CARTA DE BRAGA – “do pijama à Wikipedia” por António Oliveira

Um cronista de um grande grupo do comunicação garantia, há já algum tempo, que Cervantes, tinha sido o ‘inventor’ do pijama na literatura, por ter imaginado Dom Quixote vestido com tal prenda, para dormir. 

E dá como exemplo o romancista e escritor uruguaio Juan Carlos Onetti, por assim ter permanecido durante vinte anos, depois de se ter deitado uma noite, em 1979. Escreveu nesse tempo alguns dos seus melhores contos, ligado ao mundo apenas pelo telefone, ainda daqueles fixos, ligado à parede através de uma fixa com buracos para se poder fazer a comunicação.

Entre Cervantes e Onetti teriam existido mais alguns nomes bem conhecidos, a que ele chamou os ‘tumbaos’, como o poeta e dramaturgo Valle-Inclán, o escritor francês Marcel Proust, este vestindo sempre um pijama de seda, e o Prémio Nobel de Literatura Vicente Aleixandre que, mesmo acamado a quem apelidou de doente profissional de um rim nunca ter abandonado a gravata. 

Alguns filósofos como Pascal avisam, porém, que ‘Todos os infortúnios dos homens derivam de não saberem ficar calmos nas suas casas’ enquanto outros dizem não serem doentes nem preguiçosos, apenas gente que decide abandonar as suas relações sociais, abandonando-se esplendidamente à inacção. 

De qualquer maneira, há em todos uma atitude contra a normalidade, até mesmo contra o mundo, que alguns até poderão dizer subversiva, mas que lhes permite escrever prosa e poesia fora dessa normalidade, vestidos com aquela farda de paz e sossego transferidos para um simples pijama, se calhar às riscas, mesmo usando gravata. 

Nem todos os órgãos de comunicação poderiam falar deste assunto porque, para uma grande maioria, ‘O ignorante sempre está convencido de não ser um ignorante, o fanático de não ser um fanático, o que manipula de não manipular, assim como um idiota aquele que aqui não se pode omitir o que mais está convencido de não ser idiota’ nas palavras do também poeta e escritor José Repiso Moyano. 

Por outro lado, não posso deixar de falar aqui de um activista pela paz, licenciado em Teologia e Filosofia, Doutor em Educação e Literatura, que aos 26 anos, resolveu peregrinar pela paz e até andou 13.000 quilómetros sem dinheiro, pedindo a paz aos responsáveis das potências mundiais, falando sempre de ser humano a ser humano.

Tem por nome Satish Kumar, tem agora quase noventa anos, nasceu na Índia, mas tem nacionalidade britânica, e explica a sua vida de uma maneira simples, ‘O cosmos é o meu país, a terra a minha casa, a natureza a minha nacionalidade e o amor a minha religião; somos interdependentes, o nosso sofrimento é mútuo e a água o meu guru; mata a sede a todos, rei ou mendigo, santo ou pecador, não descrimina, animais, humanos e plantasfui criado por uma jardineira, minha mãe e sábia mulher; acredito que todos temos uma parte feminina, as orelhas para escutar e uma parte masculina, a boca para falar’.

Talvez até caiba aqui ainda, a frase que li há algum tempo também, ‘Respeita os teus pais, por terem estudado sem recorrerem ao Google ou à Wikipedia’, o que, nestes tempos, também me parece ser boa uma lição de educação e civismo, o necessário para opor a todos aos presunçosos sempre ‘armados’ com má cara, mesmo se dormirem com pijama. 

António M. Oliveira

Não respeito as normas que o Acordo Ortográfico me quer impor

 

 

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