OS DESAFIOS QUE SE COLOCAM À NOVA ADMINISTRAÇÃO DO “BLOCO CENTRAL” DA CGD E AO PRÓPRIO GOVERNO
Numa altura em que vai entrar em funções na CGD uma nova administração do “bloco central”, em que o presidente executivo é Paulo Macedo, um conhecido membro do governo PSD/CDS e, como “chairman” (presidente não executivo) Rui Vilar, um destacado membro do PS, interessa analisar quais os problemas atuais da CGD e quais são os desafios que se colocam a esta nova administração. Isto até porque alguns dos problemas da CGD são comuns aos outros bancos, daí a importância desta análise para compreender a situação a que a banca chegou em Portugal, embora a CGD, por ser um banco público, tem também outras obrigações especificas que decorrem deste facto. A análise da situação da CGD será feita com base nos relatórios e contas da CGD até ao 3º Trim.2016 (o ultimo publicado), e nas reuniões que se tiveram com as anteriores administrações CGD, e procurará identificar não só os principais problemas que a CGD enfrenta mas também os desafios que daí decorrem e que, por isso, se colocam à instituição e à nova administração. E isto para que se possa acompanhar, e eventualmente avaliar, a ação da nova administração em áreas que se consideram críticas na situação da CGD. É evidente que este estudo apenas analisa algumas situações importantes pois a informação pública disponível não é suficiente para uma análise mais profunda.
1 – A CARTEIRA DE TÍTULOS DA CGD REPRESENTA CERCA DE 20% DO SEU ATIVO, SENDO A MAIS ELEVADA DA BANCA EM PORTUGAL: vantagens e riscos
Em Set.2016, a carteira de títulos da CGD somava 20.377 milhões €, o que correspondia a 20,7% do Ativo liquido nessa data (98.234M€). De acordo com o Relatório e Contas de 2015, no fim deste ano 7.493 milhões € eram títulos de divida publica portuguesa.
A aplicação em divida publica tem vantagens e inconvenientes. As vantagens são, por um lado, poder ser utilizado como colateral junto do BCE para a obtenção de crédito e, por outro lado, o ponderador da divida pública para cálculo do ativo ponderado pelo risco (RWA) ser zero, portanto não “come” capital. Para além disso, vence juros logo gera rendimento. As desvantagens é de qualquer subida nas taxas de juro da divida pública provoca prejuízos ou menos-valias com reflexo imediato negativo ou na conta de resultados ou na conta de capital.
Confrontado com o risco que resulta da CGD ter uma carteira de títulos tão elevada (20,7% do ativo liquido), a anterior administração reconheceu o risco, referiu as vantagens, tendo informado que era seu objetivo, se a continuasse na CGD, baixar a exposição para metade.
Para além disto, segundo as contas de 2015, no fim deste ano a carteira de títulos da CGD totalizava 21.541,2 milhões €, sendo 17.662,23 milhões € (82%) “ativos financeiros disponíveis para venda”, ou seja, para obter mais-valias, ou seja especular ( ver nota da pág. 172 do Relatório e contas das CGD de 2015 sobre a contabilização do valor deste tipo de ativos). A questão que se coloca para reflexão é a seguinte: Será que um banco público deverá fazer um investimento com esta dimensão com fins especulativos? Nas declarações que António Domingues fez em 4.1.2017 na Assembleia da República, na COF, uma questão que levantou foi se seria missão de um banco público procurar o equilíbrio especulando com dinheiro dos contribuintes e depositantes. Um investimento tão elevado em ativos desta natureza envolve, pelas razões referidas, riscos que, a nosso ver, um banco público não deve fazer correr o dinheiro dos contribuintes e dos depositantes. O elevado rácio de liquidez (LCR) apresentado pela CGD (170,8% em Set.2016), superior ao exigido pelo supervisor, associado a uma concessão de crédito insuficiente, poderá ser a causar da aplicação excessiva em ativos financeiros.
Concluindo, a carteira de títulos da CGD, devido ao seu elevadíssimo montante e aos riscos que encerra, é uma ÁREA CRITICA DA CGD que, pelo impacto que pode ter nos resultados e nos Capitais Próprios e, consequentemente, nos rácios de capital da CGD e também para os trabalhadores (pois se correr mal mais sacrifícios poderão ser exigidos) deverá merecer atenção para se saber como a nova administração tratará esta questão. Tenha-se presente que nos primeiros 9 meses de 2015 a CGD teve um lucro de 329 milhões € com as operações financeiras sobre títulos e que, em 2016, em idêntico período, já acumulou 47,4 milhões € de resultados negativos, portanto é uma rúbrica com resultados muito aleatórios, e o risco é elevado num período em que os juros da divida publica podem aumentar e em que a politica monetária do BCE de “dinheiro barato” que parece estar a contribuir para a valorização dos ativos financeiros poderá vir a ser alterada.
2. O ELEVADO VOLUME DE CRÉDITO EM RISCO E EM INCUMPRIMENTO: a inexistência de uma rigorosa análise de risco e a ausência de orientações claras para a politica de crédito da CGD por parte do governo
A CGD apresenta um dos mais elevados rácios de crédito em risco e de crédito em incumprimento. No fim do 1º sem.2016, depois do Novo Banco (23,9%) e do Montepio (15,4%) era a CGD (12,2%) que apresentava maior rácio de crédito em risco. De acordo com os indicadores constantes das contas referentes ao 3º Trim. 2016, no fim de Setembro de 2016 o rácio de crédito bruto em risco na CGD era de 12,2%, e do crédito bruto em incumprimento atingia 10,3% (entre o 3º trim.2015 e o 3.º trim.2016, este último rácio aumentou de 9,5% para 10,3%). Em milhões de euros apresentavam os seguintes valores:
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Crédito em risco ………………………. 622,22 milhões €
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Crédito em incumprimento …………… 279,42 milhões €