
Iniciámos neste blog a publicação de uma série de textos sob o título A crise do Covid 19 e a incapacidade das sociedades neoliberais em lhe darem resposta, titulo em que se mostrava que a nossa intenção seria explicar algumas das razões da impotência das sociedades neoliberais na sua resposta à pandemia covid 19.
Trata-se, pois, de uma série com particular incidência sobre as questões económicas e sociais que a crise Covid 19 levanta e sobre as respostas que a sociedade neoliberal apresenta.
De imediato, e já do conhecimento público, temos no plano económico O Manifesto publicado por alguns economistas, entre os quais estão como subscritores alguns dos meus antigos alunos, espelhando a sua crença nas Instituições Europeias, e também é conhecida a tomada de posição da União Europeia, como é também do conhecimento público o pequeno, mas muitíssimo louvável esforço individual do governo português.
Na minha opinião a dimensão da crise económica que se está a criar será tal que impõe que se responda com profundidade à velha questão: Que fazer? Esta é questão tanto mais importante quanto de uma vez só temos de tratar em 2020 de uma crise com problemas equivalentes aos da crise da gripe espanhola de 1918, aos da crise financeira de 1929 e aos da crise de 2010, problemas todos em aberto e que juntos dão a crise que estamos a viver. Mas a resposta a esta pergunta parece ser muita coisa, demasiada coisa mesmo para os líderes das Instituições Europeias que temos. As diretrizes impostas de resposta à crise de 2010, os impasses em que se têm debatido a crise atual e a incapacidade mostrada em se pensar criar um órgão europeu especial de resposta coordenada e com meios à escala da União Europeia, e não apenas o louvável facto de deixar cair a espartana regra dos 3%, tudo isto nos leva a pensar que estamos a ser governados a este nível por uma verdadeira mediocracia, como se mostra o que se passou recentemente com as declarações de Lagarde, no dia 12 de março, que levou a que a Itália já de joelhos fosse atacada pelos mercados financeiros, e com a posição de Centeno, no dia 16 de março, em que na agenda do Eurogrupo estaria a aprovação do novo MEE, a tornar viável que ainda se apertasse mais a tenaz da austeridade sobre a Itália.
Estranho este tipo de atitudes tanto mais que em 10 de março o sítio de analistas de mercados MarketWatch mostrava o seguinte comportamento da bolsa italiana :
E no mesmo dia, The Telegraph, de 10 de março, pela mão de um dos seus mais eminentes analistas sobre temas europeus, Ambrose Evans-Pritchard, anuncia que havia fortes temores de resgaste à Itália numa dimensão de 500 a 700 mil milhões de euros, valor nunca atingido na história. E neste contexto o Eurogrupo preparava-se para apertar o cerco austeritário à Itália. No fundo, a poder gerar uma nova Grécia mas agora também de uma dimensão única na história.
Por seu lado, um ex–alto funcionario do FMI e seu responsável pelas negociações no resgate da Irlanda, Ashoka Mody, escrevia nesse mesmo dia 10 de março:
“A Itália precisa de um pacote de resgate preventivo de 500 a 700 mil milhões de euros para ajudar a garantir aos mercados financeiros que o governo e os bancos italianos possam cumprir suas obrigações de pagamento da dívida à medida que a crise económica e financeira do país se torna mais assustadora. Assim, dado que os custos humanos do coronavírus cresceram de forma alarmante, a crise da Itália pode em breve tornar-se incontrolável, causando potencialmente a desordem nos mercados financeiros mundiais.”
Liguemos as coisas e ficamos aterrados com a incapacidade demonstrada pelas nossas instituições europeias em perceber o que são os mercados e as suas dinâmicas. Lagarde, por exemplo, provou-o claramente.
Neste sentido, penso que no seu conjunto os textos já publicados e os que virão a ser publicados ajudar-nos-ão a refletir sobre a pergunta Que fazer? e, portanto, sobre eventuais respostas a serem dadas à brutal crise que atravessamos.
Nesta série, algumas descrições sobre o real, pungentes acrescente-se, são apenas base para que a análise económica ganhe sustentabilidade para perspetivar políticas necessárias para se enfrentar a situação presente e estabelecer as pontes para o futuro, uma vez que, garantidamente, nada mais deverá ser como antes. Mas será mesmo assim? Irão mesmo as coisas mudar ou acontecerá o mesmo que aconteceu a seguir a 2008?
Das políticas económicas possíveis, sublinhamos entre outros textos os artigos a seguir citados:
Uma resposta política virada para o futuro face à recessão do coronavírus, Mike Konczal, Instituto ROOSEVELT.
É preciso: Uma agência financeira para lidar com o caos financeiro gerado com o coronavírus, de Michael Lind e James Galbraith.