Dedicamos as primeiras palavras de hoje ao 28 de Maio de 1871. É um episódio da História de França com repercussões na história do movimento operário internacional. Terminava em Paris uma semana iniciada dia 21. Passou à história com a designação de “Semana Sangrenta”. Calcula-se que durante os dois meses da sua governação a Comuna tenha morto 500 pessoas. As tropas governamentais mataram de 20 a 25 mil pessoas durante a reconquista de Paris e nos dias que se seguiram. Mas as cinco centenas de pessoas mortas pela Comuna foram assassinadas – as vinte e tal mil que a tropa matou, foram executadas. Duas efemérides tristes para este 28 de Maio – a queda da Comuna em 1871 e a ascensão do fascismo em Portugal em 1926.
Falando do 28 de Maio de 2012, está ainda influenciado pela entrevista dada anteontem por Christine Lagarde ao diário britânico The Guardian. Afirmou que os gregos deviam “começar por se ajudar colectivamente” pagando os impostos. Disse estar menos preocupada “com as crianças gregas do que com as da África subsaariana”. O governo francês, através da sua porta-voz, declarou que a directora do FMI mostrou uma visão “estereotipada e simplista”. François Hollande, Najat Vallaud-Belkacem, acrescentou: “Penso que, neste momento, não temos de dar lições à Grécia”.
Na Grécia, sobe-se o tom – o líder do PASOK, Evangelos Venizelos disse sábado à noite num comício : “Ninguém pode humilhar o povo grego durante a crise, e dirijo-me hoje em particular à senhora Lagarde (…), que com a sua posição insultou os gregos”,. (…) Peço-lhe que reveja e reconsidere o que queria dizer”. Já hoje, o líder da coligação da esquerda radical grega Syriza, Alexis Tsipras, afirmou num comunicado que os gregos “pagam os seus impostos” – “Sobre as recentes declarações da senhora Lagarde, a última coisa que a Grécia quer é a sua compreensão”.
Em 1871, em 1926, em 2012, tudo se resume a quem conta os factos. Assassinar pode ser transformado em executar; um golpe militar de inspiração catolicóide e fascizante pode ser transmutado em «Revolução Nacional», o fazer os povos pagar todos os custos de um negócio que correu mal, pode ser considerado um acto de justiça económica. Tudo depende de quem está na mó de cima. A diferença é que em 2012, mesmo quem está na mó de baixo, pode contar a sua versão. Talvez, apesar de ser pouco, seja uma diferença decisiva.