Crónicas sobre quem até os cães da minha infância seria capaz de devorar
Conheça um pouco da história. O banco JP MORGAN perdeu recentemente muito dinheiro, muito mesmo. Estamos em plena crise, financeira primeiro, da dívida pública depois, e agora da dívida pública e financeira também. Entretanto há quem jogue ao poker, que jogue em cada lance dezenas de milhares de milhões, até à centena mesma, centena de milhares de milhões, mesmo que em cada lance possa ser um país que está sair jogado e esse país possa ser o seu. E nestes números, de muitos zeros para a minha cabeça, não há engano, foram aplicados em apostas, aplicações de investimento dirão os analistas, apostas puras direi eu que não percebo nada disto. Conhece as consequências, creio, bem espelhadas por um ditado africano que nos diz que quando dois elefantes combatem quem sai pisado é a relva. Conheça um pouco como se combate, porque a relva somos nós, conhece as consequências das apostas, conhece-as diariamente, e conheça então o que está por detrás destas apostas, conheça um pouco a história de uma das reencarnações de Jesus, capazes de caminhar sobre a água, mas mais uma vez quem se afoga somos nós.
Pelo meio destes textos há um avivar de memória de outras reencarnações de Jesus e em que cada reencarnação terá levado a um afogamento por mergulho, mas do respectivo banco, claro.
3. JPMorgan perde 2 mil milhões de dólares sobre produtos derivados
Le Monde, AFP e Reuters | 11.05.2012
O banco americano JPMorgan Chase anunciou, na quinta-feira, 10 de Maio, que nas seis semanas anteriores tinha registado a perda de 2 mil milhões de dólares (1,5 mil milhões de euros) nas suas actividades comerciais, perda que ainda poderia vir a aumentar pelas suas posições de risco assumidas. Estas posições estão relacionadas com os produtos derivados de crédito, os CDS no calão das finanças (os credit default swap).
Estes são contratos de seguros contra uma possível situação de incumprimento, um produto criado por JPMorgan na década de 1990, originalmente para se cobrir do risco. Mas comprar maciçamente CDS sobre uma empresa ou sobre um activo é estar a jogar na queda da empresa em questão. Neste caso tratava-se de jogar na degradação da qualidade da carteira de crédito de cento e vinte e cinco empresas norte-americanas.
Aquando duma conferência telefónica surpresa, o presidente Jamie Dimon, referiu-se a “perdas nas tomadas de posição antes de impostos de mais de 2 mil milhões de dólares” ligados ao facto de que o grupo quis cobrir a sua exposição aos créditos. “Cobrindo novamente esta carteira de activos, houve aqui uma má estratégia, mal executada, ela tornou-se mais complexa e foi mal acompanhada”, lamentou Jamie Dimon.
Jamie Dimon acrescentou que a carteira de activos incriminados apresentava ainda “muita volatilidade”, ou seja, que os valores em risco podiam ainda aumentar. “Nós vamos gerir a situação ao máximo,” mas “que nos poderá custar-nos até um milhar de milhões de dólares ou mesmo mais” e “o risco vai continuar por vários trimestres”.
O grau de “ignorância” de Jamie Dimon é considerado pelos analistas como sendo “assustador” , para utilizar a expressão do blog financeiro altamente respeitado Zero Hedge. “Dimon tem andado a enganar o seu mundo (…), ele não tinha nenhuma ideia do que estava a acontecer nas entranhas do seu próprio negócio, escreve Tyler Durden.” “a História diz-nos que este caso mais recente é a regra nos patrões de Wall Street, embora seja difícil dizer qual é o caso pior.”
Situação dificil para o banco de negócios
Este mau resultado deve ser ligado à família dos produtos derivados complexos que já estiveram na origem da crise financeira de 2008. Eles são directamente visados pela “regra Volcker”, uma das principais medidas da reforma financeira de 2010, que pretendia limitar os investimentos em produtos derivados, um mercado opaco de produtos transaccionados fora das bolsas. Jamie Dimon tem-se repetidamente oposto à reforma financeira e qualquer endurecimento da regulamentação bancária. Na sua opinião as operações incriminadas não violam a “regra de Volcker mas sim o princípio da Dimon”.
O dirigente tinha de fato repetidas vezes afirmado que a gestão do banco era das mais “conservadoras”, implicitamente, a dizer, que era das mais prudentes. Mas o banco passa por um mau bocado depois da demissão forçada de seu responsável pela aquisições das matérias-primas e teve que aceitar pagar por ter violado o programa de sanções do Tesouro dos EUA, contra principalmente o Irão, o Sudão e a Libéria.
O senador americano Carl Levin, co-autor da regra Volcker na legislação, imediatamente condenou “as enormes perdas de JPMorgan”, que para ele são “a última prova até agora de que o que os bancos chamam de” hedging “são muitas vezes apostas arriscadas que os bancos da dimensão sistémica não devem nunca fazer . “
A BALEIA do Tâmisa falhou
Dimon reconheceu que este problema foi descoberto depois de Wall Street Journal ter publicado, no início de Abril, um artigo em que se descrevia o espanto da posição financeira de Londres face às elevadas posições assumidas por um corretor de origem francesa de JPMorgan, Bruno Michel Iksil, apelidado de “Baleia do Tamisa”. Jamie Dimon imediatamente a seguir tinha considerado estas informações como uma “tempestade num copo d’água” qualificado, uma situação que o banco dificilmente assume hoje. JPMorgan “espera que este problema será resolvido a partir daqui até ao final do ano”, mas insistiu que isso dependeria “de mercado e as nossas posições.”
Se os analistas não duvidam de forma alguma da capacidade de JPMorgan em ultrapassar esta crise (as projecções indicam que os benefícios serão de 4 mil milhões para o actual trimestre l), estes apontam para o seu impacto “moral” na praça de Nova York. “O momento não poderia ter sido pior”, lamentou o Citi Bank. Este caso “vai possivelmente afectar todo o mercado”, escrevem os seus economistas numa nota , temendo regras “mais rigorosas”, que teriam um ” impacto grave sobre a liquidez disponível.” Na abertura da sessão dos EUA, a acção JP Morgan caiu de 9%.
Para os analistas de Hedge Zero, o pior neste caso é a cultura do silêncio e do segredo que ainda prevalece nas salas de mercado. “Nem tente pedir a JPMorgan que explique como é que ele acumulou todas estas suas perdas. Esta informação ‘pertence’ ao banco (‘proprietário’), como se os contribuintes que resgataram o banco em 2008 não tenham o direito de saber, escreve Tyler Durden. Aqui está uma ideia para uma nova regra: se um banco que é grande demais para falir “não pode divulgar as actividades dos seus operadores de mercado, com medo de darem tiro no próprio pé, então essas actividades não devem ser permitidas.”
Le Monde, JPMorgan perd 2 milliards de dollars sur des produits dérivés, 11 de Maio de 2012.