DIÁRIO DE BORDO de 13 de Outubro de 2012

Ainda há dias atrás, falando da canonização de Pio XII e de  Josemaría Escrivá de Balaguer, dizíamos, num dos nossos posts, que nada temos a ver com as decisões que a Igreja Católica decide tomar em matéria de canonizações, tal como noutras questões que só àquela igreja digam respeito. Em todo o caso, a política de canonizações define a hierarquia de valores que a Igreja de Roma estabelece. E referíamos o facto de a Igreja entender poder pronunciar-se sobre todos os temas da vida secular. Ontem, em conferência de imprensa realizada em, em Fátima, o Cardeal Patriarca e presidente da Conferência Episcopal Portuguesa foi da opinião que “há dimensões preocupantes” na actual crise económica e social que se vive no país. “A democracia que se define constitucionalmente como democracia representativa, na qual as soluções alternativas têm um lugar próprio para serem apresentadas, neste momento, está na rua”,

Nem vamos perder tempo a lembrar que, segundo dizem, Jesus Cristo contestou o poder político. Até porque, sendo ateus, entendemos que Cristo e cristianismo são duas realidades que só etimologicamente se relacionam. Jesus Cristo nunca terá querido fundar uma religião. Por outro lado, se somos da opinião que o âmbito de actuação da Igreja pára na sacristia, não podemos negar ao cidadão José Policarpo o direito de se pronunciar sobre a situação que se vive no seu país.  .“O que está a acontecer é uma corrosão da harmonia democrática, da nossa constituição e do nosso sistema constitucional.”É uma verdade – os governantes estão a destruir o sistema constitucional e a substituí-lo por decisões de uma total inconstitucionalidade e, pior do que isso, de um total desprezo pelos direitos elementares dos cidadãos. Harmonia democrática nunca houve, mas os derradeiros vestígios de um movimento que há 38 anos abalou o País (lembram-se?) estão a ser desmantelados.

O cidadão Policarpo , afirmando que não queria acrescentar a sua voz à “balbúrdia das opiniões” que comentam a actualidade, porque isso não faz parte do “ministério do bispo”. afirmou que a crise actual foi criada “ao longo de muito tempo”. “Estes problemas foram criados por nós e por quem nos governou”, branqueando  a acção deletéria do actual executivo, no mesmo dia em que Passos Coelho dizia no Parlamento que a culpa do que se está a passar é dos socialistas e em que Marques Mendes, nos Açores, afirmava que este governo é o bombeiro que está a apagar o fogo posto pelo anterior governo socialista. Mas onde o Cardeal queria chegar era à condenação das manifestações, pois os problemas não se resolvem “contestando, indo para grandes manifestações” ou fazendo uma qualquer “revolução”. E criticou a “reacção colectiva a este momento nacional, que dá a ideia de que a única coisa que se pretende é mudar o Governo” E ainda que se confesse incompetente para avançar com alternativas, considerou que “há sinais” de que os sacrifícios levarão a resultados positivos”, quer no país quer na Europa. “A situação criou-se dentro de um sistema económico-financeiro em que estamos inseridos, na União Europeia, e é lá que temos de encontrar as soluções”.(…): “A democracia faz-se vencendo etapas como estas.” Se isto não é um conselho aos católicos para não ir a manifestações e, portanto, uma mãozinha dada aos bombeiros Coelho, Gaspar & companhia, parece sê-lo. Sobre o papel da Igreja Católica,  diz que ela está presente junto dos mais necessitados “para ajudar em silêncio”. E então compreendemos porque é que Eugénio Pacelli, o amigo de Hitler e Mussolini foi canonizado – ele ajudou no mais absoluto dos silêncios os seis milhões de judeus a ser mortos pelos nazis. E foi também em silêncio que ajudou alguns criminosos de guerra a fugir para a América Latina – dando-lhes refúgio no Vaticano, arranjando-lhes passaportes com identidades falsas e dando-lhe importâncias em dinheiro para recomeçarem a vida nas Américas.

Não estamos dispostos a afirmar que a Igreja de Cristo nada tem a ver com Cristo. Isso é trabalho para os cristãos. Nós nem sequer sabemos se Cristo é uma realidade histórica ou uma figura de ficção. Nem isso nos interessa minimamente. O que dizemos é que a igreja católica está sempre do lado de quem oprime, de quem rouba, de quem mente. É um pilar da injustiça social que desde sempre reina sobre o mundo. Apoia expressamente ditadores, déspotas, oligarquias.  Apoia a injustiça.

Mas, em silêncio reza pelos oprimidos e por aqueles que os seus amigos assassinam. É bonito.

1 Comment

  1. Cidadão, cidadão, mas sempre a Igreja a meter-se onde não deve. As declarações que o Cardeal Patriarca ontem fez sobre as manifestações são mais do que o exemplo disso e deixaram-me revoltada. Então, e os “pobrezinhos” deles, já não existem? Pura hipocrisia desta Igreja católica.

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