A CRISE DA FINANÇA – O CASO ITALIANO – 15. O DINHEIRO DE MONTE PASCHI NOS PARAÍSOS FISCAIS DE VANUATU, ANGUILLA E SINGAPURA, por FIORENZA SARZANINI

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Selecção e tradução de Júlio Marques Mota. Revisão de Francisco Tavares.

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O dinheiro de Monte Paschi nos paraísos fiscais de Vanuatu, Anguilla e Singapura

O “bando dos 5 por cento” segundo a justiça italiana transferiu 90 milhões para o exterior

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Fiorenza Sarzanini, I soldi di Monte Paschi nei paradisi di Vanuatu, Anguilla e SingaporeI – La «banda del 5 per cento» ha trasferito 90 milioni all’estero

Corriere della Sera, 25 de Fevereiro de 2014

 

Transferiram para o exterior mais de 90 milhões roubados dos cofres do banco Monte dei Paschi di Siena. Mas sobretudo especularam com fundos do banco em dificuldade com o exclusivo objetivo de enriquecerem. É a acusação gravíssima que desencadeou novas medidas cautelares contra o ” bando dos 5 por cento», liderado pelo antigo chefe de finanças do Banco Gianluca Baldassarri. Ao todo, onze pessoas — quadros do banco MPS e corretores da empresa «Enigma» de acordo com os promotores Antonio Nastasi, Joseph Grosso e Aldo Natalini,— que tinham criado uma associação de malfeitores de carácter mafioso, capazes de drenar dinheiro do banco e com ele abrir contas nos paraísos fiscais de Vanuatu, Anguille e de Singapura. São os documentos contabilísticos a demonstrar o trajeto do dinheiro desviado ou roubado mas a confirmação do delito de ‘sistema’ vem de uma mulher, ela mesmo investigada, que se colocou disponível para contar aos investigadores qual o mecanismo utilizado durante anos pelo gestores-ladrões.

Noventa milhões de Vanuatu a Singapura

As rusgas em Itália e no exterior começam ao amanhecer. Os investigadores do núcleo da Polícia Financeira dirigido pelo General Joseph Bottillo notificou todos os suspeitos de proibição de saída para o estrangeiro. Entraram nas suas próprias casas e escritórios, tendo compilado documentos, arrestado computadores e outros equipamentos de informática. Além de Baldassari, vários funcionários do banco MPS tais como Alexander Toccafondi, Pompeo Pontone, Antonio Padilla, Itália Sinopoli e Giorgio Moda e ainda os brokers Maurizio Fabris, Fabrizio Cerasani, David Ionni e Agnese Marchesini. Todos eles acusados de ter criado uma associação de malfeitores tipo mafioso que utilizavam o património de Mps para investimentos financeiros feitos através de “Enigma” artificialmente criados para obterem margem de proveitos para os corretores naquelas mesmas transações e permitindo que os operadores envolvidos obtivessem ilicitamente somas de dinheiro como lucros que foram depois manipuladas por empresas estrangeiras”. O mecanismo utilizado era simples, embora para o reconstruir tenham sido necessários meses visto que o dinheiro passava por vários paraísos fiscais e tinha como ponto final de chegada a filial de Londres do banco. O que fez avançar as pesquisas desta forma foi a descoberta do “escudo fiscal” usado por alguns gestores para fazerem voltar uma parte dos fundos para a Itália. Ficou então estabelecido que «os ganhos ilícitos foram partilhados entre os membros da Associação de operações financeiras por efeitos dos movimentos financeiros para o exterior através da empresa “Rockport Financial Inc.” com base em Anguila que enviava o dinheiro para o banco de investimento “Uib, United Investment Bank” de Vanuatu nos estabelecimentos de crédito de São Marino». São já 47 milhões encontrados, mas no total haverá pelo menos 90 milhões que foram subtraídos ao banco MPS di Siena e transferidos para as contas pessoais.

O testemunho e “o país dos sonhos”

A 4 de Junho passado foi interrogada Ítala Sinopoli. Tem 40 anos, é uma funcionária do banco MPS e esteve durante um período ligada a Fabrizio Cesarani. As investigações já revelaram o mecanismo ilícito utilizado pelo grupo. Ela possui algumas contas em San Marino e, em face das contestações, revela mais alguns detalhes que se revelam depois determinantes para reconstruir as etapas do esquema. É-lhe perguntado como explica o “retrocesso das quantias” que a sociedade “Enigma” reconhecia aos gestores do banco. Ela declara: «Cesarani disse-me simplesmente que “funcionava assim”, ou seja, que isto era prática, em geral, e no interior do próprio Banco. Disse-me que eu “era um nada” relativamente a este mecanismo, fazendo-me entender que “as duas liras” que me reconhecia eram muito pouco em comparação com outros, dentro do Banco, era evidente. Referia-me, para me tranquilizar, que se tratava de operações lícitas. Repreendia-me muitas vezes, que eu era muito ingénua e que vivia no mundo dos sonhos».

A mesma investigação fala de um retorno de 20 por cento que foi reconhecido e isso é suficiente para entender que se tratava de provisão concedida a outros. Não surpreendentemente acrescenta: “no final de 2009 eu tentei afrouxar as relações profissionais e pessoais com Cerasani. Para me convencer da legalidade das operações eu lembrou-me ainda que os seus interlocutores eram os dirigentes da área financeira do Banco e que ele também estava a trabalhar com Baldassari. Cesarani fez-me compreender que o que ele fazia comigo, o fazia igualmente — mas em muito maior escala — com o próprio Baldassarri e outros altos quadros da área de finanças».

A guerra entre procuradores e juízes sobre a prisão preventiva

Surpreendente a decisão do juiz Ugo Bellini que na sua nota defende as teses da acusação mas contudo nega a prisão preventiva como medida de custódia solicitada pelo Ministério Público. Na verdade já no verão passado, as duas autoridades judiciais tinham razões de atrito quando o juiz decidiu pôr em liberdade Baldassarri por causa de um vício processual, salvo que depois foi obrigado a recuar.

Na sua ordenança reconhece “a existência de uma parceria criminosa consolidada que funcionou em vários Estados durante mais de quatro anos e é até à data importante..” Salienta-se, como de fato fez a acusação, “o perigo de fuga é atual e concreto, sobretudo porque os suspeitos tomaram conhecimento do estado da investigação “, mas então inexplicavelmente nega mesmo aos indiciados residência fixa limitando-se simplesmente a uma ordem de proibição de expatriação contra o que o Ministério público já anunciou recorrer.

Fiorenza Sarzanini, Corriere della Sera, I soldi di Monte Paschi nei paradisi di Vanuatu, Anguilla e SingaporeI – La «banda del 5 per cento» ha trasferito 90 milioni all’estero. Texto disponível em:

http://www.corriere.it/cronache/14_febbraio_25/i-soldi-monte-paschi-paradisi-vanuatu-anguilla-singapore-c5c11528-9de5-11e3-a9d3-2158120702e4.shtml

 

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