UMA CARTA DO PORTO – POESIA – Por José Fernando Magalhães (469)

 

 

O OUTRO EU

 

Não sou eu que penso o que escrevo.

Os pensamentos que transformo em palavras

E me levam para outros pensamentos

E outras palavras, e outros lamentos

Não são meus

São do outro eu, em mim.

Esse outro eu tem o cheiro do pomar

E da relva acabada de cortar

Tem a cor do céu azul e um sabor a sol e a sal do mar.

Do outro eu, eu ouço o murmúrio das ondas da maré vaza

Que do poente me assobia a saudade trazida pelo vento.

Saudade das viagens que não fiz

Dos amores que não vivi

E dos contos que não contei.

O outro eu

Que pensa para eu escrevinhar

Assopra-me a suave brisa do mistério

Sussurra-me desatinos e enigmas

Mostra-me a paixão intensa do amor etéreo

E ensina-me a resistir ao esquecer do verbo amar.

O outro eu

É a minha música secreta

Que me ajuda a caminhar por entre a chuva

A caminho de uma ilha deserta

Onde para sempre

Mesmo sem qualquer ajuda

Aprenderei os sons,

Os cheiros

Os sabores a as rimas,

E as palavras que um dia serão minhas.

 

 

OBS – este poema foi publicado no meu livro “UMA, DUASVEZES E TRÊS”, em Julho de 2012

 

1 Comment

Leave a Reply