DIÁRIO DE BORDO, 21 de Abril de 2012

 

 

A crise na UE, na zona euro, na Europa, etc., para além dos problemas que está a criar aos europeus no seu dia a dia, em especial aos cidadãos dos países considerados como periféricos (são cada vez mais, a Espanha está em vias de ser considerada como membro do grupo), acarreta outro: desvia as atenções dos europeus do que está a acontecer no resto do mundo. A informação que lhes chega, pelo menos a mais difundida, aquela que é levada ao maior número de pessoas, é cada vez mais redutora, e susceptível de ser manipulada pelas diferentes correntes de opinião. As questões existentes são muitas, e verificam-se em várias partes do mundo. Várias delas poderão ter reflexos importantes no mundo em geral e na própria Europa. Diário de Bordo vai tentar examinar algumas. Hoje vamos ver a de Caxemira.


A Índia experimentou com sucesso um míssil de longo alcance (ver Público de ontem, página 26). Parece que poderá atingir Pequim. Contudo, a China não parece preocupada com o assunto, pelo menos é o que denotam as primeiras reacções. Mas por outro lado, convém ter presente que a Índia é uma potência nuclear, e que o míssil experimentado pode levar uma ogiva de uma tonelada, segundo as notícias. A Índia é parte num conflito com o Paquistão, também uma potência nuclear, que se arrasta desde 1947, com vários focos, dos quais o principal será Caxemira, no norte do subcontinente indiano, e cujo território foi dividido entre os dois países, após uma guerra que durou de 1947 a 1949. Posteriormente ocorreu uma guerra sino-indiana, tendo a China ocupado por sua vez algumas zonas do território. A maioria da população é muçulmana, mantendo-se uma guerrilha activa na parte ocupada pelos indianos.


Esta questão, potencialmente, poderá ser muito mais explosiva do que, por exemplo, a da Coreia do Norte. Enquanto esta experimenta periodicamente um míssil de alcance muito menor e de tecnologia não tão perfeita, como o míssil indiano, a Índia parece dispor de armamento muito mais sofisticado e claramente  detém uma posição muito mais favorável na cena internacional. O irredentismo muçulmano tem agravado os conflitos em várias zonas do mundo, como no Afeganistão, onde a presença militar dos EUA e aliados nada parece ter resolvido, pelo contrário. Por seu lado a Índia há muito que abandonou as teorias pacifistas de Gandhi, se é que alguma vez as pretendeu seguir convictamente. Aguentou-se mal militarmente contra a China, mas tem conseguido sucessos regionais como em Goa, na independência do Bangladesh, no Sri Lanka contra os tâmil e em outros conflitos menos importantes, ou menos falados. É candidata sem dúvida a potência regional, até pelo estatuto que lhe foi conferido de democracia. Isto, apesar de grande parte da sua população viver em grande miséria, tal como parece verificar-se na Coreia do Norte. 

Leave a Reply