A situação de Espanha parece cada vez mais insustentável – II
Selecção e tradução por Júlio Marques Mota
(conclusão)
Desvalorização maciça da peseta
Na época, as taxas divergentes dos países da Europa, como a da Espanha ou da Itália, tinham contribuído para fazer explodir a serpente monetária Europeia, este sistema que exigia que as moedas europeias flutuassem numa margem cambial limitada por umas moedas relativamente às outras.
Madrid lançou-se numa enorme desvalorização da peseta. Depois tudo entrou na ordem , quando o país, candidato à entrada na zona euro, tinha posto em prática um programa de redução dos défices.
Hoje, a Espanha já não pode ter mais o recurso à desvalorização, e, segundo os especialistas, o país não cumprirá a meta de um défice de 6,3% do PIB em 2012. O anúncio de um novo plano de austeridade , espera-se, para conseguir economizar ao Estado cerca de 65 mil milhões de euros em dois anos não alterou a ideia que da Espanha têm actualmente os investidores. Longe de ser visto como um sinal de boa vontade o plano é interpretado como sendo mais um fardo para uma economia qe já tem garantida uma recessão .
À ESPERA DE UM GESTO DO BCE
O país entrou num círculo vicioso onde os mercados estão preocupados com a situação espanhola ao mesmo tempo que a comprometem ainda mais: a alta das taxa pesa sobre a importância e o preço dos créditos concedidos às famílias e às empresas, emperrando um pouco mais a economia.
Parece difícil para o país saír desta situação sózinho. Segundo Patrick Artus, com um custo de empréstimos a cerca de 7%, é necessário que a Espanha consiga obter um excedente orçamental primário (posição orçamental com exclusão do serviço da dívida) em cerca de 6 pontos de PIB para estabilizar o seu nível de endividamento. Isto é insustentável, acrescentou.
A maioria dos especialistas espera, pois, um gesto do BCE. Através da compra de empréstimos do estado directamente, ou oferecendo a sua garantia para que os fundos europeus de ajuda financeira o façam, o BCE só ele poderá fazer com que desça a febre no mercado de dívida soberana espanhola, é o que pensam.
“A Europa somos todos nós “
Um ponto de vista partilhado pela maioria dos dirigentes políticos espanhóis que estão á beira do desespero. “O BCE não pode permanecer imóvel (…), indiferente a esta situação”, disse, comovido, na segunda-feira, Carlos Floriano, o número três do partido popular (PP), ao qual pertence também o chefe do governo, Mariano Rajoy. “Que nós nos financiemos a 7% enquanto outros países se financiem a 0% é uma situação insustentável,” disse ele. .
Mario Draghi poderia ser sensível a esses argumentos. Se o Presidente do BCE explicou que o seu mandato não era para ajudar os Estados a resolver os seus problemas financeiros, mas sim para garantir a estabilidade do sistema financeiro, pode-se pensar que do destino de Madrid depende o futuro do euro. “Não há não 36 soluções”, atesta um alto funcionário europeu.