Que fazer: escolher Macron, escolher Martine Le Pen ou escolher não escolher? Texto 7 – Escolher Macron é guilhotinar a França: “This is the end…” – Por Jean-Paul Brighelli

Seleção e tradução de Júlio Marques Mota

Texto 7. Escolher Macron é guilhotinar a França: “This is the end…

Por Jean-Paul Brighelli, professor e ensaísta, anima o blog “Bonnet d’âne” hospedado pelo sítio Causeur.

25 de Abril de 2017

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E enquanto Jim Morrison canta The End, a floresta transforma-se num verdadeiro braseiro na memória do capitão Willard…

 

Desta vez, acabou-se, e Chu en Lai, que nos anos de 1960 considerou que era muito cedo para se pronunciar sobre o impacto da Revolução francesa, olharia com o seu sorriso chinês para o resultado das eleições francesas. Os deputados que se tinham reagrupado por afinidades políticas à direita e à esquerda deixaram de ter direita e esquerda. O povo que tinha guilhotinado o seu rei para eleger a nação acaba agora de guilhotinar a própria nação.

Nem todo o povo: o mapa eleitoral francês, ontem de manhã, cortava o país em dois, entre um Oeste macroniano (mais dois enclaves, de Paris e Lyon) e o resto do território que colocou Le Pen à frente. Se a segunda volta pode ser considerada resolvida, a terceira – as legislativas – continua a estar em aberto, pelo menos na aparência. E para trás, está uma França dividida em duas, em diagonal, do Havre a Perpignan.

Texto 7 mapa resultados eleicoes França

Saúdo Jean-Luc Mélenchon, o único a não se considerar dono dos votos que nele foram depositados. Os outros apelaram ostensivamente apelado ao “sobressalto republicano” exatamente no momento em que a República se está a diluir, no momento em que a cultura francesa começa a desaparecer. É que na futura coligação os lugares serão caros.

Saúdo igualmente Benoît Hamon, cornudo dos pés à cabeça, transformado em papa por Hollande, que precisava dele para cristalizar a esquerda da esquerda, para que Mélenchon não passasse à segunda volta. Lançado às feras enquanto os socialistas ‘razoáveis’, a começar pelo chefe de Estado, escolhiam Macron… Haverá agora um ambiente estranho na sede do PS, na rua Solferino. Sinto que o meu amigo Gérard estará que nem uma fera.

Saúdo também alguns dos meus amigos que votaram com entusiasmo em Dupont-Aignan: provavelmente estarão felizes em ver chegado ao poder (vá, não é nenhum mistério) o candidato mais europeísta, mais mundialista, o menos patriótico… E sem sequer que o seu candidato tenha atingido os fatais 5% que lhe permitiriam ir aos fundos públicos! Acertaram em cheio.

O que sobrará da escola da República daqui a 5 anos? Levantar a questão, é já começar a responder. E daqui a 10 anos? Mácron está aí para ficar, inventado pelas sondagens, apoiado pelos media e pelos grandes financeiros e os principais ministros das Finanças que o propulsaram para o primeiro lugar nas Presidenciais com o seu bonito o sorriso do televangelista…

Havia a tentação de Veneza – um bonito título para um livro escrito por Alain Juppé em 1993. Hoje eu tenho a tentação de Candide – ir tratar do meu  jardim, escrever – publicarei um thriller bem negro dentro de um mês –, dedico-me aos meus alunos (e confesso que a ideia de me aposentar apanhou-me de surpresa ontem à noite enquanto houver alunos aos quais se possa explicar que há uma cultura francesa, ao contrário do que afirma o futuro presidente: algumas páginas escritas durante a campanha sobre estas importantes declarações entrarão para o grande livro em língua francesa que irei publicar em Setembro, enquanto ainda estamos a falar francês e não globalish – o que não irá tardar a acontecer.

Resta-nos olhar para os escombros, sentado numa varanda, um copo ao alcance da mão. Folheando um bom livro ou as coxas de uma bela figura ao nosso lado. Note-se que os próximos anos anunciam-se fecundos para um polemista – então, haverá muita coisa para criticar. Mas para nada e é o vazio total.

Sim, a tentação de um bom vinho, tendo à frente uma paisagem escolhida, com alguns amigos ao lado. Enquanto a floresta se transforma num braseiro.

Jean-Paul Brighelli, revista Causeur, Choisir Macron, c’est guillotiner la nation –“This is the end…”.

Texto disponível em http://www.causeur.fr/emmanuel-macron-presidentielle-liberalisme-mondialisation-43958.html e http://blog.causeur.fr/bonnetdane/

 

 

 

 

1 Comment

  1. Se o Estado Francês perder esta batalha não significa ter perdido a guerra. O globalish só pode ser a língua dum macrobionte. Em 1939 preferiam a ocupação alemã; agora, repetem. Terá de haver outro De Gaulle? CLV

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