UMA PROPOSTA DE LEITURA SOBRE MULTIPLICADORES DE RENDIMENTO – apresentada por JÚLIO MARQUES MOTA

Falareconomia1

Uma proposta de leitura sobre multiplicadores de rendimento

Meus caros

Uma série de três artigos que deveriam estar marcados pelo tempo e desinteressantes por isso mesmo, não fora a crise, não fora a Troika, não fora o BCE, o FMI, a Comissão que com as suas políticas de austeridade lhes conferiram uma extrema actualidade. Com efeito, ao terem estas Instituições, isoladamente ou em conjunto, organizado aquilo que me parece ser a maior mistificação do que pode ser entendido como economia,  os multiplicadores negativos ou muito baixos, vieram assim a dar muita importância  aos textos que agora apresentamos. Com estes multiplicadores se justificaram e justificam assim as políticas de austeridade à escala europeia, a explicarem-nos assim que à medida que vamos todos ficando cada vez mais pobres maior é a probabilidade de que, a prazo e se não morrermos, podermos ficar mais ricos. Por esta razão estes textos porque desmontam as manipulações até ao limite que foram feitas para obter aqueles resultados são de uma extrema acuidade hoje, para não dizer de leitura obrigatória para quem é de economia ou economia quer saber.

Os textos devem ser lido nas ordem indicada no texto anterior e que a estes serviu de introdução, Algumas considerações sobre a necessidade de um debate nacional e europeu e também sobre as razões pelas quais votarei Seguro – assim como uma sugestão para a leitura de três textos de economia, onde se dizia:

Tudo isto reforça a minha opinião de que é assim útil a leitura dos textos sobre multiplicadores de Bill Mitchell que aqui apresentamos pela sequência que se segue:

1. Texto nº 1. O multiplicador pela Ótica da Despesa

2. Texto nº 2. A impulsionar o carrinho da fantasia ( e das ilusões )

3. Texto nº 3 Ninguém aumenta a despesa, cortando-a.

O primeiro texto explica minuciosamente o que é o multiplicador; Já o segundo explica e de que maneira as manipulações que os mais relevantes economistas neoliberais tiveram a ousadia de realizar e de difundir para nos tentarem convencer de que o caminho para a saída da crise era de sentido único e com duas faixas, portanto, austeridade e mais austeridade, desregulação sobre desregulação dos mercados de trabalho; uma análise minuciosa acerca do fracasso brutal das políticas seguidas no quadro europeu, é realizada no terceiro texto. Trata-se pois de três textos que consideramos fundamentais não só para perceber a crise mas também a explicar-nos que há outro caminho, outras políticas, o caminhos certo e as políticas certas para se sair da crise. Documentos a ler, portanto.

Sublinho ainda que o texto nº 1, a explicação do que são os multiplicadores para quem não é de Economia ou que por esta ciência já passou há muito tempo, não é uma tradução fiel ao autor na medida em que foram feitos e inseridos dois ou três desenvolvimentos que não constam no texto original, em particular, no que se refere à tabela que expressa os efeitos de uma só injecção de rendimento como política de expansão e que é transposta, no quadro da mesma política de expansão, para dar também os efeitos de uma injecção repetida anualmente, ou seja, para nos dar o montante de uma variação anual sustentada do rendimento.

O texto anterior e acima citado propunha um debate franco, aberto, entre as diversa linhas de esquerda à volta das grandes questões de Economia. Evidentemente a eficácia desse debate, ou seja, a recepção das ideias que aí possam ser defendidas depende da cultura geral em matéria de economia ou do trabalho pedagógico prévio e em paralelo a ser feito para ultrapassar limitações quanto à percepção sobre os desenvolvimentos a dar a esta sproblemáticas. É também um pouco a ideia de divulgação destes três textos.

Sobre a divulgação que agora iremos fazer em A Viagem dos Argonautas sejamos claros, os textos aqui apresentados tratam de matéria que, salvo a primeira parte do primeiro, nunca me foram ensinadas e tive como professor aquele que para mim e nestas temáticas foi o meu melhor professor de Economia, Francisco Pereira de Moura. Não o foram, e porquê? Porque naquele tempo não havia descaramento intelectual ao nível dos economistas dominantes para se levantarem hipóteses tão fantasistas como as que agora se levantam para “fabricar” os tais multiplicadores negativos e estas são tais e tantas que enchem múltiplos carrinhos de fantasia como nos fala o texto nº 2 e de que o texto do Apelo de Hamburgo de já falámos é um bom exemplo. Muitos dos ilustres economistas alemães assinaram um documento em 2005 a defender a existência de multiplicadores negativos, um texto que mais tarde parece ter sido bem estudado e aplicado pela Troika. Portanto, estes textos agora apresentados não seriam matéria ensinável no ISEG em 1972, porque eram matéria inimaginável então. Mas o neoliberalismo é o que é, e desde que lhes sirva os interesses de classe que tão tenazmente defendem, tudo é justificável, até a morte da vergonha! Mas se estas matérias não eram imagináveis então, agora, encarregam-se as três instituições citadas de financiar “ a sua produção” , de pagar a sua divulgação. E tudo isto feito pela nata da nata dos economistas neoliberais. E o amargo da questão será questionar em quantas Universidades portuguesas o tipo de textos aqui apresentados são ENSINADOS, QUESTIONADOS, DISCUTIDOS e a partir da consistência (ou da falta de ) das suas próprias hipóteses para assim se “construírem” mentalidades abertas, capazes de poderem perspectivar os problemas de hoje que se vão desencadear amanhã? Em quantas? Não sei, e até porque, parafraseando Paul Valery as Universidades de hoje já não são o que eram, a sua missão, sobretudo desde Bolonha, já não tem nada a ver o que esta FOI anteriormente. E quanto aos seus licenciados passámos de criar jovens capazes de interrogar o presente para recriar o futuro para termos agora sobretudo jovens moldados e de ignorância geralmente certificada pelos correspondentes diplomas que faz deles agentes não para serem capazes de pensar sobre o que têm de decidir mas apenas para realizar as rotinas que por outros lhes impostas, quando ainda se tem a felicidade de ter rotinas a cumprir. Cursos relâmpagos, cargas de esforço mínimas, mestrados a garantir receitas e não hierarquias de estudantes, onde por isso praticamente ninguém reprova, turmas sobredimensionadas a impedir uma aprendizagem decente, professores sobretudo virados para a sua produção curricular devido à famosa avaliação dos docentes, parece que o menos relevante é exactamente ensinar e o resultado de tudo isso é hoje bem evidente, indiscutivelmente evidente. A geração de cientistas de que tanto se orgulhava Mariano Gago deixará de ser reproduzida, a partir exactamente das suas políticas quanto ao ensino superior e que entretanto se agravaram quase que ao infinito com a actividade e a prática de Nuno Crato, um dos verdadeiros coveiros da inteligência deste país. Mas toda a gente se cala, mesmo quando ainda pode ter razão. Veja-se os insultos feitos aos licenciados que ainda não têm cinco anos de serviço, aos “produtos das nossas Universidades”, insultos ferozes e sem sentido a não ser o da prepotência que são desencadeados pelo ministro Nuno Crato, ouça-se sobre isso o silêncio confrangedor dos nossos Reitores, e percebemos: as Universidades também estão elas em vias de extinção, à beira da morte.

Tempos difíceis e destes tempos e sobre o seu ensino das matérias referidas nos textos apresentados e nos moldes aqui expostos, apenas vos deixo esta questão em aberto: em quantas Universidades actualmente estas problemáticas são desenvolvidas?

 O pior está para vir, avisa-nos a Cruz Vermelha Internacional, se nada se fizer para o impedir mas para isso e disso temos que ter consciência. Não nos esqueçamos.

E, por fim, votos de boa leitura a que acrescento os meus pedidos de desculpa pela liberdade tomada relativamente a estas matérias, relativamente ao envio destes mesmos textos. Aos que não são de economia, as minhas desculpas se os acham duros de ler e resistentes a uma leitura mais apresada, aos que pelos cursos de economia já passaram e a saber bem mais do que eu, direi apenas que tenho a alegria de apresentar textos que na Faculdade onde aprendi e na altura em que o fiz nunca poderiam ser leccionados.

Júlio Marques Mota

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