O OUTRO EU
Não sou eu que penso o que escrevo.
Os pensamentos que transformo em palavras
E me levam para outros pensamentos
E outras palavras, e outros lamentos
Não são meus
São do outro eu, em mim.
Esse outro eu tem o cheiro do pomar
E da relva acabada de cortar
Tem a cor do céu azul e um sabor a sol e a sal do mar.
Do outro eu, eu ouço o murmúrio das ondas da maré vaza
Que do poente me assobia a saudade trazida pelo vento.
Saudade das viagens que não fiz
Dos amores que não vivi
E dos contos que não contei.
O outro eu
Que pensa para eu escrevinhar
Assopra-me a suave brisa do mistério
Sussurra-me desatinos e enigmas
Mostra-me a paixão intensa do amor etéreo
E ensina-me a resistir ao esquecer do verbo amar.
O outro eu
É a minha música secreta
Que me ajuda a caminhar por entre a chuva
A caminho de uma ilha deserta
Onde para sempre
Mesmo sem qualquer ajuda
Aprenderei os sons,
Os cheiros
Os sabores a as rimas,
E as palavras que um dia serão minhas.
OBS – este poema foi publicado no meu livro “UMA, DUASVEZES E TRÊS”, em Julho de 2012
Muito bom. Todos somos vários… O Fernando Pessoa era especialista nisso…