UMA CARTA DO PORTO – Por José Magalhães (61)

 

CARTA DO PORTO

 

 

PORTO, CIDADE ÚNICA

Da sua arquitectura antiga e elegante ou moderna e premiada até à sua gastronomia, da riquíssima vida cultural à “movida” agitada e cada vez mais frequentada, das lojas centenárias às mais recentes e modernas, a cidade do Porto, que soube preservar e valorizar o seu património cultural, histórico e ambiental, é ÚNICA.
A sua maior virtude, o que mais capta a atenção e o amor dos nossos visitantes, o que primeiro impressiona quem nos visita, é a hospitalidade das nossas gentes.
Com prazer, gosto e muita afabilidade, o Porto faz com que o visitante se sinta em sua própria casa, moldando-o à sua imagem, e contagiando-o com os seus movimentos ritmados e sedutores, como se o próprio tempo parasse, e assim cria um efeito viral que a tem tornado na cidade sensação dos últimos anos.
O Porto é informal, aconchegante e simpático, impele o visitante a relaxar, impele-o à preguiça, à nostalgia e à meditação, fazendo com que saia de cá revigorado, luminoso e limpo.
Quem nos visita encontra por cá uma outra, e nova, dimensão do tempo.

 

ESTÁ TUDO DOIDO, SÓ PODE SER DO TEMPO!

Eram cerca de nove e um quarto da manhã quando cheguei. O Centro Comercial ainda estava fechado.
Dirigi-me para a zona da restauração e sentei-me numa das mesas. Tudo deserto. De repente, e lá do fundo, uma voz esganiçada:
– Num bê que ainda estamos em limpezas? Num tem olhinhos na cara?
Aquela interpelação mal educada teve o condão de me irritar, mas as palavras que me bailaram de imediato nos lábios não saíram, conforme me apeteceu. E pensei
– Ó sua parvalhona, veja lá como fala. … estúpida!
Não que ela me tivesse ouvido, mas continuou:
– Está a escreber, escreba lá o que quiser a ber se m’importo.
– Parva, estúpida, parvalhona.
Berrei-lhe em silêncio enquanto me dirigia para outras mesas, onde a luz mal chegava.
Entretanto a loira empregada de limpeza lá ia arrastando cadeiras, fazendo o possível para, de uma maneira que ela quereria que se tornasse insuportável para mim, aumentar o pouco ruído que ainda havia no Shopping.
E dei comigo a pensar:
O que o calor destes dias de fim de Outubro faz às pessoas. Tudo anda contra natura, tudo está ao contrário. A temperatura excessiva baralha os neurónios e as pessoas já não se sabem comportar.
Anda tudo doido!
Conquanto irritado, tratei de não dar mais importância ao assunto, mas o bater descompassado do meu coração, demorou a regularizar, tanto tempo quanto me demorou a escrever estas poucas linhas.
– Raios partam a mulher!  voltei a pensar como se berrasse, antes de enveredar por outros mais interessantes, muito embora motivados por estes, mais recentes pensamentos.
E por falar em doidices.

No passado dia 25, e contra as minhas usuais vontades, entrei nesse mesmo “Shopping” para procurar um artigo que só lá me lembrava que poderia encontrar. Enquanto procurava a casa que me interessava, tive de percorrer dois dos corredores, compridos e cheios de lojas.
Fiquei confuso!
Todas as lojas estavam já a vender artigos para o Natal, e o Natal, que me lembre, cá em Portugal, e no Porto em especial, é só daqui a dois (DOIS) meses!

O Natal em Outubro, num Centro Comercial dos arredores do Porto
O Natal em Outubro, num Centro Comercial dos arredores do Porto

Realmente o calor a que não se está habituado, faz mal à cabeça das pessoas.
Já não nos bastava andarmos a comer castanhas assadas na praia, tomarmos banhos, no mar do Porto, com água a mais de vinte graus de temperatura, ou termos deixado de ter cimbalinos e boas torradas de pão de forma, e já ninguém saber o que é uma mirita?
Agora o Natal está já por todo o lado, em todo o canto e esquina, da mesma forma que em Agosto as casas de roupa já nos incentivavam a comprar as roupas de Outono/Inverno, e, em pleno começo do verão, já faziam saldos das roupas daquela estação.
Sabem que os saldos de Inverno, começam a 26/27 de Dezembro, escassos dias depois do dito começar?
Portugal está cada vez mais a tornar-se um País em saldo. Até nestes capítulos.
É verdade que as estações, já quase não existem, que está tudo trocado, que estamos a aquecer e que qualquer dia fazemos, no Porto, praia no dia 25 de Dezembro, mas, caramba, parece-me que estamos a exagerar, e que ninguém sabe muito bem o que deve fazer e como.
E o maior problema é que, quando se não sabe o que se deve fazer, ou como, lá aparecem uns iluminados a fazer mal e a mandar pior, e a prejudicar quem não o faz, ou faz pouco e bem.

Deus vos ajude, Portugueses, e a mim me não desampare!

 

 

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