Capitulo IV. 2. Globalização e Desemprego: as desvantagens da integração dos mercados
Michael Spence
MICHAEL SPENCE is Distinguished Visiting Fellow at the Council on Foreign Relations and the author of The Next Convergence: The Future of Economic Growth in a Multispeed World [1]. He received the Nobel Prize in Economics in 2001. His Web site is www.thenextconvergence.com [2].
(continuação)
Sem emprego nos Estados Unidos
Entre 1990 e 2008, o número dos trabalhadores assalariados nos Estados Unidos cresceu de cerca de 122 milhões para cerca de 149 milhões. Destes cerca de 27 milhões de empregos criados durante esse período, 98 por cento foram criados no chamado sector dos bens e serviços não negociáveis internacionalmente, ou seja o sector da economia que produz bens e serviços que devem ser consumidos no mercado interno. Nos Estados Unidos, os maiores empregadores no sector dos bens e serviços não negociáveis internacionalmente foram a Administração pública, o Governo, (com 22 milhões de empregos em 2008) e a indústria de cuidados de saúde (com 16 milhões de empregos em 2008). Juntas, estes dois grupos de empregadores criaram dez milhões de novos empregos entre 1990 e 2008, ou seja próximo dos 40 por cento do total dos novos empregos criados. (As indústrias de vendas a retalho, a construção e hotelaria e a restauração também contribuíram significativamente para o crescimento de trabalho.) Enquanto isso, o emprego praticamente não cresceu no sector dos bens e serviços negociáveis internacionalmente e por este sector compreende-se as indústrias de bens e e serviços que podem ser consumidos em qualquer lugar, interna ou externamente, tais como produtos da indústria transformadora, engenharia e serviços de consultoria. Este sector que representa mais que 34 milhões de empregos em 1990 cresceu a um valor nada significativo de 600.000 empregos entre 1990 e 2008.
As novas tecnologias nos serviços de informação têm sido dramaticamente economizadores em trabalho, as tecnologias labour-saving, e eliminaram alguns postos de trabalho em toda a economia americana. Mas o emprego nos Estados Unidos tem sido ainda muito afectado pelo facto de que muitas actividades na indústria transformadora, principalmente na produção de produtos de baixo valor acrescentado têm estado a ser deslocalizadas para as economias emergentes. Esta tendência está a fazer com que o volume de emprego esteja a baixar praticamente em todos os sectores da indústria transformadora dos EUA, excepto no extremo da cadeia produtiva, nos produtos de alto valor acrescentado.. O emprego está a crescer, no entanto, noutras partes do sector dos bens e serviços negociáveis internacionalmente — sobretudo nas finanças, em serviços ligados à computação, serviços de engenharia e na gestão a nível de topo nas empresas multinacionais. Com o extremo mais alto da cadeia de produção expresso em termos de valor acrescentado, a sua expansão em termos de bens e serviços leva a que geralmente se empreguem pessoas de elevados níveis de formação e estas são pois as áreas em que a economia americana continua a ter uma vantagem comparada e pode competir com sucesso na economia global.
Por outras palavras, a estrutura do emprego da economia americana tem estado a deslocar-se, em termos de emprego, do emprego no sector dos bens e serviços negociáveis internacionalmente excepto, sublinhe-se, no extremo da cadeia de valor acrescentado, para o emprego no sector dos bens e serviços não negociáveis internacionalmente. Mas isto é um enorme problema porque neste último sector é muito possível que se gerem muito menos empregos do que o que é esperado no futuro. Além disso, o leque de oportunidades de emprego no sector dos bens e serviços negociáveis internacionalmente está em declínio, daí que com isso estejam reduzir-se as possibilidades de escolhas para os trabalhadores americanos na escala dos rendimentos médios. Seria pouco sensato supor que, nas actuais circunstâncias, o volume de emprego na Administração Pública e no sector dos cuidados de saúde nos Estados Unidos possam continuar a crescer tanto quanto o emprego tinha vindo a crescer antes da recente crise económica. Se alguma coisa deve ser sublinhada, é que é notável que a economia americana não tenha tido um grande problema de emprego até aparecer a recente crise económica. Se o sector dos bens e serviços não comercializáveis continua a perder a sua capacidade de absorver trabalho, como o tem feito nestes últimos anos, e se o sector dos bens e serviços transaccionáveis não se torna uma máquina de criar empregos, os Estados Unidos poderão ter de enfrentar um longo e doloroso período de altos níveis de desemprego.
(continua)