BRASIL DE FATO – BOLETIM PONTO – OS PATRIOTAS DA FARIA LIMA – por LAURO ALLEN ALMEIDA DUVOISIN e MIGUEL ENRIQUE STÉDILE

 

 

Mercado segue enviando seus garotos de recado, como o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, que faz apelos por responsabilidade fiscal – Sergio Lima / AFP

 

Sexta-feira, 18 de Novembro de 2022

 

Olá! Apesar do silêncio de Bolsonaro, a ala mais radical do bolsonarismo – militares e o capital financeiro – continuam fazendo muito barulho sem aceitar o resultado das eleições.

 

.A fome do mercado. Mal Lula chegou e já há um clima novo no ar. Não, não é o otimismo em relação à política ambiental e ao combate à fome. É o “nervosismo” do mercado, ao ponto de causar espanto na mídia tradicional e até em porta-vozes de Wall Street. Mas a reinação da Faria Lima não é gratuita. Seu objetivo é chantagear o novo governo. Em outras palavras, garantir uma política econômica que deixe tudo como está, especialmente na Petrobras, nas taxas de juros e, principalmente, na manutenção do sacrossanto teto de gastos. Porém, até a assessoria técnica do Congresso admite que manter o teto significa inviabilizar o Estado administrativamente a curto prazo, enquanto o economista David Deccache demonstra que a chantagem do risco-país é uma falácia e que não são as questões internas que afastam investidores estrangeiros, mas os contextos da economia global. Mas o mercado segue enviando seus garotos de recado, como o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, que faz apelos por responsabilidade fiscal. E o que a Faria Lima quer mesmo é cargo e poder, como deixou claro o banqueiro Roberto Setúbal ao dizer que os ministérios devem refletir o caráter de frente ampla do novo governo, enquanto Henrique Meirelles tenta encampar a indicação de Ilan Goldfajn à presidência do Banco Interamericano de Desenvolvimento.

.E a caravana passa. Apesar da choradeira do mercado, as novas declarações de Lula durante a COP-27, no Egito, demonstram que o novo governo está bem convicto em soterrar definitivamente o teto de gastos – que, verdade seja dita, nunca existiu no governo Bolsonaro. E, depois que Lula recebeu o aval do presidente do Senado, Rodrigo Pacheco, o projeto tem chances de andar. Na prática, a PEC é de transição não só do governo, mas para o fim do teto dos gastos, porque a proposta apresentada exclui do teto, além da Bolsa Família e da Farmácia Popular, recursos próprios de universidades e investimentos em Meio Ambiente. A ideia também faz parte do método de negociação com o Congresso. Sem querer bater de frente e nem desprestigiar o legislativo, e em especial o centrão, a PEC é propositalmente genérica e cheia de gordurinhas. Além de sinalizar disposição para negociar e atender os parlamentares, a intenção é dar margem de manobra para o novo governo recuar se for preciso, por exemplo na limitação da duração da PEC por quatro anos ou por apenas um.

.Calado é um poeta. Nem bem passaram as eleições, o país encontra-se novamente dividido, mas agora entre aqueles que perguntam “Cadê Bolsonaro?” e os que preferem não perguntar com medo que ele apareça. Trabalhando apenas 24 minutos por dia, o sumiço tem preocupado inclusive aliados e membros do PL, que vêem no retiro espiritual de Jair um sinal de fraqueza e uma perda política irreparável. Afinal, o partido comandado por Valdemar Costa Neto está oferecendo cama, comida e roupa lavada para o capitão e espera ser recompensado com o patrimônio político de 51 milhões de votos. E, logo ali na frente nas eleições municipais de 2024, quando o PL pretende tirar o máximo do bolsonarismo antes que o casamento de conveniência se desmantele, como é esperado. Mas a verdade é que a reclusão do capitão é parcial e calculada. Ela deixa o campo aberto para a atuação dos aloprados em frente aos quartéis, que voltaram a engrossar fileiras no feriado de quinze de novembro. Já está claro que este movimento conta com financiamento e infraestrutura nacional que está sendo mapeada pelo MPF e pelo STF. E (surpresa!), as forças armadas estão envolvidas até o pescoço nessas manifestações, com a participação direta de militares da ativa embalados pelo discurso golpista do gen. Villas Boas. Mas a sacada é que, enquanto o baixo escalão faz barulho, Bolsonaro segue livre nos bastidores para atuar em causa própria. Isso vai desde limpar os computadores do Planalto até mover as peças para manter aliados em posições estratégicas, como Daniel Macedo na Defensoria-Geral da União e ministros do STJ. Enquanto isso, os amigos da PGR seguem blindando o capitão contra qualquer processo, temerosos com as caixas pretas que serão abertas a partir de janeiro e com as consequências da CPI da Covid. Em outra frente, o PT quer que o abuso econômico nas eleições torne Bolsonaro inelegível. Porém, a estratégia de baixo perfil de Bolsonaro tem também seus custos políticos. Neste jogo certamente alguns aliados cairão sem o apoio do chefe, como talvez o fiel Diretor-Geral da PRF, Silvinei Vasques, enquanto o terreno fica aberto para a concorrência engrossar suas próprias fileiras com as sobras do bolsonarismo, a exemplo de Tarcísio de Freitas em São Paulo.

 

.Ponto Final: nossas recomendações.

 

.A crise climática. No A Terra é Redonda, veja os crescentes impactos do aquecimento global e o que o Brasil tem a ver com isso.

.O agro não é verde. Em relatório, a Fase mapeia as estratégias do agronegócio para parecer sustentável enquanto dá sequência à destruição ambiental.

.Reforma trabalhista completa 5 anos com piora de empregos e promessa de revisão. Uma das pautas que estão no radar do novo governo, a reforma trabalhista trouxe diminuição do rendimento do trabalho e aumento da taxa de desocupação. No Brasil de Fato.

.Primeiro a estratégia, depois a contabilidade. No A Terra é Redonda, José Luís Fiori fala da importância do encontro entre Lula e Alberto Fernández e da importância de um projeto de inserção ativa no sistema internacional.

.Carta aos presidentes da América do Sul. A Terra é Redonda reproduz o manifesto de ex-presidentes e ex-chanceleres sul-americanos em defesa de uma nova integração regional e da recuperação da Unasur.

.Racionais: Das Ruas de São Paulo Pro Mundo. Assista ao novo documentário do Netflix que traz a história do mais importante grupo do Rap nacional.

 

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Ponto é editado por Lauro Allan Almeida Duvoisin e Miguel Enrique Stédile.

Edição: Vivian Virissimo

 

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