ANÁLISES SOBRE A CRISE, OLHARES SOBRE A EUROPA, OLHARES SOBRE O CRIME QUE CONTRA ESTA OS SEUS DIRIGENTES ESTÃO A COMETER

É hora de deixar  de andar a mascar  pastilha elástica enquanto se anda de rede de capoeira  como protecção contra a crise  em  Espanha – V

Por Edward Hugh

Selecção e tradução por Júlio Marques Mota

O necessário resgate europeu

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(CONTINUAÇÃO)

Quando é que grande significa ser grande?

Assim, se os 30 mil milhões de Euros extra nas provisões representam apenas uma gota no oceano, de quanto é que os bancos realmente precisam? Bem o prestigioso think tank CEPS sediado  em Bruxelas veio esta semana a público falar num número tal que andaria pelos  250 mil milhões de euros  e como  este Centro  está não só geograficamente, mas também  intelectualmente próximo da Comissão, seria irrazoável pensar que esse número está longe de ser o que os responsáveis políticos da União Europeia têm em mente. Certamente entre 200 – 250 mil milhões de euros parece ser uma estimativa aceitável, especialmente quando se tem em conta não apenas os empréstimos problemáticos concedidos aos promotores de imobiliário, quando se leva em conta os terrenos inscritos nos livros dos bancos, quando se leva em conta a necessidade de ajudar as famílias que estão a ter  cada vez mais dificuldade para financiarem as  suas hipotecas e ainda quando se leva em conta o crescente número de pequenas e médias e empresas que se debatem cada vez mais com situações de falência.

Mais de 1,5 milhões de lares em Espanha estão agora sem ninguém com trabalho e em que já esgotaram os seus direitos aos subsídios de desemprego. Estas famílias simplesmente vivem de poupanças, de apoio familiar e dos 420 euros de rendimento mínimo mensal. É claro que é difícil para essas pessoas poderem assumir os seus compromissos em dívida e este número continua a crescer. O Ministro das Finanças da Irlanda, Michael Noonan sobrecapitalizou deliberadamente os bancos irlandeses porque ele podia estar a ver de onde poderia vir  o próximo problema – embora mesmo neste caso pode agora ser necessário bem mais – e  seria uma boa ideia para a Espanha seguir o seu exemplo. Os bancos de Espanha têm mais de um milhão de milhões de euros em activos relacionados com propriedades e simplesmente gozam com aqueles que estão a avisar para o problema potencial que isso constitui sugerindo que isto é estúpido porque “as hipotecas são sempre pagas nos bons e nos maus tempos”, como me disse recentemente Alfredo Saenz, do Santander, e isto parece-me ser apenas mais um caso do tipo de  banco negativo espanhol que o país precisa agora de colocar   atrás das costas.

Então,  é isto o problema do défice

Segundo uma actual corrente de opinião popular, a economia espanhola está agora agradavelmente a reequilibrar-se, a competitividade está a ser continuadamente restaurada enquanto as exportações estão a ir bem. A coisa que aqui é estranha, se isto assim se pode dizer, é então, como é que a economia espanhola continua a ir tão mal. Apesar de progressos inegáveis nos défices da balança comercial e na balança corrente e com as exportações a terem melhorado, obviamente, ainda há um longo e duro caminho a percorrer. Na verdade, e em termos gerais, a situação está a piorar  e vamos enfrentar dois anos mais de recessão, pelo menos, enquanto 2011 registou um crescimento muito modesto.

Eu não suponho que o facto de o emprego continuar a aumentar  e de se assistir a uma queda contínua dos preços da habitação tenham  a ver com a forma como estes maus resultados continuam e  hão continuar a verificarem-se.

Sobre a ideia das “coisas que estão continuamente a melhorar “ esta ideia representa o modo de ver a situação em que só há uma coisa, aparentemente, que está de pé nesta retoma já completamente estilhaçada e que é a falta de confiança dos investidores. Isto, para além de limitar a entrada de investimento estrangeiro, está por detrás do aumento do custo de financiamento da dívida pública espanhola (as enormes quantidades de dinheiro que precisaram os bancos comerciais junto do BCE – 220 mil milhões de Euros em Março- aparentemente não é, neste contexto, a questão mais importante a lamentar  aqui). Assim a Espanha precisa de ajuda dos parceiros europeus para reduzir os custos de financiamento da dívida pública, os custos dos empréstimos, então tudo ficará bem e todos nós “comeremos perdizes” (iremos todos nós viver felizes para sempre).

A questão que aqui levanto é a de saber em que mundo é que estas pessoas estão a viver. A maior causa para o aumento de custos nos empréstimos obtidos pelo governo vêm do rápido crescimento da dimensão da dívida. Então porque é que a dívida cresce tão rapidamente? Aha, esta questão deve ter uma armadilha, uma vez que a argumentação fica precisamente neste ponto.

A triste verdade é que apesar de todos os progressos admiráveis, a raiz do problema continua a consistir  no facto de que a economia espanhola ainda não está, do ponto de vista dos comércio externo,  suficientemente competitiva para que o sector de exportação cresça  rapidamente e de modo a que  aumente, e a bom ritmo,  a taxa  de crescimento do PIB. Culpar as economias da periferia pelos problemas que estão a ter num ambiente externo negativo, como o actual é, será pois estar a errar o alvo, uma vez que a verdadeira questão que aqui se levanta é a de saber porque é que alguns países são capazes de manter alguma aparência  com a situação de se  estar  em crescimento mesmo neste contexto, enquanto outros países colapsam e explodem numa completa recessão. A única explicação possível pode ser que os países que não caem ao primeiro obstáculo sejam então mais capazes de sobreviver no ambiente negativo será então porque eles são mais competitivos. As pessoas podem-me apresentar todos os gráficos que quiserem a mostrarem-me o progresso magnífico que têm tido na redução dos custos unitários por unidade trabalho, etc, etc, mas o verdadeiro teste da estrutura económica é só um: quem é que está a crescer e quem é que o não está.

Assim, enquanto os níveis anteriores de gastos do governo que são agora insustentáveis ​​devem constantemente descer, e o sector privado deve desalavancar toda a dívida anteriormente acumulada, a economia esforça-se constantemente para poder respirar, com o resultado de que a tentativa de estar a querer  reduzir o défice  mostra-se ser  uma fonte de eterna frustração tanto quanto o rendimento está constantemente a cair e mais rapidamente  do que o esperado.

Neste contexto é difícil não ver que as estimativas mais recentes da EU sobre a Espanha são como uma tentativa de aumentar a pressão e de  forçar o país a uma qualquer forma de resgate e na verdade é assim que tudo isto é  amplamente interpretado em muitas partes da imprensa.  A Comissão disse que sem medidas adicionais o país iria ter um défice de 6,4% do PIB em 2012 e de 6,3% em 2013, uma forma de estar acima das metas acordadas do programa de estabilidade e em que estas eram de 5.3% e 3% respectivamente. O valor de 5,3 por cento era ele próprio mais alto do que os valores já anteriormente acordados e foram assim reestabelecidos de acordo com o novo governo da Espanha para lhe dar alguma margem de manobra. Agora, tudo isto está a parecer-se mesmo muito como uma chamada de atenção face às dificuldades do país, dada a  forma como os dirigentes europeus estão a tentar  levar a que  os espanhóis vejam o  sentido da situação e venham  falar sobre a realidade espanhola e especialmente sobre as necessidades do sistema financeiro.

Isto parece duplamente verdadeiro quando olhamos friamente e com atenção quer para os números do crescimento económico quer para os valores da dívida pública bruta, uma vez que a UE esperava que a Espanha tivesse uma contracção do PIB de cerca de 1,8% este ano seguido depois por uma contracção de 0,3% no ano seguinte. Eles também esperavam que a recessão atinge o seu máximo efeito no segundo semestre deste ano, tanto quanto as medidas de austeridade que já estavam, na verdade, a serem aplicadas começassem realmente a fazer feitos e a doer, depois de uma pausa em que os dirigentes espanhóis se permitiram caminhar para as eleições de Andaluzia  na primeira metade do ano.

(continua)

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