, perdendo pois 20 pontos relativamente ao consumo da média das famílias da Europa a 28.
No caso italiano, o consumo relativo médio das famílias era então de 119 pontos em Itália em 2001 e este estava entre os consumos mais altos nos países europeus, sendo a Itália ultrapassada apenas pela Inglaterra (120); Suécia (123); Bélgica (124); Áustria (126); Dinamarca (128); Holanda e Irlanda (134); Luxemburgo (235), enquanto o consumo relativo por família italiana era mais elevado que em França; Alemanha e Finlândia (116). Em 2015, a Itália situando-se agora em 99 pontos, contra 119 em 2001 sofre uma descida de 20 pontos, ou seja em percentagem de (-16,8%), o mesmo é dizer que a Itália lidera a classificação negativa de poder de compra (CPC); em segundo lugar está a Grécia (com -13,8% em CPC que passou de 87 a 75); a terceira é o Reino Unido ( com -7,3% com a CPC em 114. Portugal, por seu lado, consumia por família 87% do que consumia em média uma família no conjunto dos 28 países da União Europeia em 2001 (não mostrado na tabela acima) enquanto que em 2015 se consume agora ao nível de 82 pontos, ou seja perdeu 4 pontos no consumo relativamente ao consumo médio das famílias na Europa a 28. Estes números são espantosos. Sabemos o drama que tem sido a baixa de nível de vida na Grécia, sabemos o que tem sido a baixa de nível de vida em Portugal e ficamos a saber que o nível de vida relativo em média por família na Itália, pelos dados publicados pela própria União Europeia, baixou mais do que na Grécia e baixou cinco vezes mais do que baixou em Portugal. Esta baixa, por si só, é mais que suficiente para percebermos os resultados do referendo ocorrido em Dezembro na Itália, E assim percebemos igualmente a carta de um relativo desespero escrita por Ferdinando Imposimato publicada ontem no blog A Viagem dos Argonautas, onde se considera e de uma forma absoluta que os partidos tradicionais em Itália não são agora uma saída para a crise, tão atolados que estes estão na política economia e social até aqui seguida e na brutal corrupção que varre o país, sustentada esta por uma terrível combinação de forças: máfia, alta finança, maçonaria do Grande Oriente Italiano, a loja a que pertencera Lucio Gelli[2].
Conforme nos dizem Lannuti, Adusbef e Federconsumatori, já tinham denunciado no final de 2001, o quão obtuso estava a ser o BCE, um monstro legal surdo e cego, atormentado por uma megalomania que decidiu imprimir a nota de 500 euros à medida daqueles que fazem a evasão fiscal e organizam a reciclagem do dinheiro sujo e da economia do crime, e que recusa imprimir notas de 1 e 2 euros como uma ferramenta eficaz que pode oferecer a perceção exata do valor do euro, já divulgou o aumento irresponsável de mudança, que ocorreu com a cumplicidade dos governos, com a lista de uma centena de produtos com o preço estabelecido em Dezembro de 2001, os últimos dias de vida da lira, como por exemplo: a esferográfica aumentou + 207,7%, as sanduíches (+ 198,7%) e o cone de sorvete (+ 159,7%), o pacote de café de 250 gramas (+ 136,5%), o bolo de arroz (+ 123,9%), um quilo de biscoitos (+ 113,3%), a aposta mínima do loto (+ 97,8%), os aumentos vertiginosos sobre produtos de consumo que esvaziaram e saquearam os orçamentos das famílias. Os analistas de Adusbef e Federconsumatori também registam o aumento dos custos de habitação, problema gigantesco para as famílias italianas seja tanto em termos de compra como de aluguer em termos de custo mensal total, verificando-se que são necessários 25 anos de salário em 2014 para comprar um apartamento de 90 metros quadrados, que em 2001 custava 15 anos de salário médio, o que confirma o aumento dos preços.
O objetivo é demolir permanentemente um modelo social constituído na base do “valor da poupança”, substituindo-o por uma sociedade baseada na “dívida”, para reforçar o domínio dos banqueiros e de finança de papel, dos algoritmos que estruturam os derivados assassinos e da Troika, provocando um círculo vicioso para alimentar os lucros dos bancos à custa da pele de gerações intoxicadas pelos cartões de débito pelo que nos devemos todos convencer de que se devem corrigir os graves erros cometidos nesses 15 anos, para nunca mais os repetir.
Não deve ser permitido a um círculo restrito de pessoas decidirem o destino do mundo e de desenharem um modelo de Europa à medida dos eurocratas e banqueiros, eles que destruíram a riqueza das famílias, para engordar os cúmplices do poder económico, mesmo com o risco de se ser definido, pelo círculo mágico das elites que se representam apenas a si mesmos, pela alcunha de “populista”, ou seja, aqueles que protegem as pessoas e os consumidores sobrecarregados pelos banqueiros centrais e pela criminosa finança.
Uma vez que o euro tem sido a maior “grande rapina, a ruína do século, que tem empobrecido as massas de trabalhadores e os pensionistas, artesãos, pequenos empresários, famílias, Adusbef e Federconsumatori defendem que se renegociem os tratados europeus criados à medida dos interesses dos bancos e dos monopólios, abusivos e injustos para os consumidores.
Texto de base. Ellio Lannuti, EURO, LA RAPINA DEL SECOLO. Texto disponível em :
http://www.lavocedellevoci.it/?p=9454
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[1] Adusbef, Associação de Defesa dos Utentes dos Serviços bancários, Financeiros, Postais e de Seguros
[2] É um tema que aqui não é tratado. Vale a pena no entanto citar um texto de Domenico Mario Nuti publicado em A Viagem dos Argonautas na série “Uma tentativa de golpe de Estado moderno sob a égide da União Europeia na Itália a 4 de Dezembro de 2016” intitulado Não à Reforma Constitucional Renzi-P2, onde este autor afirma: “Renzi é simplesmente o atual porta-voz e o instrumento para a aplicação do Piano di Rinascita Democratica (Plano de Renascimento Democrático), um projeto autoritário iniciado em Itália por Lucio Gelli da secreta loja maçónica P2 (elaborado por volta de 1976, publicado em 1982) continuado e defendido depois por Craxi, Cossiga, Berlusconi, Napolitano, com a bênção dos círculos financeiros internacionais como o JP Morgan (2013) , para já não mencionar o apoio obtido por meio de interferência indevida do embaixador dos Estados Unidos e de Barack Obama no seu papel como Presidente dos Estados Unidos. “
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