Assim vai a “frugal” Holanda… ou a Holanda e a corrupção dos princípios – 2. O Vice-ministro das Finanças holandês demite-se no meio de um escândalo em matéria de subsídios aos cuidados com a infância. Por Molly Quell

A Nave dos Loucos, de Hieronymus Bosch

 

Publicámos há dias um texto sobre o radicalismo esquecido de Jesus Cristo e a farisaica União Europeia (ver aqui).

Nesse texto utilizámos as “imagens” de personagens de Boccaccio, os Gianottos, nos centros de decisão, ou seja, as Instituições Europeias, os Gianinnis, os que se curvavam perante os Gianottos pelos seus próprios interesses pessoais nem que para isso se tenha de venerar Bruxelas, estamos a falar os governos nacionais submissos a Bruxelas, os Marcellos, que tudo estão disponíveis a fazer para subirem de estatuto e chegarem a serem Gianinnis. No caso do texto de Boccaccio, todos eles utilizavam a religião cristã como instrumento, sabendo todos eles que o centro religioso por excelência, a corte romana, era um mar imenso de corrupção. E utilizavam-na para proveito próprio, porque se tudo era feito em Roma para destruir a religião e se esta tinha cada vez mais aderentes era porque estava bem benzida pelo Espírito Santo e, portanto, ficava-se seguro da sua proteção divina para fazer o que melhor lhes desse proveito! De modo equivalente podemos ver a Europa, onde a corte romana são os centros de poder subterrâneo, os imensos lóbis, o nosso Gianotto é Bruxelas, os Gianinnis são os Estado submetidos ao credo hasteado e defendido por Bruxelas, o quadro jurídico, os Tratados, em que assenta a União Europeia e a UEM, os nossos Gianninnis são os Estados membros,  sempre submissos  mesmo que achem que as politicas austeritárias  impostas não levam a bom porto, e por baixo dos Gianinnis estão os Marcellos, os políticos nacionais  que não são o poder mesmo que atrelados a ele e que desejam alcançar o estatuto de Gianinnis. O   exemplo mais emblemático é a situação política atual na Itália onde o Gianinni que tem por nome Giuseppe Conte, primeiro-ministro de Itália, impôs a aprovação do novo MEE e onde os Marcellos, Matteo Renzi e outros aprovam o MEE mas querem mais poder e onde os que não aceitaram livremente as regras do jogo foram pura e simplesmente expulsos do respetivo partido- é o caso dos deputados do M5S que fiéis ao programa eleitoral que os elegeu votaram contra o novo MEE.

Vem tudo isto a propósito de cinco textos que aqui vos deixo – da Reuters, do Courthouse News Service, do NL Times, do WHIOTV 7 e do Eurointelligence, datados de 2018, 2019, 2020 e já de 2021. Estes textos falam-nos de um dos baluartes defensores das regras austeritárias de Bruxelas, mas com estes textos ficamos claramente a saber o que está por detrás da frugalidade da Holanda, a hipocrisia e a discriminação praticadas pelos governos da Holanda, e o que está por detrás é uma parte significativa da corte romana dos tempos modernos: os paraísos fiscais, as multinacionais, no fundo, o Estado profundo, dito Deep State.

Boa leitura

JM

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Seleção e tradução de Júlio Marques Mota

 

2. O Vice-ministro das Finanças holandês demite-se no meio de um escândalo em matéria de subsídios aos cuidados com a infância

 Por Molly Quell

Publicado por em 18/12/2019 (original aqui)

 

THE HAGUE (CN) – Em apuros, o vice-ministro das finanças holandês Menno Snel demitiu-se na quarta-feira depois de ter gerido muito mal um escândalo sobre os subsídios para cuidados infantis.

Menno Snel, the O Ministro das Finanças holandês demite-se no meio de um escândalo em matéria de subsídios aos cuidados com a infância em 18 Dez. 2019. (Photo cortesia do Governo Holandês)

Centenas, possivelmente milhares, de pais foram erroneamente obrigados a devolver o dinheiro que lhes foi dado pelo governo para compensar o custo dos cuidados infantis, em alguns casos perdendo casas e empregos no que ficou conhecido como o “toeslagenaffaire” ou o caso do subsídio.

“Eles [pais] foram submetidos à pressão de um aparelho governamental sem lhe poderem escapar. Mas já não os posso compensar”, disse Snel durante um debate na Câmara Baixa do Parlamento holandês na quarta-feira, em que a galeria pública estava cheia de pais que foram afetados.

Algumas horas mais tarde, o rei holandês Willem-Alexander anunciou que a demissão de Snel tinha sido aceite.

Uma mudança na política fiscal holandesa em 2013 deixou toda e qualquer pessoa acusada de fraude sobre subsídios sem a possibilidade de recorrer. O fisco reconheceu estar ciente de que a política era ilegal, mas continuou a funcionar desta forma até 2016, quando vários noticiários holandeses relataram os problemas.

Os pais foram forçados a pagar dezenas de milhares de euros em prestações, o que resultou em salários penhorados, bens apreendidos e a perda de outros benefícios.

Embora isto tenha acontecido antes da nomeação de Snel em 2017, existe uma regra não escrita na política holandesa de que um ministro deve demitir-se por qualquer ato ilícito não explicado que ocorra no seu ministério, independentemente da culpa.

O departamento fiscal dos Países Baixos tem tido problemas de longa data. Frans Weekers, que desempenhou o mesmo papel que Snel, foi forçado a demitir-se em 2014 após um outro escândalo envolvendo benefícios destinados a cuidados infantis. O substituto de Weekers, Eric Wiebes – agora ministro das finanças – supervisionou uma tentativa falhada de reorganizar esse departamento em 2016. Snel tinha anteriormente trabalhado para o departamento fiscal como diretor-geral adjunto para os assuntos fiscais. Snel deixou esse cargo em 2009.

Snel, que é do único partido político de esquerda do governo de coligação, o D66, sobreviveu a uma votação de desconfiança há duas semanas quando o partido de oposição de esquerda verde GroenLinks e o SGP, um partido cristão conservador, bloquearam uma votação que o teria forçado a demitir-se.

Mas na semana passada, o fisco deu mais combustível ao escândalo quando forneceu quase inteiramente os ficheiros pessoais às vítimas. Os ficheiros deveriam dar aos pais alguma clareza sobre a razão pela qual tinham sido visados.

Um número desproporcionado dos pais envolvidos nasceu no estrangeiro ou não são de origem holandesa .

Os pais presentes na galeria na quarta-feira expressaram tanto felicidade como frustração com a demissão de Snel. “É bom que ele se tenha demitido, mas isso não nos dá qualquer boa solução”, disse uma mãe que não quis ser nomeada.

“A demissão de Menno Snel é incrivelmente infeliz. Ninguém duvidou do seu enorme empenho em encontrar uma solução. Estamos a perder um colega muito envolvido e especialista e isso é extremamente infeliz”, disse o Primeiro-Ministro Mark Rutte num tweet.

Snel é o terceiro ministro do terceiro gabinete de Rutte, a demitir-se desde as eleições nacionais de 2017. No início deste ano, o ministro júnior da justiça e segurança Mark Harbers demitiu-se após ter sido descoberto que tinha apresentado números errados sobre a criminalidade. Em 2018, o ministro dos negócios estrangeiros Halbe Zijlstra demitiu-se depois de se saber que tinha mentido sobre estar numa reunião com o Presidente russo Vladimir Putin.

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A autora: Molly Quell é uma experimentada jornalista e escritora. Em Courthouse News Service desde 2019 onde cobre Haia e as áreas circundantes, incluindo os Países Baixos, Bélgica e Luxemburgo; desde 2011 é editora colaboradora no DutchNews B.V.; desde 2008 é sócia no MSQRD Services, empresa de consultoria especializada em ajudar os clientes a melhorar a forma como comunicam; em 2018 e 2019 foi conselheira de comunicação científica na Universidade de Tecnologia de Delft. É licenciada em Ciência Política e Economia pela Universidade de Maryland, College Park e é mestre em Ciência Política pela mesma Universidade.

 

 

 

 

 

 

 

 

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