RETRATOS, IMAGENS, SÍNTESE DOS EFEITOS DA CRISE DA ZONA EURO SOBRE CADA PAÍS

Saltam as rolhas do caro champagne em Lisboa porque a crise acabou, disparam-se os primeiros tiros de bazuca a partir dos mercados financeiros porque a crise se intensificou

Júlio Marques Mota

PARTE VI
(CONTINUAÇÃO)

Vejamos agora na melhor das hipóteses segundo os cenários do FMI qual é a capacidade de Portugal responder ao serviço da dívida:

• No mais optimista dos casos, acreditamos que Portugal só pode gerar um excedente primário de €5 mil milhões e, portanto, não poderá sustentar mais de €5 mil milhões no pagamento de juros da dívida existente

• Com um actual fardo de juros da dívida de mais de €7 mil milhões, e dado então o excedente primário do melhor dos cenários de 5 mil milhões o rácio de cobertura de juros é de 0,7x, implicando que Portugal tem aproximadamente 30% da dívida em alavancagem excessiva, e isto no melhor dos casos como se disse.

Tabela DServiço da dívida portuguesa

bazuca - XIX

Com o fardo actual de juros da dívida de mais de €7 mil milhões, o rácio de cobertura de juros é de 0,7x (5/7= 70%), implicando que Portugal tem aproximadamente cerca de 30% como alavancagem excessiva, no melhor dos casos.

Nesta linha, o que pode esperar a população portuguesa? O texto é bem claro e a realidade, diríamos nós, é então bem escura, pois de acordo com os autores (mas não é assim que se tem visto) a alternativa para os trabalhadores portugueses é ganhar menos ou então haver menos empregos. Aqui há apenas um engano: não há alternativa. A sequência das políticas aplicadas é simultaneamente ganhar menos por hora trabalhada, haver mais emprego a tempo parcial e também mais desemprego. De acordo com a Figura XVI o rendimento nacional bruto disponível por pessoa é baixo.

Figura XVI Rendimento nacional bruto disponível por pessoa (Portugal e zona euro)

bazuca - XX

• Os portugueses ganham apenas ligeiramente mais do que a metade do rendimento líquido médio da zona euro: €16 mil euros anualmente contra €29 mil euros na zona euro.

• Em vez de convergir para a média da zona euro, a diferença entre a média europeia e a média em Portugal aumenta enquanto o nosso rendimento disponível contínua estável.

Assim, são necessários salários mais baixos para combater o desemprego.

• “Uma vez ausente uma maior flexibilidade salarial, isto poderá levar a que baixe o volume de emprego e o rendimento agregado” (IMF 7th Review)

• O emprego baixou de 13% deste o seu máximo alcançado em 2008

Figura XVII Taxa de desemprego – Portugal, zona euro

bazuca - XXI

E duas consequências emergem levando a que as perspectivas de crescimento venham a ser ainda mais fracas.

A população a reduzir-se.

• Portugal tem a mais baixa taxa de fertilidade na zona euro.

• A sua população reduziu-se já em 1.3% somente nos últimos três anos

Figura XVIII – Taxa de fertilidade – europa a 17

bazuca - XXII

Os níveis educacionais baixam como se pode verificar na Figura XIX

• Portugal tem apenas 38% da sua população situada na faixa dos 25-64 anos que terá atingido pelo menos o segundo ciclo.

• Esta é a mais baixa taxa na zona euro

Figura XIX – Taxa de alfabetização (25-64 anos)

bazuca - XXIII

A única maneira de resolver esta situação seria, segundo argumentam, é conseguir uma reestruturação da dívida com perdas do sector privado. Agora Tortus tenta analisar algumas das objecções levantadas e debruçar-se sobre as concepções erradas que as rodeiam.

Ainda segundo Tortus,  admite-se  que um resgate feito pelos credores com perdão da dívida parcial, dito bail in ou dito também como um PSI (Private Sector Envolvment) não levaria de forma nenhuma algum banco às recapitalizações e que não haveria razões para preocupações quanto ao risco de contágio! Aqui, com esta posição  os “nossos amigos” americanos ignoram toda a linha dos contágios na crise europeia. Basta lembrar o vendaval que se gerou em 2011, porque em 3  Agosto deste ano o Le Monde publicou uma crónica de ficção política sobre o futuro do euro a decorrer em Maio de 2012. Um jornalista inglês tomou a ficção como realidade e desencadeou um autêntico  furacão sobre toda a zona sul da Europa até à França. E esteve-se, assim,  perto do fim.

(continua)

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Para ler a Parte V deste texto de Júlio Marques Mota, publicada ontem em A Viagem dos Argonautas, vá a:

RETRATOS, IMAGENS, SÍNTESE DOS EFEITOS DA CRISE DA ZONA EURO SOBRE CADA PAÍS

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