Saltam as rolhas do caro champagne em Lisboa porque a crise acabou, disparam-se os primeiros tiros de bazuca a partir dos mercados financeiros porque a crise se intensificou
Júlio Marques Mota
PARTE IV
(CONTINUAÇÃO)
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Face ao exposto, devemos devemos falar sobre a Grécia novamente.
1. O alongamento das maturidades da dívida soberana alcançado com a reestruturação na Grécia foi um erro que levou a maiores cortes na dívida do que se houvesse um perdão parcial da dívida, [digamos um bail-in seria a melhor solução].
2. O corte das despesas públicas e o aumento de impostos tem provocado de um modo muito desproporcional um grande impacto negativo na economia e leva a uma maior, e não a uma menor, alavancagem.
Agora, a ajuda da Troika (UE, BCE e FMI) foi o suficiente para fazer descer em 2012 os rendimentos dos títulos soberanos de Portugal em mais de 16% para menos de 6%, mas as necessidades de refinanciamento deste ano e do próximo atingem um valor em cerca de 25% do PIB.
Figura XI – Rendimentos dos títulos soberanos (10 anos) de Portugal
Enquanto isso, bancos e grandes empresas de Portugal precisam de se refinanciarem em €83 mil milhões da dívida até ao final de 2015. Ah, e a taxa de incumprimento para ambos os empréstimos a empresas não financeiras e pessoais é de 16%.
Vejamos por aqui as necessidades de financiamento do Estado e das grandes empresas e bancos para os próximos anos. Sublinhe-se, neste âmbito, que falar de União Europeia é um absurdo, falar de zona euro é igualmente um outro absurdo, quando tudo é diferente de país a país. São diferentes as taxas a que se financiam os Estados, as taxas a que se financiam os bancos, as taxas a que se financiam as empresas. São inclusive os sistemas tributários que servem também eles de arma na concorrência entre os Estados-membros. E depois fala-se em concorrência! Agora, o Estado Português irá ser levado a ir sozinho aos mercados e emitir níveis excessivos de dívida e portanto, se sozinho, exactamente a ficar sujeito individualmente à forte pressão dos mercados. E isto num espaço que dá pelo nome de União Monetária. União então de quê? …
Quanto a necessidades de Portugal em emissão de dívida a curto prazo, o governo precisará de emitir quase 30% do PIB em nova dívida em 2014 e 2015.
Tabela B – Emissão de dívida portuguesa necessária para 2014 e 2015
Necessidades de refinanciamento de dívida a curto prazo na zona euro. As necessidades de refinanciamento de Portugal em 2014 e 2015 são muito altas, cifrando-se num montante de 25% do PIB de 2013. Note-se porém, ao visualizar a Figura XII, que há mais países numa situação equivalente à de Portugal, e que na qual não são frisados no texto.
Figura XII – Vencimentos de dívida em 2014-2015 (em % do PIB) em alguns países da zona euro
Vejamos agora, servindo-nos da Figura XIII, as necessidades do sector privado. Os bancos portugueses e as grandes empresas estarão a competir nos mercados de capitais com o Estado português, para satisfazer as suas necessidades de financiamento. Os bancos precisarão de se refinanciarem no equivalente a 18% e a 31% do PIB respectivamente em 2014 e 2015 ou seja em €83 milhares de milhões. Todavia, note-se que o custo do financiamento não é igual para todos. Segundo o que nos mostra a Figura XIII, os bancos portugueses financiam-se praticamente ao dobro do que o que conseguem os bancos europeus.
Figura XIII – Taxa dos títulos a 5 anos
E falem-nos então em União Europeia, em zona euro! Não será preferível falar antes em (des)União Europeia? É o que poderíamos dizer relativamente ao texto de Tortus Capital?
(continua)
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Para ler a Parte III deste texto de Júlio Marques Mota, publicada ontem em A Viagem dos Argonautas, vá a:
RETRATOS, IMAGENS, SÍNTESE DOS EFEITOS DA CRISE DA ZONA EURO SOBRE CADA PAÍS
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