A MORTE DO MINISTÉRIO DA VERDADE – QUEM SERÁ O PRÓXIMO? – por JOSEPH MERCOLA

https://www.flickr.com/photos/josephmercola/4339669475/ – obrigado à Wikipedia

 

The Death of the Ministry of Truth — What Will They Do Next?, por Joseph Mercola

Global Research, 7 de Junho de 2022

Selecção, introdução e tradução por Júlio Marques Mota

Revisão de João Machado

Sobre a morte do Ministério da Verdade

Meus caros amigos e amigas

A semana passada,  a 9 de junho, fez 73 anos que foi publicada a obra 1984, de George Orwell, obra de referência para a análise dos estados totalitários ou daqueles que para lá caminham.

A recordar esta data um texto sobre a atualidade, sobre a informação e a desinformação, é o que anexo.

Os media massacram-nos diariamente com a guerra da Ucrânia depois de nos dizerem que a Verdade é a primeira vítima a cair na guerra. Se isto  é verdade estão então a mentir mas se estão a mentir confirmam que a verdade caiu e portanto estão a falar verdade.  Se dizem a verdade, estão a mentir porque a verdade não caiu, contrariamente à afirmação de partida. Estamos perante uma afirmação contraditória nos seus termos.  Este é o paradoxo de Epiménides de Creta   cujo enunciado é o seguinte: sou cretense e todos os cretenses são mentirosos. Como cretense, se o que diz é mentira, então está a dizer a verdade, todos os cretenses são mentirosos mas se está a dizer a verdade está a mentir, pois, como cretense que é, é um mentiroso[1]. .. Este é o paradoxo do mentiroso  que, como se vê, é equivalente aos nossos média que nos dizem que a primeira vítima da guerra  é a verdade que cai e continuam  a massacrar-nos com notícias dela.

Mas um outro paradoxo surge agora com a administração Biden que recentemente criou o chamado  Conselho de Governação da   Desinformação no quadro do Departamento de Segurança Interna (DHS) dos EUA (o equivalente ao nosso Ministério da Administração Interna). No fundo, isto diz-nos que o detentor  da verdade é o Estado, com a função de limpar  o que considerar como sendo desinformação.   Isto faz-nos lembrar o  Ministério da Verdade bem caracterizado na obra magistral de   Orwell,  1984. Dito de outra maneira, a democracia americana para se  sustentar precisa de uma instituição que nega o seu próprio fundamento como Democracia, o Conselho de Governação da   Desinformação, uma contradição nos termos da Democracia, tal como o paradoxo Epiménides de Creta   é uma contradição no campo da lógica bem patente no seu  próprio enunciado. Com esta  instituição a Administração Biden considera “democraticamente” que a  verdade passa a   ser considerada como propriedade do Estado e das instituições a quem encarrega de fazer respeitar essa mesma sua Verdade, sem que seja visível o peso do Estado. E isto reenvia-nos para Orwell, de novo.   Relembrar Orwell hoje, 9 de junho,  parece-me importante pois foi nesta data que saiu a público a primeira edição de 1984, a sua obra maior.

A nova realidade americana (será mesmo nova?), bem evidente com a criação desta Comissão para a Desinformação  por Biden, remete-nos assim para Orwell, para o seu livro A quinta dos animais, e mais precisamente para o seu prefácio publicado cerca de 30 anos depois do primeira edição do livro onde Orwell  nos diz que a Quinta dos Animais  é uma sátira de um estado totalitário, mas nele diz-se  também que a Inglaterra livre não é muito diferente. Na Inglaterra livre, as ideias impopulares podem ser suprimidas sem o uso da força, e ele deu exemplos. É muito semelhante aqui e agora. E não importa quão extremas elas sejam. A Comissão para a Desinformação, hoje, 2022, mostra  o aspeto premonitório desse grande escritor que foi  Orwell.

É deste anomalia, deste novo paradoxo criado pela Administração Biden  que nos fala o texto que se segue.

Coimbra, 11  de junho de 2022

Boa leitura.

Júlio Marques Mota


[1] Ao dizer minto o cretense gera  um paradoxo, pois como  mentiroso ao afirmar que mente e estando a mentir estaria a dizer a verdade, o que é contrário ao facto de ser mentiroso e em contrapartida ao dizer a verdade estaria a mentir dizendo que é mentiroso quando afinal está a dizer a verdade. Contradição insolúvel diga o que disser.

***

 

The Death of the Ministry of Truth — What Will They Do Next?, por Joseph Mercola

 

– De 6 a 8 de Abril de 2022, o Instituto de Política da Universidade de Chicago e a revista The Atlantic organizaram uma conferência intitulada “Desinformação e a Erosão da Democracia”. O evento revelou que os principais meios de comunicação social estão de tal forma  comprometidos  com os democratas de Washington,  que têm estado incapaz de relatar as notícias.

– O caloiro da UC Christopher Phillips, um colaborador  do jornal da Universidade de Chicago, o Chicago Thinker, confrontou a CNN sobre vários casos em que  esta cadeia de televisão promoveu mentiras  provadas, informação errada ou desinformação comprovada.

– O editor-chefe de Atlantic  acusou os repórteres estudantes que estavam a fazer perguntas  bem pertinentes  de andarem a fazer  “uma campanha de desinformação”  na conferência.

– Toda a guerra se baseia no engano, e estamos atualmente em guerra. É por isso que estamos constantemente a ser bombardeados com a ideia de que os que dizem a verdade estão a mentir, e que os mentirosos estão a dizer a verdade.

– O “Ministério da Verdade” da administração Biden foi, por enquanto, suspenso, e a sua chefe, Nina Jankowicz, demitiu-se.

 

 

De 6 a 8 de Abril de 2022, o Instituto de Política da Universidade de Chicago e a revista The Atlantic organizaram uma conferência intitulada “Desinformação e a Erosão da Democracia”.

O evento de três dias explorou “a disseminação organizada da desinformação e as estratégias para lhe dar resposta”. Os oradores incluíram o ex-Presidente Barack Obama, o colunista Jonah Goldberg, a especialista em história marxista Anne Elizabeth Applebaum e o âncora da CNN Brian Stelter, só para citar alguns dos participantes.

Mas, como notado pelo apresentador da Fox News Tucker Carlson (vídeo acima), o que não contavam era com o facto de nem todos terem sido submetidos a uma lavagem cerebral de modo a conduzi-los ao esquecimento. Alguns estudantes universitários ainda têm faculdades mentais a funcionar a toda a velocidade. Durante uma sessão de perguntas e respostas, o caloiro da UC Christopher Phillips, um escritor do jornal da Universidade de Chicago, o Chicago Thinker, fez a seguinte pergunta2:

“Todos vocês falaram exaustivamente sobre a Fox News ser um fornecedor de desinformação, mas a CNN está mesmo lá em cima com eles. Os jornalistas da CNN  insistiram no embuste do conluio russo, insistiram no embuste de Jussie Smollett, difamaram Justice Kavanagh como um violador, e também difamaram Nick Sandman como um supremacista branco.

E sim, rejeitaram o portátil de  Hunter Biden como pura desinformação russa. Os erros dos principais meios de comunicação social, e da CNN em particular, parecem ir todos, por magia, numa só direção. Espera-se que acreditemos que tudo isto é apenas uma espécie de coincidência aleatória, ou há algo mais por detrás disto”?

CNN – Um Delinquente Crónico Impenitente

Stelter respondeu: “Penso que estás a descrever um canal diferente daquele que eu vejo. Mas compreendo que essa é uma narrativa popular de direita sobre a CNN”. Assim, em primeiro lugar  rejeitou a premissa da pergunta, e depois desacreditou Phillips por ter feito a pergunta.

A 8 de Abril de 2022, Phillips participou  no programa de Carlson para explicar  o que o levou a confrontar estes autoproclamados especialistas em desinformação. Ele assinalou que a conferência estava repleta de personalidades dos meios de comunicação que passaram todas as suas carreiras a espalhar desinformação, e agora é suposto que nos ensinem e nos protejam da desinformação?

Phillips disse que embora não esperasse que Stelter “entregasse as chaves” da CNN e admitisse que eram corruptas, esperava que ele admitisse que tinham sido cometidos erros e que tinham sido emitidas correções. Infelizmente, nada disso aconteceu. Não houve remorsos. Nenhum pedido de desculpas. Não houve retratações.

Em vez disso, Stelter deu uma resposta vaga que não era resposta nenhuma e que não  fazia  nenhum sentido para a maioria das pessoas, basicamente provando que a CNN não tem qualquer intenção de estar à altura dos padrões e das  expectativas jornalísticas. A resposta de Applebaum a uma pergunta sobre o portátil de  Hunter Biden foi talvez ainda pior (ver aqui).

Toda a Guerra é Baseada em Enganos

Neste ponto, deve ficar claro para todos que estamos em guerra, embora não declarada, e como notou Sun Tzu em “A Arte da Guerra”, toda a guerra se baseia no engano. É por isso que estamos constantemente a ser bombardeados com a ideia de que os que dizem a verdade estão a mentir, e que os mentirosos estão a dizer a verdade.

Vivemos numa realidade invertida, em que a parte de cima está  por baixo e a esquerda  está à direita. O engano é a marca do dia, e a razão pela qual somos bombardeados com o engano é porque esta é uma guerra de informação. Em vez de dispararem mísseis contra as nossas cabeças, os atacantes estão a disparar mísseis contra os nossos cérebros.

Mas o objetivo final é o mesmo que em qualquer outra guerra. O atacante ataca sempre com a intenção de ganhar alguma coisa, e neste caso, a cabala tecnocrática e transumanista infernal, centrada no domínio mundial, tem a intenção de  nos fazer render às  suas ambições.

O Ministério da Verdade da Administração  Biden

Em finais de Abril de 2022, descobrimos que o Departamento de Segurança Interna (DHS) dos EUA tinha criado calmamente, nos bastidores, um Conselho de Governação da Desinformação3,4. O efeito adverso foi imediato. As conotações orwellianas eram tão flagrantes, que so poucos não deram por elas.

A mulher escolhida para liderar este Ministério da Verdade foi Nina Jankowicz5 , uma “especialista em desinformação russa ” mais conhecida por  ter colocado no tweeter mentiras facilmente  reconhecidas e por  cantar músicas inventadas sobre a desinformação e canções eróticas sobre  Harry Potter6 no TikTok.

Num caso, ela afirmou que a história do portátil de Hunter Biden era “um produto da campanha Trump7 ” , embora não haja uma réstia de prova que sustente essa afirmação. Num outro caso, ela descartou-a como  um “conto de fadas”8 , apesar de haver muitas provas que confirmam a sua autenticidade.

Jankowicz também se opôs publicamente à Primeira Emenda da Constituição dos EUA, dizendo que a liberdade de expressão é má para as “comunidades marginalizadas”. No entanto, logo a seguir , ela insistiu que “proteger a liberdade de expressão, da vida privada, dos direitos cívicos  e liberdades civis” seria “um enorme prioridade ” do  novo conselho para a desinformação9

Como se pode proteger a liberdade de expressão e simultaneamente combatê-la? Não faz sentido, mas, mais uma vez, não se pretende que faça sentido. As pessoas são mais sugestionáveis quando estão confusas, e a irreconciliável dupla linguagem é definitivamente confusa.

‘Peritos em Anti-Desinformação’ = Propagandistas

O jornalista independente Glen Greenwald salientou a óbvia falta de credenciais reais de Jankowicz num artigo do Substack de 4 de Maio de 2022, observando que10:

“O próprio conceito de ‘perito em antidesinformação’ é completamente fraudulento. Não se trata de uma verdadeira perícia, mas sim de um título inventado que é  conferido aos propagandistas para os fazer parecer mais eruditos e apolíticos do que eles de facto  são..

Não há nenhuma circunstância concebível em que uma agência nacional de aplicação da lei como o DHS deva reivindicar o poder de decretar a verdade e a falsidade … O objetivo dos agentes da Segurança Interna é propagandear  e enganar, não é esclarecer,  informar.

O nível de ignorância histórica e de estupidez necessário para acreditar que os agentes do Estado de Segurança dos EUA estão seriamente dedicados a expor e a decretar a verdade está fora das normas praticadas … Que ninguém queira  que o Governo dos EUA, quanto mais a Segurança Interna, se arrogue  o poder de declarar a verdade e a falsidade parece uma coisa mais que evidente”.

O Ministério da Verdade confronta-se com uma barragem no seu caminho  (ver aqui)

 

 

Felizmente, o ridículo  público tornou-se demasiado  grande para se  suportar, pelo que o Ministério da Verdade foi, por enquanto, colocado em espera,11  e Jankowicz demitiu-se. De acordo com um porta-voz do DHS12:

“O objetivo da Comissão foi grosseiro e intencionalmente mal caracterizado: nunca se tratou de censura ou de discurso policial de qualquer forma … Como a sua diretora executiva, Nina Jankowicz foi sujeita a ataques pessoais e ameaças físicas injustificados  …”

À parte as ameaças contra Jankowicz, o objetivo da Comissão  não foi mal caracterizado, e claramente tem a ver com a   censura e o discurso policial em nome do governo, em clara violação da Constituição. O próprio título da Comissão  informa-nos claramente que se tratava da governança da desinformação.

Ler também: Homeland Security’s “Disinformation Board” Is Even More Pernicious Than It Seems

A “governança” é definida como “o ato ou processo de governar ou de supervisionar o controlo e a direção de algo”. Os sinónimos incluem “autoridade, jurisdição, regime” e “regra”13. Assim, “Governança da desinformação” significa claramente que a  Comissão  pretendia ter a jurisdição de governar sobre informações consideradas falsas.

Jankowicz afirmou mesmo que “pessoas dignas de confiança, confirmadas”, como ela própria, deveriam ter o poder  para editar os tweets de outras pessoas e os posts nas redes sociais! 14  “As pessoas confirmadas  podem essencialmente começar a editar o Twitter da mesma forma que a Wikipedia, para que possam acrescentar contexto a certos tweets”, disse ela. Como é que isso não é censura? Como é que isso não é um discurso de policiamento sobre as pessoas?

Definir ‘Governança’.

Definir corretamente as palavras e utilizá-las corretamente nunca foi tão importante, porque em muitos aspetos, a própria sanidade da nossa sociedade depende disso. Todos os dias, ao que parece, o inimigo tenta redefinir ou confundir a definição de palavras que têm significados muito claros e específicos, porque sem definições claras, não podemos ter uma conversa racional, e sem uma conversa racional, o inimigo ganha.

Uma citação amplamente atribuída ao antigo diretor da CIA William Casey, em 1981, que parece valer a pena aqui reproduzir  foi a seguinte: “Saberemos que o nosso programa de desinformação estará completo quando tudo em  que o  povo americano  acreditar for falso 15“.

Embora alguns duvidem que Casey alguma vez tenha dito isto, Barbara Honegger, que na altura era  assistente do conselheiro principal de política interna do Presidente Ronald Reagan, confirmou publicamente que ela estava presente quando ele o disse. De acordo com Honegger, Reagan perguntou a Casey qual era o seu objetivo como diretor da CIA, e foi essa a sua resposta.

Enquanto a CIA, em 1981, estava a mergulhar numa conspiração para derrubar o governo na Líbia, nesse mesmo ano, um repórter de investigação chamado Jack Anderson também revelou que a CIA estava a travar uma guerra de desinformação contra o povo  americano. Segundo Anderson, Casey defendeu o “direito do governo de enganar o povo americano  através da criação de  histórias falsas na imprensa”. Mas como Thomas Jefferson observou, “o direito do povo em  saber é mais importante do que o direito dos funcionários a governar”.

Casey era supostamente um patriota que via a mentira como um meio de obter o apoio da população  para medidas políticas, económicas e militares. Poder-se-ia argumentar que pouco mal foi feito ao público americano neste processo, para além de se criar ignorância sobre as verdades geopolíticas. As mentiras que hoje nos alimentam são, no entanto, em alguns casos, uma ameaça à vida, e são definitivamente uma ameaça direta à liberdade.

A Obsessão Liberal com a Desinformação é um Tiro nos Próprios Pés

Num artigo do Intelligencer de 20 de Maio de 2022, Sam Adler-Bell sublinha16 que:

“De acordo com Lorenz [Taylor Lorenz do Washington Post] e as suas fontes … Jankowicz foi derrubada “pelas mesmas forças contra as quais ela  dedicou a sua carreira” … Por outras palavras, a  Comissão  de Governança em  Desinformação foi desfeita por uma  campanha clássica  de desinformação que vem nos livros’.

Esta versão da história é ricamente irónica e trágica … [De] uma  outra perspetiva, a campanha da direita contra a Comissão de Desinformação assemelhava-se a qualquer outro esforço bem sucedido de advocacia para travar uma iniciativa governamental …

Não vejo como é que uma Comissão  de Governança sobre  Desinformação plenamente operacional poderia ter impedido este resultado – exceto através dos próprios meios que os conservadores (erradamente?) temiam que ela  tivesse à sua disposição.

Se, como Lorenz tem o cuidado de notar, ‘nem a direção nem Jankowicz tinham qualquer poder ou capacidade para declarar o que é verdadeiro ou falso, ou obrigar os fornecedores de acesso à  Internet, plataformas de redes sociais ou escolas públicas a tomar medidas contra certos tipos de discurso’, então como é que teriam impedido   a  direita de colocar no Tweeter  coisas terríveis e desonestas sobre Jankowicz? …

[Um] outro problema pernicioso da fixação dos liberais na “desinformação” é que ela lhes permite mentir a si próprios. A ascensão de Trump em 2016 representou um doloroso desafio psíquico para as elites liberais.

Sugeria a possibilidade de  muitos milhões de americanos serem motivados por profundas e venenosas insatisfações para com o mundo que os liberais  tinham ajudado a criar, que as nossas divergências culturais eram profundas, e não superficiais, e que as nossas perspetivas eram inversões praticamente irreconciliáveis umas das outras….

A “desinformação” foi a reação traumática do Establishment  Liberal à ferida psíquica de 2016. A “desinformação” forneceu-lhe uma resposta que eludia por completo a questão, protegendo-os da agonia da autorreflexão …

Como outras reações patológicas ao traumatismo, a neurose da desinformação tendeu a recriar as condições que logo de início produziram a aflição”.

Bell prossegue discutindo a conferência da Universidade de Chicago sobre a desinformação e a Erosão da Democracia, observando que “reunir os principais lideres  do liberalismo num auditório da Universidade de Chicago – para que juntos possam decidir que informação é verdadeira e segura para ser consumida pela ralé lá fora – parece-me ser um exercício oco de auto‑resgate, mais suscetível de agravar os sintomas da nossa crise de legitimidade (desconfiança e cinismo) do que destinado  a  resolver qualquer dos seus impasses”.

De facto, a resposta de Stelter à pergunta de Phillips sobre o registo de desinformação da CNN nada faz para melhorar a confiança nos principais meios de comunicação social. Além disso, creio que a maioria das pessoas sente instintivamente que há algo de realmente suspeito na mania da desinformação e na informação. Como notado por Joseph Bernstein no seu artigo de Setembro de 202117. ” Bad News : Selling the Story of Disinformation”:

“Uma análise rápida das instituições que mais frequente  e influentemente publicam sobre  a  desinformação”: Universidade de Harvard, New York Times, Universidade de Stanford, MIT, NBC, Atlantic Council, Council on Foreign Relations, etc.

O facto  de que  as instituições liberais mais prestigiadas da era pré-digital sejam as que mais  investiram  no combate à desinformação revela muito sobre o que podem correr o risco de perder  ou em recuperar… Por muito bem-intencionados que estes profissionais sejam, não têm acesso especial ao tecido da realidade”.

Penso que isso explica porque é que as pessoas instintivamente não confiam naqueles que recorrem aos gritos de “desinformação” s cada instante. Universalmente, as pessoas compreendem que nenhuma pessoa, e certamente nenhuma agência governamental, tem “acesso especial à génese da realidade”, como diz Bernstein.

A Privatização da Censura

Os altos funcionários  governamentais apercebem-se de que enquanto anseiam pelo controlo total da informação, a censura não é uma coisa com bom aspecto. É por isso, creio eu, que a administração Biden desligou a máquina ao Ministério da Verdade. Não era que a Comissão de Governança da Desinformação estivesse a ser descaracterizada e a ser combatida injustamente.

Houve  demasiadas pessoas que terão  compreendido   que a  Comissão  tinha sobretudo a ver com a censura inconstitucional sancionada  pelo governo. Essa compreensão generalizada trouxe más relações públicas para além de uma popularidade já em baixa, a um nível recorde. Isso não significa, contudo, que o esforço de censura não vá continuar. Até agora, eles têm sido excecionalmente eficazes na externalização da censura a ser feita por empresas privadas. Assumir a propriedade direta da mesma com uma Comissão gerida pelo governo foi simplesmente um passo demasiado grande nesta altura.

Assim, sem qualquer dúvida, podemos esperar que o Facebook, o Twitter e as restantes empresas ligadas a esta questão  continuem a censurar em nome do governo, até ou a menos que o ramo judicial dos EUA prove que não é totalmente corrupto e faça algo em relação a isso. Por enquanto, talvez tenhamos de recorrer a outras vias para esse tipo de justiça.

Verificador de Factos em Fuga

Segundo o jornalista independente Paul Thacker18 , Emmanuel Vincent, presidente da Science Feedback, um serviço de verificação de factos no Facebook, foi intimado  a comparecer em tribunal para responder pelas suas  informações  enganadoras quanto à  verificação de factos, e está agora em fuga.

No quadro de uma pretensa verificação sobre os factos Science Feedback colocou a etiqueta   “”desinformação” sobre um ensaio do investigador Marty Makary, da Johns Hopkins, no qual ele previu que a imunidade do rebanho COVID-19 estava iminente. Como  foi referido por  Thacker19: :

“Aqui está o problema, não é necessário um doutoramento em epidemiologia para compreender que quando os especialistas analisam os estudos e fazem previsões podem estar errados. Duh. As previsões são opiniões, não factos.

E embora não haja nada de errado com o Science Feedback afixar uma previsão contrária, rotular a sua própria opinião como “facto” apenas prova que falham no plano da lógica.

Esta incapacidade de perceber a diferença entre opinião e facto fez do Science Feedback o alvo do desprezo online, mas o que levou Vincent a uma esquadra de polícia e a fugir da justiça … é a conivência do  Facebook com  o governo federal para negar às pessoas os seus direitos segundo a  Primeira Emenda.

Tudo isto pretendendo  ser uma “verificação independente dos factos” … […] foi isto que pôs Vincent a fugir para Paris e andar a correr de morada em morada, por toda a cidade”.

Vincent aparentemente foi notificado várias vezes, mas recusou-se a assinar qualquer dos documentos, alegando que o caso é com  uma empresa chamada SciVerify, uma subsidiária da Science Feedback, que trabalha em parceria com o Facebook, e não com a própria Science Feedback. Do que é que  se está a esconder?

Em suma, está a tentar desesperadamente “evitar a responsabilização pública perante um sistema judicial que não é (ainda) manipulado pelo Facebook”, escreve Thacker. Sabemos agora que o Facebook e os seus verificadores de factos subcontratados estão a conspirar nos bastidores para censurar em nome do governo20 , e isso é flagrantemente ilegal.

A Erosão da Democracia é uma Realidade

Voltando ao ponto de partida, com a conferência de desinformação da Universidade de Chicago, uma das maiores revelações da mesma foi que os principais meios de comunicação social estão tão envolvidos  com os democratas de Washington, que são incapazes de relatar as notícias.

O editor-chefe do Atlantic chegou mesmo a criticar  Phillips e outros repórteres estudantes, que fizeram perguntas pertinentes, acusando-os de estarem a levar a cabo  uma “campanha de desinformação” na conferência!21 Isto diz-nos até que ponto são vulneráveis  e até que ponto a sua  defesa é monocórdica. Eles realmente não têm defesa quando confrontados com a verdade, por isso gritam “Desinformação”! Como é relatado pelo American Thinker22 :

“É importante compreender que quando os liberais usam palavras tais como preconceito, partidarismo, desinformação, distorções, e fantasia, estes são termos exclusivamente dirigidos aos meios de comunicação social de direita..

Membros proeminentes dos meios de comunicação conservadores como Sean Hannity e Tucker Carlson e o falecido Rush Limbaugh têm adjetivos como ‘direita’ … prefixados aos seus nomes. São mesmo chamados propagandistas. No entanto, pessoas como Rachel Maddow e Anderson Cooper são chamadas jornalistas; não  lhes são aplicados quaisquer  adjetivos.

A Fox News será chamada uma rede de notícias de direita, enquanto a MSNBC ou a CNN é simplesmente  chamada de agência noticiosa. Para qualquer pessoa que deseje estudar as câmaras de eco liberais, a Conferência de Desinformação é o fórum ideal.

Não houve sequer a pretensão de ocultar preconceitos … Os pontos de vista expressos não são semelhantes, mas sim  idênticos. A sua moralização provocou tais níveis de ilusões que se consideram como os únicos guardiães dos factos, da verdade  e do bom gosto….

O fórum e as afirmações de Stelter e Applebaum provam o que os conservadores sabem desde há muito [tempo]: os principais meios de comunicação social são a ala de propaganda do partido Democrata.

Na cúpula dos democratas há hábeis criadores de palavras  e estrategas de desinformação que fornecem aos meios de comunicação chavões e pontos de conversa para o dia que estes seguem meticulosamente. Isto explica porque têm opiniões idênticas e utilizam palavras idênticas …

A Conferência de Desinformação demonstra que nunca haverá qualquer correção de rumo simplesmente porque os propagandistas não pensam que tenham errado de forma alguma. Isto é verdadeiramente uma erosão da democracia”.

NOTAS:

 

 

 

Excerto de Homeland Security’s “Disinformation Board” is Even More Pernicious Than it Seems, publicado por Greenwald em 4 de maio de 2022 e disponível aqui

A  Administração Biden anunciou  na semana passada a criação do que está a chamar uma  “Comissão de Desinformação” dentro do Departamento de Segurança Interna (DHS). Não há nenhuma circunstância concebível em que uma agência de aplicação da lei nacional como o DHS deva pretender assumir o poder de decretar a verdade e a falsidade. Os agentes do Estado de Segurança dos EUA não se dedicam ao combate à desinformação. O oposto é verdade: são formados para serem  mentirosos de carreira encarregados de inventar e difundir a desinformação. Como escreveu Jack Schafer, do Politico:

Quem entre nós pensa que o governo deveria acrescentar à sua lista de trabalho a tarefa de determinar o que é verdade e o que é desinformação? E quem pensa que o governo é capaz de dizer o que a verdade? O nosso governo produz mentiras e desinformação à escala industrial e sempre produziu. O  nosso governo classificou em demasia a informação como vital  para impedir que os seus próprios cidadãos se tornem mais  conscientes. Paga a milhares de assessores de imprensa para jogarem às escondidas com os factos….Fazer do governo federal o guardião oficial da verdade seria como dar a um arrombador de cofres-fortes  um emprego a conduzir um carro blindado.

O objetivo dos agentes da Segurança Interna é propagar e enganar, não informar e esclarecer. O nível de ignorância histórica e estupidez necessário para acreditar que os agentes do Estado de Segurança dos EUA estão seriamente dedicados a expor e decretar a verdade – como  Brian Stelter da CNN evidentemente acredita, dado que elogiou este novo programa governamental como “senso comum” – não tem qualquer sentido.. Como Jameel Jaffer, um ex-membro da ACLU e agora pertencente ao  Knight First Amendment Institute  de Columbia, afirmou, o mais preocupante é “o facto de a direção estar alojada no DHS, uma agência especialmente opaca que tem atropelado as liberdades civis no passado”.

Tipicamente, qualquer tentativa de aplicar o romance de aviso de George Orwell de 1984 à política dos EUA é reflexivamente descartada como hiperbólica: um país livre e democrático como os Estados Unidos não poderia cair vítima da repressão distópica que Orwell descreve. No entanto, é bastante difícil distinguir este “Disinformation Board” do Ministério da Verdade da Ingsoc. O protagonista do romance de Orwell, Winston Smith, trabalhou no Ministério da Verdade e descreveu longamente como a sua principal função era criar versões oficiais de verdade e falsidade, que  aderissem sempre às necessidades do governo do momento e estavam sujeitas a mudanças radicais à medida que esses interesses evoluíam.


Para ler no original o texto de Joseph Mercola clique em:

The Death of the Ministry of Truth — What Will They Do Next? – Global

ResearchGlobal Research – Centre for Research on Globalization

 

E para ler o de Glenn Greenwald clique em:

Homeland Security’s “Disinformation Board” is Even More Pernicious Than it Seems (substack.com)

 

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