BRASIL DE FATO – BOLETIM PONTO – PRA TUDO TERMINAR NUM DOMINGO, por LAURO ALLAN ALMEIDA DUVOISIN e MIGUEL ENRIQUE STÉDILE

 

Duas pesquisas com resultados diferentes reforçam a nova tática da campanha lulista de disputar o voto cirista e concentrar todas as forças para encerrar a eleição no primeiro turno – Ricardo Stuckert

Sexta-feira, 16 de Setembro de 2022

 

Olá! Há duas semanas para as eleições, pode haver segundo turno, mas pode não haver, e o futuro do país pode ser decidido por meia dúzia de votos.

 

.Voto inútil. Duas pesquisas com resultados diferentes reforçam a nova tática da campanha lulista de disputar o voto cirista e concentrar todas as forças para encerrar a eleição no primeiro turno. A Quaest reforça a tese de que a segunda via sempre foi um bolsonarismo envergonhado: impulsionado pelos ataques de Ciro e Tebet, Lula aparece perdendo votos dos eleitores dos dois no segundo turno, enquanto a rejeição ao capitão e ao bolsonarismo diminui. Já o IPEC traz boas notícias: como esperado, o circo de sete de setembro não alterou em nada a campanha de Bolsonaro e, principalmente, Ciro não apenas estancou como tem perdido eleitores para Tebet e para Lula. A PoderData e a Datafolha também revelam que o eleitor de Ciro é mais volátil e mais propenso a votar em Lula. Para sinalizar para a militância que a tarefa agora é buscar o voto cirista, a campanha de Lula pôs em campo de centrais sindicais à artistas, passando pelo ex-jogador Raí. Para além disso, se de fato a economia decidir a eleição, os assessores econômicos dos três candidatos de oposição concordam com a reforma tributária e em não privatizar a Petrobrás, o que facilitaria a migração de votos de Ciro e Tebet para Lula. A antecipada adesão de Marina Silva à campanha do petista também contribui para isolar Ciro, reforçando a ideia de que agora o mais importante é derrotar o bolsonarismo. Por outro lado, o maior empecilho para conquistar o voto cirista é o empenho do próprio Ciro em atuar como um Robin Hood que rouba votos de Lula para entregá-los a Bolsonaro, além do apelo aos seus eleitores que o defendam tal como um grande amor.

.Fazendo as contas. A aposta da campanha petista em tentar vencer a eleição no primeiro turno tem mais de preocupação do que de clima de oba oba. As pesquisas espontâneas, que identificam o eleitor mais convicto, têm apontado um crescimento de Bolsonaro. Por isso, não é apenas no eleitor cirista que a equipe de Lula deve centrar fogo nos próximos dias para fechar a fatura. Um dos movimentos mira a redução das abstenções no dia da eleição, enquanto a outro dialoga com o eleitor indeciso. Ou melhor, a eleitora: mulher, da classe C e moradora do sudeste. Além disso, Lula teria vantagem para conseguir o voto do indeciso que está cansado de hostilidade e violência no debate político. A retomada do crescimento de Lula na pesquisa IPEC, já viria destes ex-indecisos.  E, por fim, a Quaest descobriu que a favor de Lula estaria ainda um possível voto envergonhado. Para Valério Arcary, só isso não basta. O historiador alerta que a eleição ainda não está decidida e romantizar o passado é um risco; e não se deve subestimar o bolsonarismo, mas conquistar a eleição nas ruas com mobilização e organização.

.De volta ao normal? Passada uma semana do tão falado sete de setembro, a possibilidade de um golpe bolsonarista parece cada vez mais distante e a campanha eleitoral vive um clima de normalidade. Mas a fala de Bolsonaro de que poderia “passar a faixa” e se recolher após a eleição pode ser enganadora. Afinal, segue a escalada de violência política, intimidando grande parte da população a manifestar-se publicamente. Além disso, as conexões do bolsonarismo com grupos armados, vinculados inclusive com o crime organizado, mostram que é cedo para baixar a guarda. E mesmo depois de tantos revezes, as forças armadas continuam portando-se como o vira-lata que persegue a roda do TSE, latindo sem parar contra as urnas, inclusive com fake news de uma suposta apuração paralela. Mas, se antes do dia dois de outubro parece não haver espaço para um golpe, o mesmo não se pode dizer do jogo sujo eleitoral. Enquanto a campanha de Lula aposta em vencer no primeiro turno, a de Bolsonaro acredita que o segundo turno já começou. Por isso, vale de tudo, especialmente brincar com dinheiro: liberar uma nova rodada de R$ 3,5 bilhões em verbas inconstitucionais para o centrão via orçamento secreto no Congresso, maquiar as contas dos gastos com o sete de setembro e pedir o dízimo para os fiéis nas redes sociais. Ao mesmo tempo, o bolsonarismo fortalece seu arsenal de fake news contra Lula e busca reacender o espírito lavajatista no eleitorado, insistindo em acusar o petista de corrupção sem se preocupar com o fato de que sua própria base aliada está mais enrolada que namoro de cobra com a justiça. O trunfo do capitão, é claro, continua sendo o perfil conservador de grande parte da população. Exemplo disso é que, segundo a pesquisa IPEC, 70% do eleitorado é contra a legalização do aborto. Mas só isso não basta para vencer uma eleição, afinal 37% do eleitorado se identifica como sendo de centro, enquanto apenas 35% se diz de direita e 26% de esquerda. Ou seja, o problema de Bolsonaro é que ele é incapaz de sair do chiqueirinho da direita, enquanto Lula avança sobre o centro.

 

.Ponto Final: nossas recomendações.

.Escravidão disfarçada: após a abolição, fazendeiros usaram tutelas para manter crianças negras trabalhando. O Globo revela como fazendeiros mantiveram a escravidão infantil após a abolição.

.Vijay Prashad aponta os limites aos projetos de esquerda na América Latina na atualidade. Em entrevista ao Brasil de Fato, o historiador indiano e coordenador do Instituto Tricontinental analisa as mudanças geopolíticas na América e no mundo.

.A verdadeira história da cassação do vereador negro de Curitiba. A Piauí reconta como a direita paranaense abandonou qualquer escrúpulo para cassar o mandato do vereador Renato Freitas (PT).

.Basta de tentativas de ‘ciencídio’. Os pró-reitores das três universidades estaduais paulistas assinam conjuntamente manifesto em defesa da ciência e do investimento em educação.

.Símbolo da resistência, livro é esquecido nos programas de governo. O Diplomatique Brasil lamenta a ausência de políticas para o mercado editorial nas propostas dos candidatos presidenciais.

.O que Godard inventou que mudou a forma de fazer e ver cinema . O Nexo recupera a trajetória e a contribuição do cineasta francês para a arte.

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Edição: Vivian Virissimo

 

 

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