A situação de Espanha parece cada vez mais insustentável – I
Selecção e tradução por Júlio Marques Mota
O efeito da subidas taxas de juro em Espanha: o Ministério da Economia já fez o cálculo: em 2013, os juros sobre a dívida vão aumentar de 9,114 mil milhões de euros relativamente aos 28.876 mil milhões pagos em 2012. O equivalente a 3,6% do produto interno bruto (PIB). |
Claire Gatinois. Sandrine Morel (em Madrid) e Philippe Ricard (em Bruxelles)
Não, a Espanha não pediu ajuda à Europa. Não, ela nunca a reclamará, repetiu novamente, na segunda-feira, 23 de Julho, o ministro da Economia Luis de Guindos. “A Espanha é capaz de gerar crescimento e não tem os problemas que têm os outros países que foram resgatados e por isso não vai ser resgatada”, insistiu. Sem convencer.
Desde sexta-feira, 20 de Julho, que os mercados estão cépticos sobre a capacidade de Madrid sair-se desta situação sozinha. Durante o dia de segunda-feira, 23 de Julho, a tensão subiu bem alto: as bolsas na Europa caíram mais de 3% e a calma apenas voltou na manhã de terça-feira.
No mercado de dívida soberana, as taxas dos empréstimos de Espanha a 10 anos já ultrapassam o limiar de 7%. Um nível preocupante, que se aproxima dos 8%, taxa a partir da qual a Irlanda, a Grécia, a Irlanda e Portugal tiveram que pedir ajuda à “Troika”, ao Fundo Monetário Internacional, ao Banco Central (BCE) e à Comissão Europeia.
“Isto já se parece com uma situação de pânico “
Aos olhos dos investidores, o plano europeu para apoiar os bancos ibéricos – 100 mil milhões de euros – não será suficiente. A sua desconfiança, extrema, para com a capacidade da Espanha em ser capaz de liquidar as suas dívidas, manifesta-se pelo prémio de risco exigido para a concessão de empréstimos ao país: é seis vezes superior ao da Alemanha.
“A Espanha não se pode manter durante muito tempo, assim, teme-se no Eliseu. . “Já se sente o pânico no ar “, observa também um analista. O que ainda piora a situação no país porque o aumento das taxas de juro espanholas aumenta o peso da dívida, tornando ainda mais difícil que esta venha a ser paga.
O Ministério da Economia já fez o cálculo: em 2013, os juros sobre a dívida vão aumentar de 9,114 mil milhões de euros relativamente aos 28.876 mil milhões pagos em 2012. O equivalente a 3,6% do produto interno bruto (PIB).
30 mil milhões para fechar o orçamento de 2012
A curto prazo, a Espanha não está em perigo, diz Matteo Cominetta da UBS em Londres. O país ainda precisa de 30 mil milhões de euros para fechar o orçamento de 2012 e reembolsar as dívidas que se irão vencer, chegadas as datas de vencimento.
Segundo ele, Madrid poderia sacar de um tesouro de guerra cerca de 10 mil milhões de dólares e pedir emprestado o resto . Mesmo que o custo seja elevado, os investidores continuam a comprar dívida espanhola, disse ele.
Mas quanto tempo pode levar a Espanha a aguentar-se? No princípio dos anos 1990, as taxas de empréstimo tinham atingido níveis superiores a 12%. Tudo isto acabou num “psicodrama”, lembra Patrick Artus, economista-chefe da Natixis.