Diário de Bordo, 18 de Setembro de 2011

 

 

 

A situação na ilha da Madeira vai absorver as atenções nos tempos mais próximos. Muita gente está estupefacta. Mas para alguns observadores mais atentos, não é muito surpreendente. Sabe-se há muito que o Governo Regional da Madeira gasta muito e mal, que se tem mantido acumulando dívidas e pressionando o Governo Central para se financiar. As periódicas insinuações sobre uma eventual declaração de independência têm sido intercaladas com declarações de fidelidade à pátria, a unidade interna tem sido mantida com cuidado, os adversários de Alberto João Jardim superados, e assim desembocámos na situação actual. Mas a crise actual veio obrigar a pôr claro o que não se tem querido encarar.

 

A situação da Madeira é muito grave. Alguém disse: o maior risco não é a Madeira fartar-se do Continente, é sim o Continente fartar-se da Madeira. Em 9 de Outubro, daqui a três semanas, vão realizar-se eleições regionais. O cenário mais provável é Jardim sair delas com uma vitória reforçada. Mas, mesmo que isso não aconteça, os problemas continuarão muito complicados. Portugal terá de pagar as dívidas do Governo Regional. O melhor a que pode aspirar é que este, qualquer que seja, no futuro siga políticas mais equilibradas. Ajudaria sem dúvida que Jardim perdesse as eleições.

 

No país existem outras situações muito graves. Há vários candidatos a Alberto João Jardim, mas nenhum se lhe pode comparar, nem política nem economicamente. O exemplo da Madeira vai servir para travar a regionalização, e diminuir a autonomia das autarquias. Noutro campo, o problema dos transportes públicos será mais pesado financeiramente, e a vacilante economia portuguesa tremerá ainda mais com as precipitadas privatizações que se preparam. No sector bancário são do conhecimento geral os pesados encargos que tiveram de ser pagos pelos contribuintes, e não há garantias de que não ocorram mais problemas como o do BPN.

 

Mas a Madeira é o símbolo da fraqueza e da incompetência dos sucessivos governos nacionais. A imposição da transparência no cumprimento dos orçamentos, no contraimento de dívidas, nos concursos, nas finanças em geral, são regras que têm sido desleixadas. O combate à corrupção é praticamente inexistente. Na Madeira e no resto do país.  

2 Comments

  1. É verdade. Estamos perante a manipulação de números e a diferença entre o que é e o que devia ser ascende a mil e cento e treze milhões de euros! Noutras circunstâncias, a «manipulação» seria designada por burla e configuraria um caso de polícia. Pois bem, o presidente do Governo Regional, arrisca-se a pagar vinte e cinco mil euros – e, mesmo assim, duvido que os pague. Os «cubanos» vão ter de pagar, talvez de sacrificar mais uma fatia do subsídio de Natal. È uma vergonha..

  2. Nem preciso de ler o texto para dar um berro bem prolongado. A esta asquerosa criatura têm sido permitidos todos os desmandos. As verbas do IRS dos funcionários públicos, pelo menos num ano, ouvi eu dizer que iam em grande parte, senão todas, para a Madeira. Agora vamos ter que pagar mais este roubo (quero lá saber se em economia tem outro nome). E ninguém vai preso?

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