O Pato algemado – I
Vamos apresentar uma segunda série de O Pato algemado.
Como explicámos quando começámos a editar a primeira série, o nosso Pato constitui uma modesta homenagem ao Le Canard enchainée, um jornal de humor satírico que se publica em Paris há quase cem anos – foi fundado em 1915 por Maurice e Jeanne Maréchal. O seu carácter humorístico não o impede de abordar com seriedade temas da área da política e da economia. Atenção, pois, ao grasnar de O Pato algemado.
A tradução mais correcta seria “o Pato acorrentado”, mas as correntes, mais prometaicas e dramáticas do que as algemas que a polícia usa, seria conferir ao nosso pato uma paridade com deuses e heróis míticos. Na verdade, o nosso pato é um pequeno delinquente – pequenos furtos, pequenas desordens… Ainda pensámos, dada a frequência com que utiliza a hospitalidade prisional (?), chamar-lhe “o Pato encanado». Como dizíamos nem é um ladrão – é aquilo a que na linguagem antiga se designava por um ratoneiro – nada de roubar o fogo do Olimpo ou de comprar subrepticimente acções do BPN. Também não se envolve com empregadas de quarto nos hotéis – o nosso pato nem sabe o que é um hotel. Não obtem diplomas universitários à surrelfa – o pato não sabe o que é um diploma. Não é decididamente uma figura do jet set.
Tem bom feitio, mas não lhe falem no Pato Donald e, muito menos, no Pato à Xangai. Também não gosta de patos bravos. Não suporta que lhe chamem «pató». Detesta o termo patologia. E pergunta – por que razão uma palavra tão desagradável começa por pato? Um ganso erudito explicou-lhe a palavra vem do grego pathos, que significa «aquilo que se sofre, que afecta o corpo…». Não percebeu patavina. Assinou uma petição a solicitar que ao ramo da Medicina que estuda as doenças e alterações do organismo se passe a chamar galinhologia, pombologia… Ou, em alternativa, gansologia.
Bem, já agora contamos uma história
Um pato entra num pequeno restaurante e pergunta ao dono:
– Há comida para patos?
– Não, não há! Isto é um restaurante para pessoas. Vá, desaparece!.
No dia seguinte, o pato entra no mesmo restaurante e pergunta outra vez ao homem:
— Há comida para patos?
— NÃO! Já te disse ontem que só temos comida para pessoas. Põe-te a milhas!
Terceiro dia, o pato entra no restaurante e repete a pergunta:
— Há comida para patos? O homem, fora de si, grita:
— NÃO! NÓS NÃO TEMOS COMIDA PARA PATOS E SE VENS CÁ MAIS ALGUMA VEZ PERGUNTAR POR COMIDA PARA PATOS, EU PREGO-TE OS PÉS AO CHÃO! PISGA-TE!
No dia seguinte, o pato volta e pergunta: — Tem pregos?
O homem, tentando não se irritar, responde:
— Não, não temos pregos.
— Ainda bem… e comida para patos?
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