Selecção e tradução por Júlio Marques Mota
O escandaloso (e discreto) segundo plano de ajuda do BCE à Irlanda
De Blog gaulliste libre, de Laurent Pinsolle
Assim, como observou o site wikistrike, o BCE claramente ultrapassou o seu mandato e violou o artigo 123 do Tratado de Lisboa. Em suma, para os eurocratas, o respeito pela lei, é somente defendido quando isso lhes convém.
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A UE tornou-se um monstro tecnocrático, que decide de forma totalmente arbitrária e despótica somas absolutamente colossais, às vezes até mesmo em total desprezo pelas regras europeias |
Existe realmente algo podre nesta União Europeia pronto a tudo desde que seja ela que se salve, incluindo até a violação dos tratados e ou o fazer trabalhar a rotativa a fabricar papel-moeda. |
Texto enviado por Philippe Murer, Membre du bureau du Forum Démocratiqu
Président de l’association Manifeste pour un Débat sur le libre échange
30 de março de 2013
Não é somente em Chipre que os planos europeus se seguem uns a seguir aos outros e de forma desordenada. No início de Fevereiro, foi alcançado um discreto acordo entre a Irlanda e o BCE por ocasião da liquidação do chamado mau banco que resultou da nacionalização de 2009 e 2010 e assumido como bad bank, ou estrutura de acantonamento, como também se diz. A discrição nesta liquidação de agora não era por acaso, havia as suas razões e bem curiosas.
Quando o BCE refinancia a Irlanda em suavidade
Devo agradecer a Maguy Girerd por me ter transmitido essa informação um pouco absurda e pouco difundida nos media. Conforme relata o documento do jornal La Tribune, o BCE e Dublin concluíram um acordo bastante de espantar e na urgência no início de Fevereiro. O ponto de partida é o procedimento de liquidação de IRBC (Irish Bank resolução Corporation), o “mau banco” ‘ ou estrutura de acantonamento do Anglo Irish Bank e de Nationwide, nacionalizados durante a crise.
Esta liquidação seria feita com pressa, em poucas horas, para colocar Dublin numa posição forte contra o BCE. Na verdade, o IRBC tinha levantado 30 mil milhões de euros junto do BCE através do reconhecimento equivalente de dívidas do Estado irlandês ao IRBC. E estava agora declarada a sua falência! Anualmente, Dublin pagava 3 mil milhões para a IRBC, o que permitia a este último pagar a sua dívida ao BCE. Mas a liquidação de IRBC veio quebrar este esquema e impor pois uma renegociação.
Em contrapartida, conforme é relatado por La Tribune [1] o acordo foi substituído pelo “pagamento directo ao BCE de uma obrigação de 40 anos de maturidade e à taxa de juro de 3%. Esta substituição deve permitir que o país passe a economizar 1 milhar de milhões de euros por ano no orçamento do estado em termos de juros poupados, ou seja 0,6% do PIB. Esta obrigação representa quase 20% do PIB na Irlanda (400 mil milhões à escala da França). Claramente, o BCE acaba de monetarizar discretamente, quase um quinto da dívida do país…
Como assina La Tribune assim se marca o fim de um processo envenenado
“Com este movimento apressado, a falência de IRBC , a Irlanda coloca um ponto final num processo que estava a envenenar o seu retorno nos mercados. A partir de agora, o ex-“Tigre celta” pode olhar para o futuro com mais confiança. Tanto mais quanto a Troika no seu relatório publicado quinta-feira está cheia de elogios para com o país. No entanto, duas questões permanecem de pé. Em primeiro lugar, a economia da Irlanda continua frágil. Baseia-se exclusivamente na exportação, e a procura interna, permanece das mais fracas. Na terça-feira, a construção de casas novas atingiu o nível mais baixo desde 1970. Nada é seguro que a Irlanda possa ser um modelo para o resto da Europa. De seguida, o acordo alcançado com BCE levanta problemas: o BCE não deve comprar directamente dívida emitida pelos Estados da zona euro. Certamente, aqui, trata-se de uma conversão de dívida bancária. Mas isto claramente tem toda a forma de um apoio directo. É verdade que os dirigentes europeus e o BCE já tinham já afirmado há umas semanas já que a Irlanda era um caso especial.” Como a Grécia. Então, cada vez mais, portanto, a Europa está a tornar-se uma soma de “casos particulares”, casos especiais, que permitem aos líderes europeus evitarem os seus próprios compromissos. O principal ensinamento deste dia louco na Irlanda no entanto permanecerá contudo que, pela primeira vez desde o início da crise, um país fez ceder os seus credores e o BCE num movimento rápido e inédito. Isto é, talvez, o mais belo sucesso irlandês.”
O arbitrário se disputa ao despotismo na UE
É alucinante que um acordo sobre uma soma tão alta (um quarto do ‘plano de resgate’ do país, mais do que a totalidade do plano cipriota) seja decidido desta maneira , num desinteresse relativo dos media e sem qualquer consulta dos líderes europeus. Assim, como observou o site wikistrike, o BCE claramente ultrapassou o seu mandato e violou o artigo 123 do Tratado de Lisboa. Em suma, para os eurocratas, o respeito pela lei, é somente defendido quando isso lhes convém.
Isso é grave, porque, em última análise, são os europeus que são os garantes do BCE. Quando o BCE concede um empréstimo de 30 mil milhões à Irlanda, a França é garante em 6 mil milhões uma vez que a França representa 20% do PIB na área. Isso significa também que os banksters em Frankfurt nos colocaram como garantes de 200 mil milhões (uma bagatela de 3 000 euros por cada francês,) quando eles emprestaram um milhão de milhões aos bancos no final de 2011 / início de 2012, de forma totalmente irresponsável.
Entretanto, como é relatado por Challenges, os eurocratas acabaram de aplicar à França uma multa na ordem dos 8 a 9 mil milhões de euros (nada menos do que isso!) pela existência de taxas não conformes ao direito europeu. Jean-Pierre Gérard comoveu-se fortemente no site Debout la République. A UE tornou-se um monstro tecnocrático, que decide de forma totalmente arbitrária e despótica somas absolutamente colossais, às vezes até mesmo em total desprezo pelas regras europeias!
Existe realmente algo podre nesta União Europeia pronto a tudo desde que seja ela que se salve, incluindo até a violação dos tratados e ou o fazer trabalhar a rotativa a fabricar papel-moeda. Este acordo também demonstra mais uma vez o escândalo da independência dos bancos centrais, que lhes permite fazer não importa o quê e de forma totalmente irresponsável.
em
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[1] Nota de Tradução. Vale a pena ler o artigo disponível em:
http://www.latribune.fr/actualites/economie/union-europeenne/20130207trib000747514/comment-l-irlande-a-liquide-son-fardeau-bancaire-en-une-nuit.html de que tomámos a liberdade de inserir um longo excerto no presente trabalho.