RETRATOS, IMAGENS, SÍNTESE DOS EFEITOS DA CRISE DA ZONA EURO SOBRE CADA PAÍS

Saltam as rolhas do caro champagne em Lisboa porque a crise acabou, disparam-se os primeiros tiros de bazuca a partir dos mercados financeiros porque a crise se intensificou

Júlio Marques Mota

PARTE V
(CONTINUAÇÃO)

Não nos meteremos nas questões habituais sobre a sustentabilidade política de austeridade, mas Tortus tem duas figuras (XIVa e XIVb) sobre a desigualdade de rendimentos para os quais vale a pena dar uma olhada. Percebemos bem o risco de implosão-explosão da zona euro, se Bruxelas, Frankfurt e Berlim continuarem pelo caminho que para esta zona se estipulou e que no dizer de Christophe Beaudouin significa que a União Europeia se tornou numa [enorme] empresa de liquidação da Europa como civilização e como projecto. Como assinala este autor:

“Os europeístas chamam «Europa», ao que hoje não é mais do que uma acumulação de normas e de injunções, um frio edifício de vidro e de aço, sem portas, sem telhado e sem memória. Já não há muito de europeísmo na chamada União Europeia mas sim um “mundialismo” vulgar, materialista e relativista. São então o humanismo e os valores fundadores da civilização europeia que se devem erguer contra esta barbárie tecno-mercantil suave, techno-mercante e contra os seus funcionários políticos.”

Figuras XIVa e XIVb Desigualdades de rendimentos

bazuca - XVI

Também salienta que a população se reduziu nos últimos três anos, e que a população tem a menor taxa de frequência do secundário (16+) na zona do euro, mas de novo insistimos “bem acompanhados” e o suficiente para não sermos indicados a dedo.

Abordemos a solução apresentada por Tortus Capital

No mais optimista dos casos, acreditamos que Portugal só pode conseguir alcançar um excedente primário de €5 mil milhões e, portanto, não poderá suportar mais do que € 5 mil milhões no pagamento de juros da dívida existente.

Vejamos o raciocínio do Hedge fund Tortus Capital.

A expressão da evolução do rácio da dívida relativamente ao PIB é-nos dada por:

∆ (D/ PIB) = dp + b (µ – g), onde dp é o défice primário por unidade PIB, logo sem inclusão do serviço da dívida, b é o peso da dívida relativamente ao PIB, μ é a taxa de financiamento da dívida pública e g é a taxa de crescimento do PIB. Esta expressão diz-nos que com a exclusão do défice primário a dívida relativamente ao PIB continua a aumentar, ∆ ( D/PIB ) será maior que zero, se e só se for maior do que g.

A melhor situação como saldo primário

• O FMI pressupõe que, em 2018, o saldo primário irá voltar ao seu nível de pico de 3% do PIB atingido em 1992;

• Esta é provavelmente uma hipótese bem optimista, mas esta vai-nos ajudar a determinar o montante de dívida que Portugal pode suportar no melhor dos cenários possíveis estabelecido pelo FMI.

Figura XV – Saldo primário português/ PIB

bazuca - XVII

Se as taxas de financiamento público excederem as taxas de crescimento nominal do PIB, então o rácio da dívida relativamente ao PIB pode variar até ao infinito, desde que não haja um excedente primário, como o indica a fórmula acima.

O excedente primário da Itália é de +2.3% do PIB, enquanto o excedente de Portugal é negativo -1,6% (défice positivo). Veja-se, para efeitos de comparação a Tabela C abaixo, onde a última coluna é expressa pela diferença entre A, a taxa de crescimento, e B, a taxa média de financiamento público. O simétrico do que colocámos na expressão anterior.

Tabela CCrescimento do: PIB nominal, taxa de juro da dívida, diferencial da taxa de juro de financiamento da dívida – Europa a 17

bazuca - XVIII

No caso português, o rácio da dívida/PIB fica estável, ou seja, a dívida fica estável, se tivéssemos um excedente primário igual a 1,28 vezes 2%. Simplesmente temos um défice e de (1,6%), o que significa que o rácio da dívida este ano aumenta de 1,6% + 2,560= 4.160%.

(continua)

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Para ler a Parte IV deste texto de Júlio Marques Mota, publicada ontem em A Viagem dos Argonautas, vá a:

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