PROBABILIDADE E MODO DE GESTÃO DA PRÓXIMA CRISE FINANCEIRA – por JEAN-CLAUDE WERREBROUCK

 Selecção e tradução por Júlio Marques Mota

Probabilidade e modo de gestão da próxima crise financeira

Jean-Claude Werrebrouck

 Blog La crise des années 2010

27 de Janeiro de 2014

 Texto enviado por Phillipe Murer a quem ficamos muito reconhecidos.

crise dos anos 2010

 Parte II
(conclusão)

Calma aparente e fracturas potenciais ou até mesmo de explosão

Vista de longe, a zona  aparece como sólida  com um excedente   consistente de 250 mil milhões de euros. A dívida dos países do Norte,  importante e líquida constitui-se assim em matéria-prima procurada pelos investidores, principalmente japoneses e chineses. Dois factos que fazem, potencialmente, do euro  uma moeda de reserva.

Vistas de perto,  as coisas são muito diferentes. A  zona euro  está fragmentada com taxas de juros – para proveito  da economia – muito variáveis:  os empréstimos a 10 anos  negoceiam-se a 9,5% na Grécia, a 4% na Espanha, mas somente a 0,6% na Alemanha [11].  A fragmentação também se lê nos diferenciais de inflação : (-) 2,9% na Grécia, 0,1% em Portugal, 0,3% na Irlanda e Espanha, 0,7% na Itália, mas 1,2% na Alemanha e na Holanda.  Isto significa que é falso  considerar que os spreads   sobre a dívida dos governos estão  próximos  e que, em geral, estes diminuíram no sul. Dado o risco de deflação, as diferenças persistem. Observe-se  também que os empréstimo  contraídos pelos irlandeses em 15 de Dezembro último , que se diz de grande sucesso, mas possível porque tinha fortes escudos de protecção  para enfrentar o mercado: emissão sindicada , garantia da forte protecção do BCE e bom rendimento  num espaço global que  se encontra cada vez mais desprovido .[12] Além disso, as dívidas  públicas estão-se cada vez mais a  nacionalizar: bancos domésticos cobrem as emissões domésticas de títulos públicos, o que obviamente mantém as diferenças nas taxas.

Essa fragmentação em detrimento do Sul continua a destruir o tecido industrial da região [13] com uma diminuição de 30% para as actividades correspondentes de  30%  para a  Espanha e Grécia [14].

É neste contexto geral que os cisnes negros [15] se podem manifestar durante todo o ano.

Eles são numerosos e constituem uma pista de reflexão do G21:

Dois de entre – eles foram já discutidos: o caso de “Peugeot”  e o caso ” da saída  da Itália da zona euro ”   em 11 de Dezembro de 2013. Outros casos podem ser citados:

-“Testes de resistência ” dos bancos que o BCE irá realizar durante a primavera de 2014 confirmam  e ilustram as   analises da  KPMG, segundo as quais  os créditos mal parados  que estão debaixo do tapete  dos bancos ascendem  a EUR 1500  mil milhões, dos quais  600 mil milhões para a Espanha, a Itália e Portugal. Trata-se de  um catalisador potencial a poder desencadear  o pânico e o colapso do castelo de cartas. Compreendemos  hoje melhor a prudência do BCE que não quer que seja evocado nos  testes de resistência  a hipótese de um incumprimento   das  dívidas públicas que inundam os balanços dos bancos europeus. Também assim se compreende melhor a flexibilização recente obtida no Comité de Basileia [16]

-A passagem  obtida em  Bruxelas de uma estratégia de ‘ resgate’ ( Bail-out,  ou seja, são os contribuintes que pagam) para uma estratégia de “Bail-in” parcial ( são os accionistas e os credores suportam  parcialmente as falências bancárias) não é aceite  pelos mercados que têm medo e arrastam com ele um colapso do sistema financeiro . Este é um segundo possível potencial catalisador [17].

– A Grécia e / ou Portugal, incapazes  de enfrentar  o crescimento da sua dívida pública, bloqueiam  as  negociações da próxima  Primavera   com a ‘Troika’ e deixam  a zona euro. Trata-se pois de  um terceiro catalisador potencial possível.

-O referendo previsto para a independência da Catalunha (9 de Novembro de 2014) ocorre apesar da grande batalha legal que é desencadeada  sob a direcção do primeiro-ministro espanhol e dá um sim à independência.  Nem Bruxelas nem Madrid reconhecem  a independência. Quanto a dívida pública espanhola, que fazer, então?  Será que deve ser partilhada a?[18] Trata-se pois de um quarto catalisador potencial possível [19].

-As eleições europeias de Maio de 2014 fazem com que apareça um  crescendo de populismo, bloqueando as negociações relativas aos contratos de ajustamento dos países do Sul  pretendidos pela Alemanha e os contratos já em reporte  de Dezembro de 2013, sob a pressão de diversos  países. Os capitais deixam o Sul para se irem  juntar  no Norte  e geram assim uma fragmentação financeira extrema. A retoma é assim permanentemente bloqueada nos países do Sul. Este é o quinto possível catalisador potencial.

– Os mercados estão cientes de que a união bancária decidida a 18 de Dezembro é apenas uma mentira: a Alemanha impede a partilha de riscos, o fundo mútuo estará operacional em 2026, este  último é muito pequeno contra o risco potencial (56 mil milhões enquanto  que só o custo de resgate dos  bancos em 2008 ascendeu a 1611,9 mil milhões,   que os  riscos hoje e  apenas em produtos derivados em todo o mundo são avaliados de acordo com Alpha Value  em  693000 mil milhões , que a referida caixa  de mutualização não poderá assumir, etc.). Ainda aqui há mais um possível catalisador potencial: o sexto.

– Face ao  primeiro sucesso do  “Tapering”    (redução de 10 mil milhões de criação monetária mensal pelo FED ) do senhor Bernanke, o seu sucessor na direcção do FED, Janet Yellen, observando a forte recuperação da economia dos EUA (4,1% no último trimestre de 2013) decide acabar com a “flexibilização quantitativa” e com os seus efeitos perversos sobre a inflação de activos [20]. Como resultado, uma deflação de todos os activos bancários e um possível pânico financeiro… afectando aqui prioritariamente os países com desequilíbrios externos. Aqui, de novo, mais um  potencial catalisador: o sétimo.

Seria certamente possível multiplicar as situações concretas que poderão estar  na origem do desencadear de um novo pânico financeiro.

Neste contexto 2 aspectos devem ser evidenciados:

Em primeiro lugar, a existência de um ambiente muito propício ao contágio: perda generalizada das legitimidades políticas [21],  recuo geral da razão em face do disparar de quadros sociais fortemente emocionais, aumento em forte crescendo do individualismo radical  e dos efeitos miméticos, tipo os do  rebanho de carneiros de Panurge, tudo   isto facilitado  pelas interligações   que se processam  à velocidade da luz.

Então as probabilidades de ocorrência dos eventos detonadores da crise  acima assinalados não são provavelmente independentes, uma vez que cada um deles pode  agir sobre todos os outros, e muitos podem  mesmo funcionar  como catalisadores dos outros , em que cada pode facilitar a  eclosão   de um outro ou mesmo de todos os outros.

Conclusão

Sabendo que uma nova crise financeira   não controlada provocaria a completa desintegração do tecido social (a moeda é também o que “segura” as relações sociais e que a preserva da violência imediata), por um lado, e que.  por outro lado, os Estados já não têm os meios, nem credibilidade para retomar “em  grande” o procedimento dos resgates  ” bail-out ” tipos de 2008, nem  o procedimento dos  “bail-in”.

-insuportável para os credores e os depositantes – parece-me claro que as moedas serão renacionalizadas. Portanto,  será determinado  o fim da independência dos bancos centrais.

É pois a isto que conduz  o raciocínio. O problema é agora o de imaginar o novo arranjo institucional que deverá surgir, particularmente na Europa.

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[11]  Números para o final de  2013, fornecidos por  XERFY.

[12] 3,75  mil milhões de  euros  foram assim levantados sobre   10 anos à taxa de  3,543%.

[13] Cf Charles Gave no seu artigo de 13 de Janeiro de  2014 : http://institutdeslibertes.org/le-chemin-de-croix-europeen-deuxieme-station/

[14]   Tratando-se da França,   Altares et Alpha Value (21 janvier 2014) confirmam o recuo  contínuo do investimento das PME :  14,4% de Ebitda e 1% do valor de negócios em  2008   e somente de  10,9% de Ebitda e  0,77% do  valor d enegócios   em 2014. O INSEE confirma  que o investimentlo global desceu de  1,8% em  2013 depois de ter descido 1,9% em 2012.

[15]   Na concepção de  Nassim Nicholas Taleb.

[16]Incluindo o   que se refere aos rácios de alavancagem e liquidez, veja-se os  cálculos de ponderação dos activos.

[17]  A política do bail-in  foi validada em   Bruxelas, 11 de Dezembro de 2013,  e  considera que  os accionistas e os detentores de dívida  deverão participar até ao nível  de  8% do custo do naufrágio.  A sua aplicação foi  adiada para o dia 1 de Janeiro de 2016  mas  isso   não altera em nada a existência de uma bomba  potencial até 2014

[18]   Note-se  que o primeiro-ministro britânico, confrontado com um problema semelhante (mas muito menos grave), com a Escócia, assume a liderança e quer tranquilizar os mercados, proclamando que a dívida total permanecerá sob o controle de Londres. Claramente, é mais barato pagar para a Escócia, do que ver disparar as taxas de juro para o Reino Unido como um   todo.

[19]   Leia-se um excelente registo da revista “política externa (IFRI, inverno 2013-2014, Vol 78) intitulada: «Pode a Europa rebentar ?».»  Os autores insistem na dupla vulnerabilidade do contrato social ‘Estados e sociedades civis’ e ‘ populações e a UE “.

[20] Os efeitos do fim dos “Tapering ” são em teoria muito muitos: a modificação da relação oferta e a procura de títulos leva à  realocação de  carteira dos agentes  com também a venda de activos estrangeiros, diminuição na taxa de câmbio nos países  emergentes e diminuição da  sua base monetária. Processo que  foi muito  marcado neste Verão de 2013.

[21] Jacques Sapir evoca   a ideia de uma   guerra civil fria  ». Veja-se:  http://forumdemocratique.fr/2014/01/17/la-guerre-civile-froide-par-jacques-sapir/

 

Texto reproduzido de :

http://www.lacrisedesannees2010.com/article-probabilite-et-mode-de-gestion-d-une-prochaine-crise-financiere-122220217.html

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Para ler a Parte I deste artigo de Jean-Claude Werrebrouck, publicada ontem em A Viagem dos Argonautas, vá a:

PROBABILIDADE E MODO DE GESTÃO DA PRÓXIMA CRISE FINANCEIRA – por JEAN-CLAUDE WERREBROUCK

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ver:

http://www.lacrisedesannees2010.com/article-probabilite-et-mode-de-gestion-d-une-prochaine-crise-financiere-122220217.html

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