CARTA DE BRAGA – “A geração perdida” por António Oliveira

Não vou escrever sobre Sócrates, Rosas, corrupções, ‘manhas’, ‘grilos falantes’, nem das outras terminologias com que, nos últimos tempos, sou agredido a qualquer hora do dia ou da noite, só dependendo do meio de comunicação a que estiver ligado, seja qual for a via usada. 

Hoje, vou debruçar-me sobre algumas estórias, conseguidas pelas mesmas vias e a primeira, li-a em algum lado e não a perdi por a ter escrito depois em casa, devido às personalidades que a habitavam, apesar de a expressão ser recorrente e aplicada há mais de cem anos.

De acordo com o que li, mesmo sem usar as palavras que o autor teria usado, a expressão ‘geração perdida’ terá nascido numa oficina de automóveis em Paris, depois de acabar a Primeira grande Guerra, onde e quando a poeta e romancista Gertrude Stein, esperava que um mecânico arranjasse qualquer coisa no seu carro e o ouviu ralhar com o desajeitado e jovem ajudante, ‘sois uma geração perdida!’. 

Stein contou depois o acontecido ao seu grande amigo Ernest Hemingway, que com a estória construiu o enredo do romance ‘A Festa’, expressão que depois, passou a referir os escritores norte-americanos que, por razões diversas, já viviam ou viriam a viver na Europa, como Scott Fitzgerald, Steinbeck, Henry Miller, John Dos Passos e outros mais, que não recordo agora, nem me preocupa grandemente. 

Nem sequer sei se eles assumiriam ou viriam a ter mesma opinião, apesar de o tempo ter vindo a amenizar tal afirmação, mas como dizia a estória que li, não terá passado de ‘um extravio literário’, talvez a ter em conta a inegável qualidade dos nomes citados. 

E por estar em maré de escritores e estórias, não resisto a contar esta, mas tirada de um site qualquer na net, quando à procura de outra coisa porque se há um autor que mais parece um personagem de ficção, terei de citar Ian Fleming, o criador do espia mais famoso do cinema, James Bond. 

No filme ‘Casino Royale’, Bond pede ao barman para lhe preparar um clássico ‘Dry Martini’, mas com três medidas de genebra, uma de vodca e meia de ‘Kina Lillet’, mistura que o mesmo Fleming viria a adoptar para si, mas como o nome de ‘Vesper Martini’, em homenagem à agente Vesper Lynd, no filme interpretada por Ursula Andress, mas a que ele juntava, sempre que o pedia, uma outra expressão que também fez história na literatura, ‘Misturado, não agitado’.

Completamente diferente e perfeitamente adaptada a estes tempos, mais outra, esta contada pelo académico e escritor António Muñoz Molina que, com ela pretende combater o descrédito da preguiça e da inacção porque, garante ele, o silêncio fala, principalmente o silêncio necessário e maravilhoso, de duas pessoas que se entendem sem dizer nada, em oposição a outro silêncio, canceroso, o do livro em que as pessoas se vão recluindo. 

E Muñoz Molina conta o ‘precioso’ momento de Montaigne, referindo o seu maior amigo, De La Boétie, apesar de não se conhecerem, mas terem lido e ouvido falar um do outro e ‘Antes de nos conhecermos, já nos abraçávamos nos nossos nomes’.

O que mais ‘precioso’ existe neste caso, é que La Boétie morreu em 1563 e Montaigne retira-se da vida pública em 1571, aos 38 anos, para se dedicar a uma obra em que tenta chegar à ‘téléia philia’, a união perfeita aristotélica, como se tentasse ultrapassar aquele desencontro, que amargou até morrer. 

E termino esta Carta, com um aforismo da escritora George Eliot, por estarmos a viver numa época de futuro com muitas dúvidas, tirado da novela ‘Middlemarch’, ao referir como um rio vai perdendo o seu caudal, devido aos canais que nunca tiveram grande nome naquela terra, ‘Porque o crescimento do bem no mundo, depende em parte, de actos que nada têm de históricos; e como agora não vão tão mal como poderiam ir, deve-se em boa parte aos muitos que viveram fielmente uma vida anónima, em campas que ninguém visita’.

Geração ou programações, comentadeiros e conteúdos perdidos?

António M. Oliveira

Não respeito as normas que o Acordo Ortográfico me quer impor

 

 

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