MANUAL DO PERFEITO “BANKSTER”, LIÇÃO 5 – II: ENGANAR OS SEUS ACCIONISTAS

Selecção, tradução e introdução por Júlio Marques Mota

A avaliação do grupo de Bankia mostra um buraco de 13,635 mil milhões

A avaliação negativa deixa as Caixas, sem nenhuma qualquer participação na instituição

O Conselho do Banco Financiero y de Ahorros demite-se em bloco devido à nacionalização

MIGUEL JIMÉNEZ / ÍÑIGO DE BARRÓN Madrid / Santander, El País, Junho de 2012.

Legenda: Os responsável pelas sete Caixas que formaram Bankia. Rodrigo Rato, que foi presidente do conglomerado, no centro da imagem / grupo de CARLES FRANCESC

Bankia não vale mesmo nada. Pior do que isso a sua valorização é negativa, – 13,635 mil milhões de euros. Esta é a avaliação realizada com a nacionalização e que foi apresentada hoje ao Conselho da Instituição, de acordo com fontes do dito Conselho. Isso supõe que a conversão dos 4.465 milhões de participações preferenciais em acções do Banco Financiero y de Ahorros (BFA) traduz a nacionalização de 100% da matriz e, indirectamente, de 45% do Bankia, enquanto que a valorização não afecta directamente o banco citado. Os directores do BFA demitiram-se em bloco.

As sete Caixas de poupança que criaram BFA são deixadas sem qualquer património naquela entidade o que as deixa sem dividendos futuros outros que não sejam os afectos para a obra social. As entidades afectadas são Caja Madrid, Bancaja, La Caja de Canárias, Caixa de Ávila, Caixa Laietana, Caja Segovia e Caja Rioja. As sete Caixas transportaram as suas actividades financeiras para o BFA e agora são deixadas sem nada, para além dos activos da obra social que ficaram de fora da integração.

A valorização do BFA é anterior às injecções de capital público, tanto os 4,465 mil milhões iniciais como os 19 mil milhões adicionais solicitados pelo novo Presidente, José Ignacio Goirigolzarri. O processo de nacionalização estabelecia que deveria ser realizada uma avaliação, já que foi aquela que avaliou no montante de 13.635 milhões que levou à nacionalização de 100%, como foi o caso com Unnim. CatalunyaCaixa e Nova Caixa Galicia conservaram pequenas participações nos bancos nacionalizados. No entanto, esses bancos precisam novamente de voltar a pedir dinheiro público, pelo que acabarão igualmente nacionalizadas em 100%.

O BFA encerrou o exercício de 2011, com fundos próprios e com o património líquido negativo, de acordo com as contas aprovadas pelo seu Conselho de Administração. Isto leva a que a organização dirigida por José Ignacio Goirigolzarri considera estarem em falência técnica, com um saldo negativo de 4,489 milhares de milhões de euros de acordo com o ponto de vista contabilístico . A avaliação foi ainda pior, ao ter-se em conta a avaliação dos prejuízos ainda pendentes.

As contas consolidadas do grupo reformuladas no final de Maio pelo Conselho do BFA mostram que o resultado consolidado do período foi um prejuízo de 4,952 mil milhões de euros (incluindo os que correspondem aos minoritários de Bankia), o maior prejuízo da história financeira espanhola, à frente do Banesto com os 3,5 mil milhões de prejuízos em 1993. Este valor representa 164 vezes o prejuízo consolidado de 30,25 milhões que foi o valor inicialmente declarado.

O Conselho de administração do Banco Financiero y de Ahorros demitiu-se em bloco. A alternativa que se enfrentava era a de serem imediatamente demitidos.  Apesar da recente saída de Rodrigo Rato, José Manuel Fernández Norniella e Angel Acebes, ainda permaneciam na Direcção da instituição pessoas que têm ocupado cargos políticos destacados com o partido PP tais como Mercedes de la Merced, José Manuel Serra Peris, Agustín González ou Ricardo Romero de Tejada, juntos a outros representantes das caixas que se agruparam , principalmente da Caja Madrid e Bancaja.

A reunião do Conselho foi muito tensa. Ao saber-se que a valorização da instituição foi negativa por 13,635 mil milhões, os conselheiros ficaram surpreendidos e pediram explicações a Goirigolzarri. Alguns queriam saber os detalhes da avaliação e os representantes da Caja Madrid solicitaram que se especificasse a contribuição de cada uma das Caixas em presença, mas Goirigolzarri recusou- se a dar mais explicações para além das já dadas e remeteu para a avaliação do FROB e esclareceu que todos os negócios financeiros estavam integrados, que não procedia a nenhuma uma avaliação separada pelas partes e que as instituições tinham posto em comum todos os seus activos e os seus passivos.

Outros conselheiros mostraram a sua preocupação com o futuro da obra social. Goirigolzarri foi receptivo, mas tornou claro que BFA passa a ser um banco público com um só accionista (o Estado), que terá que decidir e que não era a altura de se pronunciar sobre esta matéria.

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