Depois de 2008 os mesmos escândalos, a mesma incapacidade de resposta, a mesma preferência pelo maior local dos crimes, a City de Londres.

Selecção, tradução e apresentação por Júlio Marques Mota

 

Crónicas sobre quem até os cães da minha infância seria capaz de  devorar

 

 

Conheça um pouco da história. O banco JP MORGAN perdeu recentemente muito dinheiro, muito mesmo. Estamos em plena crise, financeira primeiro, da dívida pública depois, e agora da dívida pública e financeira também. Entretanto há quem jogue ao poker, que jogue em cada lance dezenas de milhares de milhões, até à centena mesma, centena de milhares de milhões, mesmo que em cada lance possa ser um país que está sair jogado e esse país possa ser o seu. E nestes números, de muitos zeros para a minha cabeça,  não há engano, foram aplicados  em apostas, aplicações de investimento dirão  os   analistas,  apostas puras direi eu que não percebo nada disto. Conhece  as consequências, creio, bem espelhadas por um ditado africano que nos diz que quando dois elefantes combatem quem sai pisado é a relva.  Conheça um pouco como se combate, porque a relva somos nós, conhece as consequências das apostas, conhece-as diariamente, e conheça então o  que está por detrás destas apostas, conheça um pouco a história de uma das reencarnações de Jesus, capazes de caminhar  sobre a água,  mas mais uma vez quem se afoga somos nós.  

 

Pelo meio destes textos há um avivar de memória de outras reencarnações de Jesus e em que cada reencarnação terá levado a um afogamento por mergulho, mas  do respectivo banco, claro.

 

3. JPMorgan perde 2 mil milhões de dólares sobre  produtos derivados

 

 

Le MondeAFP e Reuters | 11.05.2012

 

 

O banco americano JPMorgan Chase anunciou, na quinta-feira, 10 de Maio, que nas  seis semanas anteriores  tinha registado a perda de 2 mil milhões de dólares (1,5 mil milhões de euros) nas suas actividades comerciais, perda  que ainda poderia vir a aumentar pelas suas posições de risco assumidas. Estas posições estão relacionadas com os produtos derivados de crédito, os CDS no calão das finanças (os  credit default swap).

 

 

Estes são contratos de seguros contra uma possível situação de incumprimento, um produto criado por JPMorgan na década de 1990,  originalmente para se cobrir do risco. Mas comprar maciçamente CDS sobre uma empresa ou sobre um activo é estar a jogar na queda da empresa em questão. Neste caso tratava-se de jogar na degradação da qualidade da carteira de crédito de cento e vinte e cinco empresas norte-americanas.

 

 

Aquando duma conferência telefónica surpresa, o presidente Jamie Dimon, referiu-se a “perdas nas tomadas de posição antes de impostos de mais de 2 mil milhões de dólares” ligados ao facto de que o grupo quis cobrir a sua exposição aos créditos. “Cobrindo novamente esta carteira de activos, houve aqui uma má estratégia, mal executada, ela tornou-se mais complexa e foi mal acompanhada”, lamentou  Jamie  Dimon.

 

 

Jamie Dimon acrescentou que a carteira de  activos incriminados apresentava ainda “muita volatilidade”, ou seja, que os valores em risco podiam ainda aumentar. “Nós vamos gerir a situação  ao máximo,” mas “que nos poderá  custar-nos até um milhar de milhões  de dólares ou mesmo mais” e “o risco vai continuar por vários trimestres”.

 

 

O grau de “ignorância” de Jamie Dimon é considerado pelos analistas como sendo “assustador” , para utilizar  a expressão do blog  financeiro altamente respeitado Zero Hedge. “Dimon tem andado a enganar o seu mundo (…), ele não tinha nenhuma ideia do que estava a acontecer nas entranhas do seu próprio negócio, escreve Tyler Durden.” “a História diz-nos que este caso mais recente é a regra nos patrões de Wall Street, embora seja difícil dizer qual é o caso pior.”

 

Situação dificil para o banco de negócios

 

Este mau resultado deve ser ligado  à família dos  produtos derivados  complexos  que já estiveram na origem da crise financeira de 2008. Eles são directamente visados  pela “regra Volcker”, uma das principais medidas da reforma financeira de 2010, que pretendia limitar os investimentos em produtos derivados, um mercado opaco de produtos transaccionados fora das bolsas. Jamie Dimon tem-se  repetidamente  oposto à reforma financeira e qualquer endurecimento da regulamentação bancária. Na sua opinião as operações incriminadas não violam a “regra de Volcker mas sim o  princípio da Dimon”.

 

O dirigente tinha de fato repetidas vezes afirmado que a gestão do banco era das  mais “conservadoras”, implicitamente, a dizer, que era das mais prudentes. Mas o banco passa por um mau bocado depois da demissão  forçada de seu responsável pela  aquisições das matérias-primas e teve que aceitar pagar por ter violado  o programa de sanções do Tesouro dos EUA, contra principalmente  o Irão, o Sudão e a Libéria.

 

O senador americano Carl Levin, co-autor da regra Volcker na legislação, imediatamente condenou “as enormes perdas de JPMorgan”, que para ele são “a última prova até agora de que o que os bancos chamam de” hedging “são  muitas vezes apostas arriscadas que os bancos da dimensão sistémica  não devem nunca fazer . “

 

A BALEIA do Tâmisa falhou

 

 

Dimon reconheceu que este problema foi descoberto depois de Wall Street Journal ter publicado, no início de Abril, um artigo em  que se descrevia  o espanto da posição financeira de Londres face às elevadas posições assumidas por um corretor de origem  francesa de JPMorgan, Bruno Michel Iksil, apelidado de “Baleia do Tamisa”. Jamie Dimon imediatamente a seguir tinha considerado estas informações como uma  “tempestade num  copo d’água” qualificado, uma situação que o banco dificilmente assume hoje. JPMorgan “espera que este problema será resolvido a partir daqui até ao final do ano”, mas insistiu que isso dependeria “de mercado e as nossas posições.”

 

Se os analistas não duvidam de forma alguma  da capacidade  de JPMorgan em  ultrapassar esta  crise (as projecções indicam que os benefícios serão de  4 mil milhões para o actual trimestre l), estes apontam para  o seu impacto “moral” na praça de  Nova York. “O momento não poderia ter sido pior”, lamentou o Citi Bank. Este caso “vai possivelmente afectar todo o mercado”, escrevem os seus economistas numa nota , temendo regras “mais rigorosas”, que teriam um  ” impacto grave sobre a liquidez  disponível.” Na abertura da sessão dos EUA, a acção JP Morgan caiu de 9%.

 

 

Para os analistas de Hedge Zero, o pior neste caso é a cultura do silêncio e do segredo que ainda prevalece nas salas de mercado. “Nem tente pedir a JPMorgan que explique como é que ele acumulou todas estas  suas perdas. Esta informação ‘pertence’ ao banco (‘proprietário’), como se os contribuintes que resgataram  o banco em 2008 não tenham o  direito de saber, escreve  Tyler Durden.  Aqui está uma ideia para uma nova regra: se um banco que é grande demais para falir “não pode divulgar as actividades dos seus operadores de mercado, com medo de darem tiro no próprio pé, então essas actividades não devem ser permitidas.”

 

 

Le Monde, JPMorgan perd 2 milliards de dollars sur des produits dérivés, 11 de Maio de 2012.


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