EM COMBATE – 37 -. por José Brandão

A coluna, inicialmente com quarenta homens, vai-­se reduzindo. Não vale a pena ir tanta gente. E para quê a bazuca? E a MG 42, que é pesadíssima? E a farda, que é quente e as munições que são desnecessárias? Se aparecer uma pacaça meia dúzia de tiros resolvem o problema e sempre se traz carne fresca.

 

No climax da bandalheira já só vai uma Mercedes com meia dúzia de homens em t­shirts, calções, descalços e uma ou duas G3. Os que vão são os que têm mais pressa em ler o correio deles. O cozinheiro também vai. E, por graça, porque não leva ele a bazuca desta vez? Vamos embora que se faz tarde e o avião está aí a chegar.

 

O avião chega. Deixa umas cartas e leva outras. Bebem­-se umas cervejas juntos, dão-­se uns abraços e daqui a três dias cá estaremos todos outra vez. O avião parte e aquela tropa fandanga regressa a Noqui.

 

Só que desta vez o IN está no percurso. Teve meses para observar e estudar a evolução do comportamento daqueles homens, a bandalheira progressiva que se instalou naquela unidade e a total falta de segurança com que se movimentavam. E então dá-­se a emboscada. Bem planeada, cuidadosamente preparada, rigorosamente executada.

 

Dos 12 homens morreram 11, incluindo o cozinheiro da bazuca. O que se salvou, escondeu-­se no capim durante horas, antes de poder ir levar a triste notícia ao quartel de Noqui.

 

Esta história acabou como os tais relatos e artigos de que atrás falava, mas por exclusiva responsabilidade dos seus protagonistas e, especialmente, dos oficiais cujo comportamento irresponsável conduziu a que aquela simples rotina terminasse em mortes desnecessárias e inúteis.

 

Em várias circunstâncias que acompanhei de perto, as tragédias eram muitas vezes resultado da ligeireza e inconsciência com que algumas unidades se comportavam. Fazem lembrar um pouco aqueles suicidas das motos que gostam de andar na contramão na Estrada Marginal e, quando as coisas correm mal, se queixam­ de tudo menos deles próprios.

 

Como dizia no artigo anterior, o meu grupo de combate, entre Agosto e Outubro de 1966, esteve no posto do Tridente, no Rio Zaire, junto de Noqui.

 

A vida era pacata e tranquila e no nosso esquema de rotatividade sabíamos de antemão, de forma muito aproximada, o tempo que iríamos passar em cada um dos postos. Essa situação não era proporcionadora das neuras que assaltavam os nossos colegas de Noqui, como contei da última vez.

 

Contudo, o cumprimento da nossa missão nos diferentes postos do Zaire, também já descrita no artigo anterior, deixava-nos muito tempo livre que se tornava necessário ocupar. A localização de Tridente não facilitava a existência de um terreiro para jogar à bola estando assim posta de parte uma possível ocupação dos tempos livres da guarnição, que eram muitos.

 

Entre aulas do segundo ano do Liceu que dava a grumetes e marinheiros, tal como os camaradas que nos precederam e os que nos sucederam, fizemos muitas obras, plantámos bananeiras, hortas; a conservação e reparação dos motores e botes, patrulhas no rio, patrulhas terrestres, escalas de serviços e caçadas nocturnas aos jacarés iam tomando conta do tempo.

 

Pessoalmente, nos diversos postos do Zaire onde estive, li imenso, tanto livros como revistas e jornais que tinha assinado. Através do Monde ia seguindo a guerra no Vietname e realizava a sorte que muitos de nós em Angola tínhamos por não estarmos num teatro de guerra como aquele.

 

 

1 Comment

  1. PELOS COMENTARIOS QUE FAZ Á EMBOSCADA DE NOVE DE DEZEMBRO DE 1966 EM NOQUI
    DUVIDO QUE TENHA ESTADO POR AQUELAS BANDAS NESSE DIA,PELOS SEGUINTES MOTIVOS;
    NÃO SE TRATAVA DA COLUNA DO CORREIO COMO DIZ ,MAS SIM DA COLUNA DE REABASTECIMENTO DA COMPANHIA ESTACIONADA NO TOPE..
    INFELIZMENTE NÃO IAM SÓ 12 MILITARES ,COMO QUIS DAR A ENTENDER,POIS MORTOS CONTEI EU NO LOCAL E ERAM 21.
    VIATURAS NÃO ERA 1, MAS 4 (1 BERLIET 2 UNIMOGUES E 1 JEEP)
    O COZINHEIRO DITO, DA BAZUCA ,IA NA COLUNA ,POIS TINHA ESTADO INTERNADO NO HOSPITAL EM NOQUI E PARA SEU AZAR TEVE ALTA NESSE DIA . ALIÁS PERTENCIA À COMPANHIA QUE TINHA TERMINADO A COMISSÃO E QUE JÁ TINHA PARTIDO.
    . NÃO FOI UM SOLDADO QUE SE DESOLCOU A PÉ PARA INFORMAR DA EMBOSCADA ,MAS SIM (2/3 ? ELEMENTOS QUE SEGUIAM NO JEEP QUE FECHAVA A COLUNA (CERCA DAS 15 HORAS)
    A UNICA VERDADE QUE CONSEGUI ENCONTRAR NA SUA CARTA FOI A DETERMINAÇÃO DO GRUPO IN (O QUAL SEGUNDO ELEMENTOS COLHIDOS NA SEMANA SEGUINTE. PELO INSPETOR BERNARDO EM MATADI ERA CONSTITUIDO POR 120 DOS SEUS MELHORES ELEMENTOS) COM UMA METRALHADORA PESADA. E 1 OBJECTIVO UNICO
    ESTA DETERMINAÇÃO POSTA NA EMBUSCADA RESULTOU DE TEREM TIDO CONHECIMENTO QUE NESSA COLUNA SE DESLOCAVA UM IMPORTANTE DISSIDENTE DO MPLA QUE TINHA PASSADO PARA O NOSSO LADO E QUE MONTARA E COMANDAVA OS TE.
    PARA TERMINAR ACHO LAMENTAVEL QUE CHAME TROPA FANDANGA AOS ELEMENTOS DUMA COLUNA MILITAR ,DOS QUAIS 21 PAGARAM COM A PROPRIA VIDA O QUE NA ALTURA O PAÍS LHES EXIGIA.
    NA ALTURA CONVIVI COM VARIOS ELEMENTOS DOS FUZILEIROS ,E PENSO QUE NENHUM DELES SERIA CAPAZ DE ESCREVER TAL CARTA, QUE RESUMINDO NÃO VEJO OUTRO OBJECTIVO QUE ENALTECER OS PRÓPRIOS MERITOS

Leave a Reply